Segunda escola a desfilar na Sapucaí, a Unidos do Viradouro encantou o público com o enredo ViraViradouro. A agremiação da cidade sorriso abusou das transformações, coreografias e engenhocas para surpreender o público na avenida. Os recursos são uma assinatura do carnavalesco Paulo Barros, que levou desde bruxas e mortos-vivos até contos de fadas como a Bela e Fera para o sambódromo. A comissão de frente foi um dos destaques. Diante do público, príncipes se transformavam em sapos com a magia lançada por bruxas e seus caldeirões.
O desfile terminou com um animal mitológico que representa seu desejo de renascer: uma fênix. Segundo a lenda, a ave é capaz de ressurgir das cinzas depois de cair e esse é o desejo do carnavalesco Paulo Barros ao voltar para a Viradouro. “A Viradouro é uma escola que tem um perfil grande, um perfil forte. É uma escola que passou pelo grupo de acesso, mas tem o coração e a alma do Grupo Especial”, disse Paulo Barros, que se considera sempre otimista. “O resultado não depende da gente. A gente fez o nosso, mas a gente não domina o resultado.”
A agremiação niteroiense entrou novamente no Grupo Especial – a elite das escolas de samba do Rio de Janeiro. O campeonato em 2018 na Série A (antigo grupo de acesso) deu à vermelho e branco de Niterói o direito a essa volta ao palco onde já fez passagens marcantes.
A Viradouro estreou no grupo especial em 1991, após ganhar o título do acesso, e se manteve na elite do carnaval do Rio até 2010. Nesse período, conquistou o campeonato em 1997, com o enredo Trevas! Luz! A Explosão do Universo, do carnavalesco Joãosinho Trinta (morto em 2011).
Com o rebaixamento, em 2011, retornou à série A, onde permaneceu até ser campeã em 2014. Mas nem saboreou o gosto da elite do carnaval carioca e logo caiu novamente. No ano passado, retornou ao grupo especial. A ascensão de uma escola é uma responsabilidade até para os mais experientes no Sambódromo.
Para o carnavalesco Paulo Barros, que já foi campeão pela Unidos da Tijuca (2010, 2012 e 2014) e pela Portela (2017), a Viradouro, desta vez, entendeu que precisava se preparar para o grupo especial, que exige mais das agremiações.
“Quando sobe para o [grupo] especial tem que mudar a estrutura de carro alegórico, o processo administrativo da escola. Tem que encarar que é uma escola do grupo especial, diferente do que é no grupo de acesso. A essência pode ser a mesma, mas a gestão tem que ser diferenciada. A Viradouro fez exatamente isso”, afirmou.
Bateria
Na esteira da mudança tem equipe nova na Viradouro. O carnavalesco disse que foram contratados “profissionais gabaritados dentro de cada área” para defender na avenida os quesitos que podem garantir melhores notas à escola. “A Viradouro volta para o grupo especial com pé no chão, entendendo que tudo isso tem que ser mexido. Poucas escolas têm essa percepção”, observou.
Como coreógrafo da comissão de frente, a escola contratou Alex Neoral, que trabalhou com Barros, no ano passado, na Unidos de Vila Isabel. O mestre-sala é o Julinho e a porta-bandeira a Ruth, os dois são parceiros desde 2008.
À frente da bateria, mestre Ciça está de volta à Viradouro. “As pessoas costumam fazer uma ligação direta às escolas que sobem como se fossem as favoritas para descer. Teoricamente seriam as mais fracas. A Viradouro fez o processo contrário”, afirmou.
Enredo
A Viradouro entrou na Marquês de Sapucaí com mais de 2.900 componentes, e encantou o público com o enredo ViraViradouro, que apresentou as histórias que as avós contavam. O enredo com o universo de histórias infantis e de contos de fadas tem no final uma floresta encantada. “Para a gente mergulhar nessa floresta e através do livro que a vovó nos manda ler, a gente possa renascer das cinzas”, revelou o carnavalesco.
O carnavalesco disse que a figura da avó sempre foi uma presença marcante na sua vida. “Quem não teve a figura da avó? A minha avó era a minha grande protetora. Nas horas difíceis, em que eu precisava correr atrás de alguém, até para me proteger mesmo, eu corria atrás dela. Então, a gente brinca com a personagem da avó, que foi e é a nossa segunda mãe”, afirmou.
Na volta à Viradouro, onde esteve em 2007 e 2008, o carnavalesco disse que encontrou um ambiente com o mesmo sentimento dos componentes em relação à escola e a mesma garra. “Sinto que a Viradouro de lá para cá não mudou, não perdeu esse encanto e essa força, a coragem e o amor que eles têm pela escola. Encontro hoje uma Viradouro que está pautada em moldes que convivi nos anos de 2007 e 2008”.
Tamborins
Outro que está de volta é o mestre Ciça, que ficou na escola entre 1999 e 2009. Nesse período deixou a sua marca à frente da bateria. “Eu fiquei na escola durante dez anos e tenho que voltar agora com as mesmas características que eu gosto e que a escola gosta. Este ano temos 32 tamborins no meio da bateria. Eles tocam uma parte do samba enredo sozinhos, com a bateria toda agachada na Sapucaí.”
Com Ebc