Segundo psicóloga, gatilhos que despertam as condições foram agravados no ano de 2020
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmam: o Brasil enfrenta uma epidemia de ansiedade, sendo o país com o maior número de ansiosos no mundo – cerca de 18 milhões de pessoas. Além disso, por causa da pandemia, profissionais da saúde têm observado aumento na busca por tratamentos para transtornos psicológicos.
A campanha Janeiro Branco propõe a tomada de consciência sobre esse tema ainda negligenciado por muitos.
De acordo com Marcely Quirino, psicóloga do Complexo Hospitalar de Niterói (CHN), o isolamento social e o desconhecimento acerca da Covid-19 foram dois dos principais gatilhos que promoveram um aumento na busca por tratamento. “O Brasil já apresentava um grau elevado de ansiedade na população, e os gatilhos que geravam esse problema foram agravados com a pandemia. O medo de ser infectado ou de infectar e perder um ente próximo, além do estresse gerado pelo isolamento, são fatores que influenciam fortemente a saúde mental de todos”, explica.
A especialista afirma que, no ano de 2020, 60% dos atendimentos do serviço de psicologia hospitalar apresentavam solicitações por padrões de ansiedade e humor deprimido. “Muitas vezes, pacientes que precisavam ser hospitalizados, fazer intervenções cirúrgicas ou até mesmo exames simples por razões diversas, ao se encontrarem nesse ambiente, demonstraram sintomas ansiosos por medo da infecção.”
Ao todo, o hospital contabilizou cerca de 600 atendimentos presenciais na unidade preparada especialmente para suspeitas de Covid-19, bem como 109 atendimentos por telefone e 237 virtuais. Uma constante, no entanto, foi o estado emocional afetado. “Para muitos, os próprios sintomas da doença geravam gatilhos. As dores e a dificuldade para respirar agravava ainda mais o estado psíquico abalado”, comenta Quirino.
Para Marcely, campanhas como o Janeiro Branco são muito úteis para que a sociedade esteja mais preparada para lidar com a prevenção e o tratamento de problemas da saúde mental. “Faz muita diferença quando percebemos que não estamos sozinhos e temos uma rede de apoio. Atitudes como manter uma rotina saudável, com prática de exercícios físicos, alimentação balanceada e noites bem-dormidas, provêm imunidade para o corpo e fazem bem para a mente. Além disso, é preciso se afastar dos gatilhos – mesmo que sejam notícias – e saber a hora de buscar ajuda quando necessário”, explica.
A psicóloga afirma que algumas lições valiosas foram possíveis por causa da pandemia. “Acima de tudo, essa situação nos ensinou a valorizar cada momento, a olhar para nossos familiares e entes queridos como mais zelo e mais prazer e a exercer a gratidão por coisas simples – como respirar ou abrir os olhos. E para os que não estão mais conosco, a carregar seus legados e mantê-los vivos dentro de nós.”
Quanto à relação entre pais e filhos, Marcely aconselha que haja abertura no diálogo. “É provável que o retorno à escola seja gradativo, ainda com bastante dependência da educação a distância. A criança e o jovem têm boa capacidade de adaptação ao meio – muitas vezes melhor do que os adultos. No entanto, nesse cenário, os pais devem saber se comunicar sobre o que gera insegurança, desconfiança ou medo e ficar à frente para construir, com a escola, os novos métodos de ensino.”