Política

G20, Arariboia, a memória de Niterói e o legado

Mário Sousa, jornalista e escritor

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O que podemos esperar do G20, que aconteceu no Rio de Janeiro, no momento que a Polícia Federal expõe o plano dos golpistas de 2022 para matar Lula, Alckmin e o Ministro do Supremo, Alexandre de Moraes? O presidente mais poderoso do mundo, Joe Biden dos EUA (ou seria Vladimir Putin da Rússia ou Xi Jinping da China?) já havia anunciado 500 bilhões para combate a fome no mundo mas no seu discurso no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio, reduziu para 50 bilhões. Parece coisa de fim de governo, onde falta até cafezinho. Biden sai em fevereiro e entra Donald Trump que deve reduzir a pó a proposta de Biden. Afinal, o que esperar do ultra-extremista da direita que nega a vacina e institucionalizou a fake news?

A Carta final do G20, na qual Lula defende uma aliança global contra a fome, a pobreza, as questões climáticas e energia lima, foi bem costurada pela diplomacia brasileira e aprovada. Resta esperar se Mundo e as castas do poder e da riqueza, vão abrir mão de seus privilégios?

Voltando a Trump, ele é contrário a tudo que for sobre preservação ambiental e energia limpa. As cartas sempre tem um sabor de expectativas, rupturas, saudades e sonhos. A carta aprovada no G20, mais uma vez, é um símbolo da esperança, como reflete estes dois trechos: “Em caráter de urgência e prioridade máxima, é imperiosa a adesão de todos os países do G20 e outros Estados, à iniciativa da Aliança Global contra a fome a Pobreza… Essa aliança deve promover a cooperação e a intercooperação entre países e organismos internacionais, estabelecendo um fundo específico para financiar políticas e programas de combate à fome , de forma a garantir o acesso universal à alimentação adequada”.… “Os mesmos dilemas que atingem milhões de pessoas vítimas da fome, das desigualdades e da pobreza refletem-se no descompromisso da maioria dos países desenvolvidos e de suas elites com o enfrentamento das mudanças climáticas e o aquecimento global”.. “É uma exigência ética que os líderes mundiais assumam um compromisso firme com a redução de emissões de gases de efeito estufa e do desmatamento”… A proposta também é a criação de um fundo.
Sem nenhum otimismo por ações imediatas no G20 mas também sem cair no negacionismo, a carta, é um documento precioso e histórico para manter aceso os sonhos de que ainda é possível a preservação do Planeta, diminuir a fome e frear o desmatamento da Amazônia. Mas lembrando sempre Betinho: “Quem, tem fome tem pressa”.

Arariboia e o aniversário de Niterói

Você sabe quem é Martin Afonso de Sousa? Se for feita uma pesquisa, possivelmente a maioria não saiba que é o fundador de Niterói. O índio Arariboia é o Martin Afonso de Sousa, que fundou Niterói.

Considerado as contradições sobre os fatos históricos, a verdade é que o cacique Arariboia, da tribo Tamoios, se aliou aos portugueses contra os também invasores franceses, que tinham como aliados os índios Tupinambás, que dominavam a região. Os índios também brigavam por territórios.

Por esta aliança de Arariboia, ele recebeu como prêmio a sesmaria de São Lourenço dos Índios, local que marca a origem da cidade, antes Bandas d`Além, Vila Real da Praia Grande, Nictheroy e hoje Niterói.

Desconhecido ou não, Arariboia é o fundador da cidade e, no, mínimo merece, ser lembrado.
Na realidade nas escolas públicas e nos atos públicos e oficiais, principalmente, nas datas históricas ou na luta pelo resgate histórico de nossos ancestrais, Arariboia raramente é citado. O que não fica claro qual é a causa desta omissão que cada vez mais se perpetua?

O que não pode e não deve é Arariboia ser esquecido todo ano nas comemorações de aniversário de Niterói ou então que se faça como fizeram com relógio gigante, histórico, que ficava na proximidade da estátua de Arariboia, nas Barcas, tirá-lo de lá. Ou quem sabe, o novo prefeito de Maricá, Washington Quaquá, leve Arariboia para Maricá, pois foi ele que deu guarida a uma tribo que morava em Itaipu e, praticamente, foi expulsa do local. Quaquá desafia mesmo. Ele agora anuncia que vai investir em obras de Oscar Niemeyer para acabar com a hegemonia de Niterói que se vangloria de ser a segunda cidade com mais obras do arquiteto.

Memória e história

Niterói é uma cidade de grandes vultos e fatos históricos em vários níveis do conhecimento. No entanto, há uma realidade invisível aos olhos da população. Os livros não contam que o Teatro Brasileiro começou no Morro de São Lourenço com a apresentação do Auto de São Lourenço, escrito e dirigido por José de Anchieta. Na linha da dramaturgia, o teatro Leopoldo Fróes, que homenageia o ator Leopoldo Fróes, que era aplaudido na Europa, foi vendido pela Arquidiocese por falta de interesse público. O teatro Leopoldo Fróes foi o grande laboratório de artistas de teatro e músicos da cidade.

Talvez também ninguém saiba que Niterói já teve um Teatro do Trabalhador, em plena Amaral Peixoto, criado e dirigido por Zé Gamela e que era frequentado pelo ex-governador Roberto Silveira. E o Cassino Icaraí, onde hoje é a Reitoria da UFF, palco de grandes espetáculos e que por lá passaram Sergio Mendes e Grande Otelo.

Por falar na UFF, com sua grandiosidade acadêmica, por que deixou o teatro do DCE, que foi um espaço de grandes espetáculos de teatro de resistência e político na Ditadura, chegasse a este estado lastimável de abandono? Poucos lembram do Teatro Quintal, um teatro no bairro de São Francisco, com toda estrutura voltado para crianças e que ganhou todos os prêmios de teatro infantil, criado pela família Bedran.

E a história vai se perdendo como a casa de Ismael Silva, em Jurujuba, que ia virar o Museu do Samba. Só para lembrar: Ismael Silva era niteroiense e foi quem criou a escola de samba Deixa Falar, a primeira escola de samba do País. A casa acho que desabou.

E os museus? Niterói teve um Museu da Imprensa despejado pelo diretor da Imprensa Oficial, na época do governador Sergio Cabral. O museu foi criado pelo jornalista Jourdan Amora, que até hoje vive a expectativa de um local para abrigar o acervo. E por falar em acervo onde está (se é que ainda existe) o acervo do centenário jornal O Fluminense? E também para onde foram as peças do Museu da Eletricidade, que funcionava na Alameda, e foi extinto quando a Cerj foi vendida. Cadê a nossa Memória? E para onde foram as peças do Museu de Artes e Tradições, que funcionava no Museu do Ingá?

A cidade de Niterói também tem filhos ilustres como Antônio Parreiras, homenageado com o museu, que está fechado há 10 anos, com uma obra de igreja. Será que reabre ainda este ano? Lili Leitão, uma grande musa do teatro e ainda na área de teatro, dança e música: atriz Leila Diniz, ator Paulo Gustavo, atriz Nicette Bruno, a grande estrela do balé Márcia Haydée, músico Sérgio Mendes, (que será nome do Cine UFF), cantor Ronnie Von, cantor Cauby Peixoto, cantora Baby do Brasil, ator Murilo Benício e o mais poderoso do clã Marinho, o jornalista Irineu Marinho e tantos outros e outras.

Citei apenas alguns filhos ilustres, embora tenha muito mais e os que por aqui passaram: como o poeta Vinicius de Moraes, que deixou tantas poesias sobre o encanto da cidade. A passagem de Milton Nascimento, que criou o Clube da Esquina, em sua estadia em Piratininga. Já o maior animador de TV, Silvio Santos começou como camelô na Praça Arariboia. É uma síntese de tanta história que precisa ser recontadas através das novas tecnologias, com um Centro de Memória.

O legado de Axel Grael

Concluindo, não posso deixar de comentar o legado deixado pelo prefeito Axel Grael resgatando e restaurando equipamentos históricos como a Ilha da Boa Viagem, o Mercado Municipal, o Castelinho e a Casa Norival de Freitas.

A Casa Norival de Freitas foi entregue a população, no dia 22 de novembro, em comemoração aos 451 Niterói, num minucioso trabalho técnico de restauração. Destaco também a recente inauguração do Centro Cultural Eco-ambiental, em Piratininga, chamado o MAC ambiental. E não deixar de registrar que tanto o prefeito eleito Rodrigo Neves e o Ministro da Previdência, ressaltaram Arariboia, o índio fundador da cidade, durante a inauguração da Casa Norival de Freitas.

Niterói merece!