Se já não bastasse a violência como ação de influência negativa na imagem de uma das cidades mais imagéticas do planeta, a transformação de um dos ícones da paisagem do turismo mundial, a Baía de Guanabara, como garagem das plataformas de Petróleo, tem proporcionado uma profunda reflexão sobre os efeitos e alterações no design de um Patrimônio Mundial da Humanidade como Paisagem Cultural. O Rio passou a ser a primeira área urbana no mundo a ter reconhecido o valor universal de sua paisagem urbana.
O referido título, aprovado na 36ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial da UNESCO, reunido na cidade de São Petesburgo na Rússia no ano de 2012, foi efetivamente entregue em histórica solenidade na cidade do Rio em 13/12/2016. O Rio passou a ser a primeira área urbana no mundo a ter reconhecido o valor universal de sua paisagem urbana. Entre os elementos que contribuíram para a conquista do título estão o Pão de Açúcar, o Corcovado, a Floresta da Tijuca, o Aterro do Flamengo, o Jardim Botânico, a praia de Copacabana e a Baía de Guanabara.
Embora a imagem e a paisagem natural não sejam evidentemente as únicas causas que tenham influência decisória de visitação a um destino turístico, alterações radicais, tal qual observado, pode efetivamente influir na percepção da imagem, descaracterizando o ambiente, o design natural e a estética consolidada. Outro fator relevante está relacionado a associação da paisagem da Baía de Guanabara à indústria do petróleo, entendida como uma das principais causas da crise ambiental vivenciada em todo o mundo.
Devemos levar em consideração a força do turismo da natureza no Brasil e muito particularmente nas cidades do Rio de Janeiro e Niterói como ícones da beleza natural. Em um contexto relacionado particularmente ao turismo, podemos afirmar que os quatro atrativos turísticos mais visitados das cidades do Rio de Janeiro e de Niterói, Corcovado e Pão de Açúcar, MAC e Parque da Cidade em São Francisco, respectivamente, tem a paisagem como forte diferencial à visitação.
Para o então representante da Unesco no Brasil, Lucien Muñoz, a convivência da Cidade Maravilhosa com sua rica paisagem natural indica desafios permanentes para assegurar a perenidade dos atributos únicos que levaram a cidade a ser inscrita na Lista do Patrimônio Mundial da Unesco.
Além da Paisagem Cultural do Rio de Janeiro, o Brasil conta hoje com outros 18 bens culturais e naturais na lista de 962 bens reconhecidos pela UNESCO em todo o mundo.
Os bens culturais no Brasil estão compostos por: Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Ouro Preto, Minas Gerais (1980); Centro Histórico de Olinda, Pernambuco (1982); Ruínas de São Miguel das Missões, Rio Grande do Sul (1983); Santuário do Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas, Minas (1985); Centro Histórico de Salvador, Bahia (1985); Conjunto Urbanístico de Brasília, Distrito Federal (1987); Parque Nacional Serra da Capivara, Piauí (1991); Centro Histórico de São Luís, Maranhão (1997); Centro Histórico de Diamantina, Minas (1999); Centro Histórico de Goiás, Goiás (2001); Praça de São Francisco em São Cristóvão, Sergipe (2010).
Já os bens naturais são: Parque Nacional do Iguaçu, Paraná (1986); Costa do Descobrimento, Bahia e Espírito Santo (1999); Reserva Mata Atlântica, São Paulo e Paraná (1999); Parque Nacional do Jaú, Amazonas (2000); Pantanal Mato-grossense, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (2000); Reservas do Cerrado: Parque Nacional dos Veadeiros e das Emas, Goiás (2001); e Parque Nacional de Fernando de Noronha, Pernambuco (2001).
A natureza do jogo que a imagem da Baía de Guanabara nos propõe e dos afetos que ela suscita, deve ser refletida no contexto dos interesses alargados, públicos, independente dos interesses financeiros e políticos inerentes a Indústria do Petróleo e Gás. Afinal, o petróleo tem prazo, o turismo pode ser permanente. Cabe a nós decidir.
