Carro do vereador Aquino
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As polícias Civil e Militar deflagraram, nesta sexta-feira (14), mais uma fase da Operação Contenção na Baixada Fluminense, mirando a expansão do Comando Vermelho em São João de Meriti. A ação resultou em oito presos, apreensão de armas e drogas e na prisão em flagrante do vereador mais votado do município, o que aumenta a tensão política e o debate sobre segurança pública na região. Enquanto o poder público fala em frear o crime organizado, a operação volta a expor o impacto direto dessas ofensivas na vida de quem mora e trabalha nas áreas alvo.

Operação Contenção avança na Baixada Fluminense

Nesta nova etapa da Operação Contenção, deflagrada nesta sexta-feira (14), policiais civis e militares atuaram em diferentes pontos de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, com foco em áreas como Bacia do Éden, Castelinho e regiões próximas. O objetivo declarado é conter o avanço territorial do Comando Vermelho (CV), cumprir mandados de prisão temporária e de busca e apreensão, além de recolher armas, drogas e outros elementos ligados ao tráfico.

Segundo a Secretaria de Estado de Polícia Civil, o balanço parcial até o fim da manhã apontava oito pessoas presas, todas encaminhadas para a Cidade da Polícia, no Jacarezinho, zona norte do Rio. Na mesma ação, foram apreendidas duas pistolas e uma carga de drogas ainda não detalhada pelas autoridades.

Vereador mais votado de São João de Meriti é preso em flagrante

Entre os oito presos está o vereador Marcos Henrique Matos de Aquino (Republicanos), conhecido como Aquino, apontado pelo Tribunal Superior Eleitoral como o mais votado nas eleições de 2024, com 7.975 votos, recorde da história política de São João de Meriti.

De acordo com informações preliminares, o parlamentar não era alvo de mandado de prisão. Ele foi detido em flagrante depois que policiais encontraram, no carro oficial da Câmara Municipal, uma arma de fogo sem registro no Sistema Nacional de Armas e caixas de medicamentos de uso controlado. O veículo, que tem placas oficiais, foi registrado por emissoras de TV carregado de itens apreendidos.

Aquino teria se deslocado até a casa do irmão, o empresário Luiz Paulo Matos de Aquino, justamente para acompanhar o desenrolar da operação. O irmão do vereador é citado pela polícia como um dos alvos das medidas cautelares, suspeito de ligação com o núcleo da facção que atua na região.

Vereador Marcos Aquino e o irmão empresário Luiz Paulo Aquino
Vereador Marcos Aquino e o irmão empresário Luiz Paulo Aquino – Foto Reprodução

Alvos, mandados e atuação em São João de Meriti

Esta fase da Operação Contenção mobiliza equipes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Capital (DRE-CAP), da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), com apoio de outras unidades. O planejamento é resultado de uma investigação de cerca de 11 meses, conduzida pela DRE-CAP, que identificou supostos integrantes e apoiadores do Comando Vermelho na Baixada.

Segundo a nota oficial, os mandados de prisão temporária e de busca e apreensão miram não apenas suspeitos apontados como integrantes diretos da facção, mas também pessoas próximas que poderiam atuar na estrutura financeira e logística do grupo criminoso. Entre os alvos estão o irmão do vereador Aquino e outros investigados por possível envolvimento com o núcleo do CV que controla pontos de tráfico nas localidades atingidas pela ação.

Operação também atinge Duque de Caxias

Além de São João de Meriti, a operação desta sexta-feira (14) se estendeu a Duque de Caxias, outra cidade da Baixada Fluminense. Na comunidade Vai Quem Quer, policiais prenderam quatro pessoas e apreenderam armas, munições de diversos calibres, rádio transmissores, acessórios táticos e uma grande quantidade de drogas prontas para venda, reforçando o caráter regional da ofensiva contra o Comando Vermelho.

As ações simultâneas em diferentes municípios buscam enfraquecer rotas de abastecimento e a capacidade operacional da facção, que utiliza as cidades da Baixada como corredores estratégicos para o tráfico de drogas e armas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Objetivo é frear avanço do Comando Vermelho

De acordo com a Secretaria de Polícia Civil, a operação tem como metas principais conter o avanço territorial da organização criminosa, prender integrantes já identificados, coletar novas provas, identificar patrimônios ilícitos para posterior bloqueio judicial e remover barricadas que restringem a circulação nas comunidades.

A Operação Contenção foi lançada originalmente em 28 de outubro de 2025, com uma grande ofensiva nos complexos da Penha e do Alemão, na zona norte do Rio. Naquele momento, a ação ficou marcada pelo alto número de mortos – 121 pessoas, segundo o governo do estado – e pela apreensão de mais de uma tonelada de drogas e dezenas de fuzis, sendo classificada por analistas como uma das operações policiais mais letais da história do Rio de Janeiro.

Essa combinação de letalidade e grande emprego de efetivo faz com que cada nova fase da operação reacenda o debate sobre o equilíbrio entre combate ao crime organizado e proteção de direitos da população que vive nas áreas sob conflito.

Defesa fala em prisão arbitrária e perseguição política

Em nota divulgada pela equipe do vereador Marcos Henrique Matos de Aquino, a defesa afirma que a prisão é injusta e sem fundamento jurídico, classificando a medida como arbitrária. Os advogados alegam que há perseguição política, motivada pela atuação do parlamentar na Câmara Municipal, onde ele se apresenta como voz ativa em temas locais.

A defesa sustenta que a tentativa de vinculá-lo a práticas criminosas contraria a trajetória pública do vereador e diz confiar no restabelecimento da verdade e na rápida revisão da prisão. O caso deve seguir agora para análise do Ministério Público e do Judiciário, que vão avaliar os elementos reunidos pela polícia e os argumentos da defesa.