Um ato em memória da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes reuniu milhares de pessoas no centro do Rio, na noite desta terça-feira (20). Com o apoio de um carro de som, os manifestantes se concentraram junto à Igreja da Candelária e depois seguiram pela Avenida Rio Branco até a Cinelândia, onde foi marcado um ato ecumênico. Ao chegar no local, o ato foi aberto com uma apresentação da Orquestra Música pela Democracia.
Carregando faixas e cartazes pedindo justiça e vestindo camisetas estampadas com o rosto de Marielle, os manifestantes lembraram a luta da vereadora pelo direito da população negra, pobre, moradores de favelas e LGBTs. Do alto do carro de som, lideranças gritavam frases como “Marielle vive, favela resiste e vidas negras importam”.
O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) discursou e exigiu apuração rápida do crime. “O medo não prevalecerá sobre a nossa resistência, neste Estado de exceção”, disse Glauber.
O integrante do PSTU Cyro Garcia disse que é necessário identificar quem apertou o gatilho e também os mandantes do crime. “As balas que mataram Marielle não vão nos calar. Nossa juventude negra está exposta a uma pena de morte informal”, disse.
A esposa de Anderson, Ágatha Reis, também discursou e lembrou da violência diária que atinge os moradores do Rio de Janeiro. “Nós representamos as pessoas que saem de casa todo dia e não sabem se vão voltar”, disse Ágatha. Também discursaram parentes de jovens mortos em chacinas ou em confrontos com a polícia. Muitos desses crimes até hoje continuam sem solução.
Durante o ato, uma das placas de identificação da Avenida Rio Branco foi adesivada com o nome “Rua Marielle Franco”.
Anderson e Marielle foram mortos a tiros na noite da última quarta-feira (14), no bairro do Estácio, após serem perseguidos por dois carros, desde a Lapa, onde ela participou de seu último compromisso político.
Anistia Internacional
A diretora-executiva da Anistia Internacional Brasil, Jurema Werneck, participou do ato e destacou a necessidade de uma investigação profunda do caso. Segundo ela, o assassinato de Marielle e Anderson atingiu a imagem do Brasil no exterior.
“A Anistia Internacional lançou um relatório dizendo que o Brasil é uma lugar muito perigoso para quem defende os direitos humanos. É um dos países do mundo onde mais se mata gente que luta por direitos, dignidade e justiça. O mundo está dizendo que já passa da hora das autoridades tomarem uma providência”, disse Jurema.
O ato ecumênico foi encerrado dando espaço a representantes de diversas religiões. O primeiro a falar foi o ex-frei e teólogo Leonardo Boff, que foi punido pela Igreja católica, na década de 1980, por suas posições ligadas à Teologia da Libertação, na época considerada de esquerda: “Hoje é arriscado lutar pela vida. Marielle denunciou a violência policial. Colocou como centro de sua luta a vida das pessoas e foi sacrificada por isso. Nós queremos que neste país surjam milhares de Marielles”, disse.