Política

Exoneração de Washington Reis explicita disputa por poder e acelera realinhamento político no Rio

Decisão de Bacellar durante ausência de Cláudio Castro expõe racha no governo, projeta Reis como liderança popular e reforça possibilidade de aliança estratégica com Eduardo Paes.

Rodrigo Bacellar (União), e Washington Reis (MDB)
Rodrigo Bacellar (União), e Washington Reis (MDB)

Rio de Janeiro - A exoneração do secretário estadual de Transportes, Washington Reis, durante a ausência do governador Cláudio Castro, é mais do que um gesto administrativo, é um movimento explícito na disputa por poder dentro da estrutura política fluminense.

A decisão, assinada por Rodrigo Bacellar no exercício interino do governo, ocorreu com a frieza dos que calculam o impacto institucional e, ao mesmo tempo, com a ousadia dos que visam a projeção eleitoral.
Reis foi exonerado sem aviso prévio, segundo ele próprio afirmou, sendo comunicado da decisão pela imprensa.

A medida causou espanto não apenas pelo conteúdo, mas pelo momento em que ocorreu: Castro estava fora do país em missão oficial e Bacellar, como governador interino, exerceu uma prerrogativa legítima, mas politicamente arriscada.

A justificativa formal pouco importava, o recado foi dado. O gesto revelou a profundidade da cisão entre o grupo que comanda o Legislativo e a ala que ainda sustenta influência no Executivo. Para muitos foi uma atitude desleal e surpreendentemente autoritária.

O ex-governador Anthony Garotinho já havia alertado publicamente que Bacellar e Castro estavam dividindo o Estado em feudos. A exoneração feita à revelia, sem diálogo ou transparência, foi vista por uns como ato de covardia institucional e por outros como sintoma de desespero político diante da ascensão de Reis.

Washington Reis, ex-prefeito de Duque de Caxias e liderança de peso na Baixada Fluminense, vinha ganhando protagonismo. Suas ações à frente da Secretaria de Transportes, especialmente a ousada redução de tarifas em trens e metrô, desagradaram setores mais conservadores do governo e parte da elite política estadual. Sua capacidade de dialogar diretamente com as massas e de manter interlocução com lideranças como Eduardo Paes o tornou, naturalmente, uma figura incômoda. A reação veio como tentativa de conter esse avanço.

Rodrigo Bacellar, por sua vez, moveu uma peça importante no tabuleiro. Ao exonerar Reis, mostrou que não pretende ser apenas um gestor da Assembleia, mas um jogador com iniciativa, capaz de tomar decisões de alto impacto mesmo na interinidade do cargo. O movimento é interpretado por aliados como demonstração de força. Para os adversários, é leitura de fragilidade disfarçada de firmeza. Seja como for, Bacellar colocou o confronto na vitrine, assumindo os riscos que isso impõe.

A disputa escancarada entre Bacellar e Reis não é apenas pessoal, ela reflete dois modelos de atuação política em choque. De um lado, o operador institucional, meticuloso, que age com respaldo do regimento e do ambiente legislativo, de outro, o populista de resultados, que aposta em ações concretas e visibilidade pública. Ambos estão se posicionando para 2026. A crise, portanto, não é de governo, é de projeto, de poder.

Ao ser exonerado, Washington Reis saiu fortalecido. A narrativa da perseguição política, somada ao seu histórico de entregas e carisma popular, deve reforçar sua presença no debate público. Em vez de ser isolado, foi projetado. E, diante do vácuo de lideranças estaduais com densidade eleitoral, começa a ocupar um espaço que o torna cada vez mais viável como nome majoritário.

O governador Cláudio Castro, ausente durante o episódio, terá agora que escolher se vai reafirmar a exoneração e se alinhar à ação de Bacellar, rompendo com Reis de forma definitiva, ou se vai anular o gesto do interino e assumir o risco de rachar sua base de sustentação no Parlamento. A omissão pode ser lida como fraqueza e sua escolha, como traição. A crise o atinge também.

Em meio a esse embate, o nome de Eduardo Paes começa a surgir com mais força. A aproximação informal com Washington Reis, que já vem sendo observada por analistas atentos, pode se transformar em aliança estratégica. A aproximação entre Reis e Paes estremeceu o cenário político do Estado, quebrando alinhamentos tradicionais e criando a perspectiva de uma nova frente com capacidade real de polarização em 2026. Reis traz capilaridade na Baixada e interior; Paes tem densidade na capital e na máquina institucional. Juntos, podem formar uma frente capaz de disputar o controle do Estado com força competitiva e discurso popular.

O episódio da exoneração, portanto, deve ser lido com atenção. Não se trata apenas de uma troca de comando em uma secretaria. É o início declarado de uma disputa interna que pode, nos próximos meses, se transformar no principal eixo de realinhamento político no Rio de Janeiro. Os que subestimarem esse movimento correm o risco de assistir, à margem, a construção de uma força estadual que já nasceu do conflito e, ao que tudo indica, cresce a cada tentativa de ser silenciada.

Bernardo Ariston

Bernardo Ariston é graduado em Direito, Jornalista e Radialista. Comentarista Político da Rádio Litoral Fm, colunista no Jornal de Sábado e no Cidade de Niterói. Político brasileiro. Em 2002 foi eleito deputado federal pelo estado do Rio e reeleito em 2006.

Bernardo Ariston é graduado em Direito, Jornalista e Radialista. Comentarista Político da Rádio Litoral Fm, colunista no Jornal de Sábado e no Cidade de Niterói. Político brasileiro. Em 2002 foi eleito deputado federal pelo estado do Rio e reeleito em 2006.