Tráfico de Drogas
Foto: Freepix

Uma pesquisa do Instituto Data Favela ouviu quase 4 mil pessoas envolvidas com o tráfico de drogas em comunidades brasileiras. O levantamento, divulgado nesta segunda-feira (17), revela que 58% delas gostariam de deixar voluntariamente essa vida se pudessem garantir sustento econômico e estabilidade pessoal. O dado recoloca no centro do debate a relação entre pobreza, falta de oportunidades e violência nas periferias.

Maioria no tráfico de drogas gostaria de sair

Entre quase 4 mil pessoas envolvidas com o tráfico de drogas entrevistadas em uma pesquisa do Instituto Data Favela, a maioria (58%) declarou que deixaria voluntariamente essa condição se tivesse garantidos o sustento econômico e a estabilidade pessoal.

O resultado indica que, mesmo inseridos em atividades ilegais, muitos desses indivíduos enxergam o trabalho lícito, a renda estável e a possibilidade de reconstruir a vida fora do crime como um caminho desejável. A permanência no tráfico, portanto, não aparece apenas como escolha, mas também como reflexo de uma falta de alternativas concretas no mercado de trabalho e nas políticas sociais.

Resumo dos principais dados da pesquisa:

  • Quase 4 mil pessoas envolvidas com o tráfico foram entrevistadas;
  • 58% afirmaram que gostariam de deixar o tráfico voluntariamente;
  • A condição principal apontada é ter sustento econômico garantido;
  • A percepção de estabilidade pessoal é vista como essencial para a mudança.

Sustento econômico e estabilidade como chave da mudança

A importância da renda para sair do crime

O recorte da pesquisa mostra que o desejo de sair do tráfico de drogas está diretamente ligado à possibilidade de sobreviver com renda digna. Sem emprego formal, apoio familiar ou políticas públicas que assegurem uma transição minimamente segura, o risco de romper com o crime é percebido como alto demais.

A exigência de sustento econômico como condição mínima para deixar o tráfico reforça a ideia de que muitos veem nas atividades ilícitas uma forma de garantir o básico: alimentação, moradia e proteção da família. Enquanto isso, a informalidade, o desemprego e a falta de qualificação continuam limitando as alternativas nas periferias.

Estabilidade pessoal e medo de recomeçar do zero

Além da renda, a estabilidade pessoal aparece como um fator decisivo. Isso envolve:

  • Segurança para a família ao sair do ambiente do tráfico;
  • Possibilidade de recomeçar a carreira ou construir uma trajetória profissional;
  • Acesso a redes de apoio, como programas de inclusão social, educação e saúde mental;
  • Menor exposição à violência cotidiana das disputas de território.

Sem essa combinação de proteção e previsibilidade, muitos veem a saída do crime como um salto no escuro — e acabam permanecendo em uma realidade que não desejam mais.

O que o dado revela para políticas públicas

Instituições especializadas na realidade das favelas, como o Data Favela, têm mostrado que o enfrentamento da violência passa também por compreender a vida de quem está diretamente envolvido no crime e suas motivações para permanecer ou sair dessa rota.

Do combate ao crime à inclusão social

O dado de que 58% dos entrevistados gostariam de deixar o tráfico de drogas se tivessem renda e estabilidade aponta pelo menos três caminhos para políticas públicas:

  • Fortalecer programas de emprego, qualificação profissional e renda voltados às periferias;
  • Criar iniciativas específicas de reintegração social para pessoas que desejam sair do crime, com apoio psicológico, jurídico e social;
  • Articular ações entre segurança pública, assistência social e educação, evitando que o combate ao tráfico se limite apenas à repressão.

Em vez de enxergar quem está no tráfico apenas como “caso de polícia”, o levantamento sugere que uma parcela significativa vê no crime uma saída de sobrevivência, mas não definitiva. Esse olhar abre espaço para políticas que tratem o problema também como questão de desigualdade, pobreza e falta de oportunidades.