Saúde

Laboratório investigado por contaminação de transplantados por HIV é de primo de deputado

Entenda a polêmica envolvendo o laboratório PCS LAB e a contaminação de transplantados por HIV e sua relação com deputado.

Reprodução/PCSLAB
Reprodução/PCSLAB

Dois dos três sócios do laboratório PCS LAB, envolvido na contaminação de seis pacientes com HIV após transplantes de órgãos no Rio de Janeiro, são parentes do ex-secretário de estado de Saúde e atual deputado federal Dr. Luizinho (PP). O parlamentar, que lidera o Partido Progressistas (PP) na Câmara dos Deputados, ainda exerce influência nas ações da Secretaria de Saúde, embora não esteja mais à frente da pasta. Durante sua gestão, o PCS LAB passou a prestar serviços ao governo estadual.

Parentesco entre sócios do laboratório e Dr. Luizinho

Os sócios Walter Vieira e Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira são tio e primo de Dr. Luizinho, respectivamente. Walter Vieira, que é casado com a tia do deputado, tem seu CRM (registro médico) vinculado aos documentos do PCS LAB, enquanto Matheus Sales, filho do casal, aparece como representante do laboratório em várias assinaturas de contratos.

Contrato milionário com o Governo do Estado

O PCS LAB, com sede em Nova Iguaçu (RJ), foi contratado em outubro de 2023 pela Fundação Saúde, ligada à Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro. O contrato, no valor de R$ 3,9 milhões, abrange um período de 180 dias. O laboratório é responsável pelos exames de doadores de órgãos, área onde ocorreram os erros que resultaram nas contaminações.

Primeira notificação e consequências

A primeira notificação de contaminação ocorreu no dia 10 de setembro. Os exames realizados em dois doadores de órgãos soropositivos indicaram, erroneamente, resultados negativos para HIV, resultando na infecção de seis pacientes transplantados. Desde então, o laboratório foi interditado e o Hemorio assumiu a responsabilidade pelos testes, examinando amostras de mais de 280 doadores para garantir que não haja novos casos de infecção.

Declaração de Dr. Luizinho e ações do laboratório

Em nota, o deputado Dr. Luizinho lamentou profundamente o ocorrido e afirmou que conhece o laboratório há mais de 30 anos, inicialmente dirigido pelo pai de Walter Vieira. O parlamentar defendeu que as investigações resultem em punições exemplares para os responsáveis por esses “gravíssimos casos de contaminação”.

Dr. Luizinho | Divulgação

“Conheço o Laboratório Saleme há mais de 30 anos, dirigido pelo Dr Montano e posteriormente por seu Filho Dr Valter Viera (casado com a irmã da minha mãe, Ana Paula) e suas irmãs. Lamento veementemente o ocorrido, desejando ao fim das investigações punição exemplar para os responsáveis por esses gravíssimos casos de infecção.

Enquanto Secretário de Estado de Saúde , mantive a mesma equipe do Programa Estadual de Transplantes da gestão anterior e jamais participei da contratação deste ou de qualquer outro Laboratório.

É muito triste como um dos maiores defensores do Transplantes no País, cuja minha vida pública está marcada pela ampliação do número de transplantes no Estado, ver casos graves como esse! Espero punição aos responsáveis, independente de quem for.” afirmou Doutor Luizinho em Nota.

O que diz o laboratório

O laboratório PCS também se manifestou, afirmando que abriu uma sindicância interna para apurar as responsabilidades e que está colaborando com as investigações. A empresa garantiu que utilizou kits de diagnóstico recomendados pelo Ministério da Saúde e pela Anvisa e se comprometeu a oferecer suporte médico e psicológico às vítimas e seus familiares.

“O laboratório PCS Lab abriu sindicância interna para apurar as responsabilidades do caso envolvendo diagnósticos de HIV em pacientes transplantados ocorridos no Estado do Rio de Janeiro. Trata-se de um episódio sem precedentes na história da empresa, que atua no mercado desde 1969.

O laboratório informou à Central Estadual de Transplantes os resultados de todos os exames de HIV realizados em amostras de sangue de doadores de órgãos entre 1º de dezembro de 2023 e 12 de setembro de 2024, período em que prestou serviços à Fundação de Saúde do Governo do Estado. Nesses procedimentos foram utilizados os kits de diagnóstico recomendados pelo Ministério da Saúde e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O PCS Lab dará suporte médico e psicológico aos pacientes infectados com HIV e seus familiares; e reitera que está à disposição das autoridades policiais, sanitárias e de classe que investigam o caso.” diz a nota do laboratório PCS Lab.

O que a Secretaria de Estado de Saúde (SES)

“A Secretaria de Estado de Saúde (SES) considera o caso inadmissível. Uma comissão multidisciplinar foi criada para acolher os pacientes afetados e, imediatamente, foram tomadas medidas para garantir a segurança dos transplantados.

O laboratório privado, contratado por licitação pela Fundação Saúde para atender o programa de transplantes, teve o serviço suspenso logo após a ciência do caso e foi interditado cautelarmente. Com isso, os exames passaram a ser realizados pelo Hemorio.

A Secretaria está realizando um rastreio com a reavaliação de todas as amostras de sangue armazenadas dos doadores, a partir de dezembro de 2023, data da contratação do laboratório.

Uma sindicância foi instaurada para identificar e punir os responsáveis. Por necessidade de preservação das identidades dos doadores e transplantados, bem como do encaminhamento da sindicância, não serão divulgados detalhes das circunstâncias.

Esta é uma situação sem precedentes. O serviço de transplantes no Estado do Rio de Janeiro sempre realizou um trabalho de excelência e, desde 2006, salvou as vidas de mais de 16 mil pessoas.” diz a nota da SES.

Investigação em andamento

O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) está investigando o caso, considerado um episódio sem precedentes no Brasil. As autoridades de saúde trabalham para garantir que novas contaminações não ocorram e para responsabilizar os envolvidos.