A doença renal crônica (DRC) é uma das patologias que mais crescem no mundo, atingindo 840 milhões de pessoas. No Brasil, a estimativa do Ministério da Saúde é que mais de 10 milhões de brasileiros tenham algum grau de comprometimento renal. A lesão causa a perda gradual e irreversível da função dos rins, com impacto na vida das pessoas e nos sistemas de saúde. Para conscientizar a população sobre essa doença, o mês de março reserva o dia 10 para informar a comunidade sobre a importância do diagnóstico precoce da DRC, já que esta é a principal causa de transplantes renais, como informa o dr. Alan Castro, nefrologista do Complexo Hospitalar de Niterói (CHN) e coordenador do Serviço de Transplante Renal da unidade. Segundo ele, somente no ano passado foram realizados 23 transplantes renais no CHN, totalizando 43 durante a pandemia.
De acordo com o médico, a função dos rins é filtrar o sangue e eliminar todas as impurezas e toxinas do organismo, e ter alguns cuidados durante a vida é fundamental para que a doença renal crônica não se desenvolva. Para falar mais sobre a DRC, o especialista responde as principais dúvidas, a seguir.
Qual a importância do funcionamento dos rins para o organismo?
Dr. Alan Castro: Os rins são responsáveis pelo equilíbrio do líquido que envolve todas as nossas células. Fazem isso durante 24 horas, filtrando 1.700 litros de sangue por dia e eliminando mais de 120 substâncias não desejáveis ao corpo pela urina. Além disso, possuem funções endócrinas, ou seja, atuam na pressão arterial, no estímulo à produção de sangue e no metabolismo dos ossos.
Quais são os tipos de doença renal?
Dr. Alan Castro: Existem dois tipos de doença renal: a aguda e a crônica. A injúria renal aguda é um conjunto de síndromes que foi definido por consenso pela diminuição do funcionamento dos rins num período inferior a sete dias. Já a doença renal crônica é quando a diminuição for superior a três meses ou se houver algum dano estrutural nos rins.
Quais os principais sintomas que servem de alerta?
Dr. Alan Castro: Essa perda de funcionamento pode ser lenta e assintomática, somente nos estágios mais avançados é que a pessoa vai apresentar cansaço, inchaço, aumento da pressão arterial, perda de apetite, enjoo e vômitos.
Quais são os principais tipos de tratamento?
Dr. Alan Castro: Somente quando chega ao estágio de falência renal funcional é que a pessoa vai precisar de alguma terapia de substituição da função renal. O tratamento ideal ainda é o transplante renal, que garante melhor qualidade de vida e sobrevida que a diálise. Quando o transplante não for possível, a pessoa precisa fazer diálise, que pode ser pelo sangue (hemodiálise) ou pela barriga (diálise peritoneal). A tecnologia e o acesso a essas terapias melhoraram muito nas últimas seis décadas desde que foram criadas. O ideal é que a pessoa receba acompanhamento prévio com nefrologista, tenha acesso a todas as informações necessárias e tome uma decisão compartilhada com o nefrologista.
O transplante é realmente eficaz?
Dr. Alan Castro: Sim, principalmente o transplante renal preemptivo, que é realizado antes de a pessoa fazer diálise.
Qual a melhor forma de prevenção?
Dr. Alan Castro: O risco de desenvolver doença renal crônica (DRC) é mais elevado nas pessoas diabéticas, hipertensas, tabagistas, com sobrepeso/obesidade e parentes com DRC. Daí a importância de praticar exercícios físicos, não abusar de carne e sal. A mudança do estilo de vida e a adesão ao tratamento não são fáceis. São um desafio para o indivíduo e os profissionais de saúde. Precisamos entender as crenças das pessoas com risco e estimular o autocuidado por meio da educação. Não adianta assustar e criar medo.
Quanto ao diagnóstico precoce, ele é feito pelo monitoramento dos rins, para saber se eles estão começando a sofrer danos, por meio de exame que mede a dosagem da albumina na urina e do acompanhamento da evolução da taxa de filtração glomerular, que é calculada com base no valor da creatinina no sangue.