Política

Niterói é contra redistribuição dos royalties e estuda fundo intermunicipal

A Prefeitura de Niterói propõe fundo de R$ 350 milhões para São Gonçalo, mas rejeita acordo sobre royalties do petróleo.

plataformas de petroleo fundeadas no porto do rio imagens nobrudrone (4)
Plataformas de Petróleo fundeadas no Porto do Rio | Imagens: nobrudrone

Rio de Janeiro - A Prefeitura de Niterói se manifestou formalmente ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a tentativa de conciliação entre os municípios de São Gonçalo, Maricá e Rio de Janeiro em relação à redistribuição dos royalties do petróleo oriundos da exploração na Baía de Guanabara. A manifestação, assinada pela Procuradoria-Geral do Município, afirma que qualquer acordo nesse sentido fere a legislação vigente e ignora os critérios técnicos estabelecidos pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) e pelo IBGE.

Apesar da posição institucional contrária à proposta judicial, o prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, afirmou apoiar a criação de um Fundo Intermunicipal de Desenvolvimento Sustentável, desde que aprovado pelas Câmaras Municipais dos municípios envolvidos. Nesse modelo, Niterói estaria disposta a contribuir com até R$ 350 milhões, destinados a projetos nas áreas de saúde, educação, segurança e mobilidade urbana.

“Niterói tem total disposição para colaborar com o desenvolvimento de São Gonçalo, mas de forma legal, fora da ação judicial em curso. Não existe espaço para jeitinhos quando se trata da Constituição”, declarou Rodrigo Neves.

A Procuradoria de Niterói argumenta que a proposta de conciliação apresentada por São Gonçalo é ilegal e incompatível com a Constituição Federal, além de desrespeitar o artigo 20 e a Lei nº 7.525/86, que regem a distribuição dos royalties de petróleo no Brasil. O documento destaca que essa repartição deve seguir critérios técnicos e geográficos, sendo atribuição exclusiva de órgãos federais como a ANP e o IBGE.

“A matéria é insuscetível de transação. Não se trata de um acordo de vontades entre municípios, e sim da aplicação de normas federais que exigem estrita legalidade”, afirma a Procuradoria.

O município também lembra que a tentativa de acordo foi articulada sem envolver todos os municípios banhados pela Baía de Guanabara, como determina a lógica da ação judicial original — que foi movida contra entes federais e não entre as prefeituras.

Impacto financeiro e disputa no STF

A discussão sobre os royalties do petróleo tem implicações diretas no orçamento de Niterói. Segundo a prefeitura, se a liminar favorável a São Gonçalo — atualmente suspensa — for restabelecida, Niterói pode perder até 25% de sua receita corrente líquida, o que comprometeria serviços públicos essenciais.

A ação judicial movida por São Gonçalo, Guapimirim e Magé tramita há anos no STF, e uma audiência de conciliação entre as partes deverá ser marcada. Hoje, Niterói, Rio e Maricá dividem cerca de R$ 7 bilhões por ano em royalties, enquanto São Gonçalo, Guapimirim e Magé somam aproximadamente R$ 400 milhões.

Com a redistribuição, a estimativa é que São Gonçalo e os demais municípios passem a receber até R$ 1,5 bilhão anuais. Maricá já anunciou a doação de R$ 300 milhões para São Gonçalo. Em resposta, Rodrigo Neves reafirmou que Niterói pode contribuir com até R$ 350 milhões, desde que dentro de um acordo legal, aprovado por todas as instâncias legislativas competentes.

“Estamos abertos ao diálogo e à construção conjunta de políticas públicas regionais. Mas isso deve ser feito respeitando a lei e os princípios da administração pública”, concluiu Neves.