Política

Bacellar demite e Castro obedece: governador perde o comando?

Bacellar demite e Castro obedece: entenda a exoneração de Washington Reis e a nomeação de Priscila Sakalem no governo do RJ.

Cláudio Castro | Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Cláudio Castro | Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, confirmou nesta quinta-feira (10) a exoneração de Washington Reis do comando da Secretaria Estadual de Transportes. O anúncio foi feito por meio das redes sociais e consolidou uma decisão cercada por disputas internas e pressões políticas.

Nomeação de nova secretária e bastidores da exoneração

Para o lugar de Reis, foi nomeada Priscila Sakalem, advogada especializada em Direito Tributário e ex-chefe da assessoria do gabinete do próprio governador. A nomeação de Priscila foi publicada em edição extra do Diário Oficial do Estado.

Priscila Sakalem | Foto: Divulgação/Governo do RJ

A demissão de Reis ocorreu de forma polêmica: o ato foi assinado pelo presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Rodrigo Bacellar (União Brasil), durante seu período como governador em exercício — enquanto Castro cumpria agenda oficial em Portugal. A exoneração foi feita sem consulta prévia ao titular do Executivo.

Apesar de obedecer a decisão, Castro criticou a atitude de Bacellar, classificando-a como “intempestiva e desrespeitosa”:

“A demissão do secretário Washington Reis já vinha sendo debatida dentro do nosso grupo político. Eu mesmo planejava oficializá-la após meu retorno das férias. No entanto, isso não justifica a forma como foi feita, sem diálogo ou respeito aos campos políticos da nossa base”, escreveu Castro nas redes.

Disputa política esquentando para 2026

Nos bastidores, a movimentação expôs rachaduras dentro do grupo governista, especialmente com a aproximação das eleições estaduais de 2026. Cláudio Castro reconheceu que o episódio deverá ser debatido entre os presidentes dos partidos que compõem sua base aliada:

“A sucessão ao governo estadual é um projeto coletivo, não uma ambição isolada”, afirmou o governador, dando recado direto a Bacellar.

O presidente da Alerj, por sua vez, havia deixado claro que romperia com o governo caso Castro revertesse a exoneração:

“Se ele anular a decisão, não compactuo mais com o projeto político ao qual me associei a convite do próprio governador”, disse Bacellar.

Washington Reis desconsiderou demissão

Apesar de exonerado oficialmente, Washington Reis continuou se comportando como titular da pasta. Na quarta-feira (09), seis dias após a demissão, ele participou de uma reunião no Ministério dos Transportes, em Brasília, onde foi apresentado como secretário ao lado do irmão, deputado federal Gutemberg Reis, e de Jorge Bastos, presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL).

Reis demonstrava confiança de que seria reconduzido ao cargo por Castro. Em entrevista, chegou a minimizar o ato de Bacellar:

“Essa assinatura dele não tem valor. Ele não é governador. O governador volta segunda-feira e temos uma ótima relação. Ele fez isso para aparecer”, afirmou o ex-secretário, ironizando: “Se botasse uma melancia no pescoço, faria mais sentido.”

Flávio Bolsonaro tentou reverter exoneração

Nos bastidores, a tentativa de recolocar Reis no cargo contou com o apoio do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Para o senador, o ex-prefeito de Duque de Caxias é uma peça-chave para manter unida a direita fluminense e reforçar o campo bolsonarista no Rio de Janeiro. Flávio teria pedido pessoalmente a Castro que revertesse a decisão e promovesse uma reconciliação entre os dois aliados.

Nova titular da pasta é ligada a Castro

A nova secretária de Transportes, Priscila Sakalem, é considerada uma das colaboradoras mais próximas do governador. Desde 2020 no governo estadual, ela ocupou cargos estratégicos na gestão e agora assume a responsabilidade de tocar os projetos da área de transportes com maior alinhamento político.

“Priscila é uma profissional técnica, preparada e da minha total confiança. Vai garantir continuidade e alinhamento na condução da pasta. Agradeço a Washington Reis pela dedicação durante sua gestão”, afirmou Castro por meio da assessoria de imprensa.

Crise expõe fissuras na base aliada

O episódio ampliou a tensão no núcleo político do governo estadual e revelou divergências internas entre os principais nomes que projetam disputar o Palácio Guanabara em 2026. Enquanto Bacellar articula sua candidatura ao Executivo, Washington Reis se aproxima de Eduardo Paes, atual prefeito do Rio e potencial adversário do presidente da Alerj na futura corrida eleitoral.

Desde seu retorno de viagem no último domingo (7), Cláudio Castro manteve o silêncio e evitou aparições públicas. Segundo fontes do Palácio Guanabara, a crise foi tratada com cautela para evitar mais ruídos entre as alas do grupo governista.