DICAS DE PSICOLOGIA – A adolescência é caracterizada atualmente pela transição entre a infância e a vida adulta. Esta é uma fase de muitas mudanças. O corpo se desenvolve, há diversas alterações hormonais que influenciam não apenas no crescimento, mas também no comportamento; o pensamento começa a se modificar, já não ficando limitado à realidade concreta, mas expandindo-se para as inúmeras possibilidades de realidade; junto com as novas capacidades surgem novos interesses, o desejo de fazer parte do mundo, de sentir-se importante, de criar uma identidade única; as expectativas sobre as descobertas e as experiências sexuais; e outras responsabilidades, medos, inseguranças, sentimentos diferentes que passam a fazer parte de seu cotidiano. Só com este breve resumo, já se pode perceber que este pode ser um processo complexo e para muitas pessoas pode não ser fácil viver esse momento.
Muitos pais perguntam como fazer para se aproximar do adolescente, questionam porque eles evitam conversas, não querem ficar com a família, não gostam mais de passar o tempo com os pais, preferem os amigos. Bem, o primeiro ponto é pensar em tudo o que eu disse acima: o que o adolescente está vivendo. Depois de refletir, tentar entender um pouco mais a cabeça dessa pessoa. Você pode lembrar-se de como foi a sua adolescência. Mas não é para comparar! Cada indivíduo tem uma personalidade, tem experiências e sentimentos únicos. Tente trazer à memória seus pensamentos, seus medos, suas vontades, seus gostos, a relação com os seus pais e com os seus amigos na época. Chegou aos 13 anos? Sentiu a mudança aos 15? E como você já estava diferente aos 17?
Esse é um exercício inicial de empatia. Empatia não é colocar-se apenas no lugar do outro, do tipo “o que eu faria no lugar dele”, mas tentar olhar o mundo com os olhos daquela pessoa. E nesse momento, valoriza-se ainda mais uma comunicação de qualidade, como venho frisando nos meus artigos. Estabelecer um espaço de diálogo, de compreensão e abertura, é um ideal na relação com os filhos desde a infância. Mas se não foi possível criar esse ambiente na sua família, não se preocupe, ainda é tempo de arrumar as coisas. Você pode começar tentando participar mais da vida do seu filho ou da sua filha de forma simples. Compartilhar as refeições, assistir um filme juntos (deixe que ele/ela escolha ou decidam juntos, aproveite pra trocar idéias), jogar um jogo, ou mesmo videogame, fazer um passeio, chamar para ir tomar um suco. Procure interesses em comum. Muitas coisas que podem ser tentadas.
Aí você vira e fala “Ah, mas eu já tentei tudo! Minha filha não quer fazer nada junto comigo! E ainda revira os olhos quando eu chamo!”. É, isso pode acontecer. Cabe também reconhecer o espaço do adolescente. Se ele quer ficar sozinho, se quer estar com os amigos, ou até quando fica com a família, ou escolhe algum familiar que não seja você. Ele precisa sentir que é respeitado também, que é aceito, que ele tem um espaço na casa, que ele pode ter autonomia e fazer suas escolhas.
O importante é você saber o que está acontecendo. Observe. Como ele/ela se sente, se está usando drogas, se não está com problemas, se sofre por algum motivo, se tem questões com a escola ou com os colegas, se está muito isolado. Recentemente, muito tem se falado sobre a questão do suicídio entre os jovens, e o diálogo é o maior aliado que os pais e familiares podem ter. Buscar saber o que se passa na cabeça do adolescente, como ele está experimentando a vida, no que ele acredita, como se vê, como percebe o mundo e as pessoas a sua volta, o que é importante na sua vida, o que gosta e o que não gosta, o que acha que é bom para si e o que é ruim.
Pode não ser fácil para você se aproximar. Pode também não ser fácil para o seu filho ou filha conversar com você sobre a sua vida. Mas é um esforço essencial e que faz toda a diferença agora e fará a diferença também na vida adulta, nos caminhos escolhidos, nas crenças construídas, nas relações estabelecidas. E se você é adolescente e está lendo tudo isso, pode acreditar em mim: se seus pais demonstram preocupação com você, se tentam conversar, se insistem na sua presença, eles não estão fazendo só para te irritar ou porque acham que você ainda é criança. Eles realmente se importam. E pode parecer difícil imaginar, mas muitas vezes eles podem ajudar, e até dar “aquela luz” que você estava precisando.
A convivência em qualquer tipo de relação é sempre um exercício que exige investimento, esforço, boa vontade, paciência e acreditar no benefício. Acreditar que a presença de um faz a diferença na vida do outro, e que a velha frase “juntos somos mais fortes” não é só um slogan para imagens nas redes sociais.
O tema da semana que vem está em aberto. Mande suas sugestões. Que tema você gostaria que fosse explorado por aqui? Aproveite! Até lá.
Ana Claudia Marques – Psicóloga
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