
O cardeal Robert Francis Prevost, de 69 anos, foi eleito nesta quinta-feira (8) como o novo Papa Leão XIV, tornando-se o primeiro pontífice nascido nos Estados Unidos. Natural de Chicago e fluente em várias línguas, Prevost tem uma trajetória marcada por atuação missionária no Peru, onde viveu por mais de 20 anos, tornou-se bispo, naturalizou-se cidadão peruano e ganhou destaque por seu trabalho pastoral e administrativo na Igreja Católica.
Antes da eleição, ocupava um dos cargos mais relevantes da Santa Sé, comandando o Dicastério para os Bispos, responsável por nomear líderes eclesiásticos no mundo todo.
Perfil conservador e influência global
Conhecido por sua postura discreta e formação doutrinária sólida, Leão XIV chega ao papado em um momento de disputa interna na Igreja entre ala progressista e setores mais conservadores. Para muitos, ele representa um ponto de equilíbrio entre a abertura promovida por Francisco e o resgate da tradição doutrinária.
“Ele é um meio-termo digno”, afirmou o padre Michele Falcone, da Ordem de Santo Agostinho, da qual Prevost foi superior-geral.
Em entrevistas recentes, o novo papa já havia afirmado que o bispo deve estar próximo do povo, sem agir como um “pequeno príncipe”, e sim com humildade e escuta ativa — valores que ecoam a proposta pastoral de Francisco.
Experiência internacional e formação sólida
Ordenado padre em 1982, Prevost possui doutorado em direito canônico pela Pontifícia Universidade de Santo Tomás de Aquino, em Roma. Atuou como missionário, pároco, professor e bispo no Peru, além de visitar comunidades religiosas agostinianas em diversos países. Fala espanhol e italiano com fluência e tem uma visão de Igreja descentralizada.
“Ele entende que o centro da Igreja não está nos EUA nem na Europa”, afirmou Raúl Zegarra, professor da Harvard Divinity School.
Críticas à ideologia de gênero e à cultura ocidental
Embora compartilhe do discurso social de Francisco em temas como acolhimento a imigrantes e combate à pobreza, Leão XIV tem posições conservadoras sobre moral sexual e identidade de gênero. Em 2012, criticou a “simpatia da mídia por estilos de vida contrários ao evangelho” e se posicionou contra o ensino de temas ligados à ideologia de gênero nas escolas peruanas.
“Promover a ideologia de gênero gera confusão ao criar identidades que não existem”, declarou à imprensa local na época em que era bispo de Chiclayo.
Controvérsias em casos de abuso sexual
O novo papa também carrega polêmicas em sua trajetória. Durante sua passagem pela diocese de Chiclayo, foi acusado de conduzir mal investigações de abuso sexual cometidos por padres. Uma das vítimas afirma que Prevost não agiu com firmeza para afastar os acusados. A diocese, por sua vez, alegou que uma investigação foi aberta por ele, mas encerrada pelo Vaticano e, posteriormente, reaberta por outro bispo.
Em Chicago, sua antiga jurisdição como líder regional dos agostinianos, ativistas o acusam de não ter informado uma escola católica sobre a presença de um padre abusador realocado a um mosteiro próximo. Prevost teria autorizado a mudança na época.
Estilo contido e menos carismático que Francisco
Ao contrário de Francisco, que parava para abençoar fiéis nas ruas e demonstrava carisma mesmo em meio à fragilidade física, Leão XIV tem um estilo mais contido e reservado.
“Ele não exagera. Abençoa bebês, mas não os pega no colo”, comentou o padre Falcone.
Mesmo assim, aliados esperam que ele dê continuidade a aspectos importantes do pontificado anterior, como a escuta aos leigos e o processo sinodal em curso.