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Música boa, de Pai para Filho

Felipe Ferreira, na bateria, acompanha Sabino. Foto: álbum de família
Felipe Ferreira, na bateria, acompanha Sabino. Foto: álbum de família
Novo mês, novo texto.

E, como de costume da boa música brasileira, “filho de peixe, peixinho é”. Davi Moraes surgiu para a música com apoio de Moraes Moreira; Caetano Veloso lançou todos os seus filhos na música (Moreno, Tom e Zeca), enquanto Baby do Brasil gerou, com Pepeu Gomes, os incríveis Pedro Baby, Zabelê (e as irmãs do SNZ) e DJ Gomes – todos artistas da música. A nossa Rita Lee não tardou a convidar para sua banda o seu filho, Beto Lee – e, depois, também inseriu o DJ e produtor João Lee nos caminhos de suas gravações e shows. Nesta área este comportamento já é uma tradição, passada de pai para filho.

Aqui em Niterói temos Marcos Sabino e seu filho Felipe Ferreira. Músico – exímio baterista –, produtor, artista e ainda tem tempo para agitar novas ideias para o cenário da música local. Então, cronologicamente, vamos falar primeiro do pai para chegar ao filho.

Muita gente conhece Marcos Sabino em Niterói pela sua participação política, e quase todo mundo sabe que Sabino (ao lado de Dalto e Byafra) foi um dos primeiros nomes da música de Niterói a se tornar realmente pop, nos anos 80, com o estouro nas paradas de sucesso de seu hit imortal “Reluz”. A faixa, inclusive, foi regravada em 2019 pelo artista niteroiense André Barroso & Banda, tendo como convidado especial Felipe Ferreira, na bateria, em um single lançado pela nossa Astronauta Discos. Ficou curioso? Ouça aqui no link: https://open.spotify.com/intl-pt/track/3Y3vBuT7YDqZKtupDxWAfm?si=e791490c683546d7

Já no primeiro álbum, em 1982, Sabino faz uma referência à sua cidade, com a música “Nickti City”. Seu tom de voz doce e romântico brotou para todo o país nesta época. Antes, porém, trilhou toda a estrada que um músico e artista deve percorrer, ganhando experiência e maturidade. Mesmo quando estourou nacionalmente, ainda era bem jovem. Toca e compõe desde criança. Ainda adolescente, integrou a banda de rock Os Inocentes. Em 1975 fez parte do grupo Antares, juntamente com Gote e Zé Henrique. Em 1978 integrou o grupo O Circo, ao lado de Fernando Bittencourt, Marcio Bahia, Humberto Resende, Simiana e Marise de Resende. Nesse mesmo ano, venceu o Festival de Miracema, interpretando a canção Esperança (Salu). Seu último lançamento é o single “Lá em Mauá”, pelo selo fonográfico próprio – o Reluz Music.

“Minha geração não tinha a possibilidade de alcance que se tem hoje, ao mesmo tempo hoje mudou muito o suporte das grandes gravadoras. Era difícil entrar nas majors, mas quando o artista entrava, as possibilidades eram grandes – desde que o artista fosse meta da companhia. Eu fiz o programa do Chacrinha várias vezes e não tinha a dimensão que hoje tenho de o quão importante era aquilo. Conheço muitos artistas que entraram e saíram e não aconteceu nada com eles. As coisas não são melhores, nem piores, não são mais fáceis ou mais difíceis. Elas são diferentes. Cada tempo é seu tempo, com suas particularidades. Hoje o artista tem que ser autoprodutor também (empresário, produtor, criador, divulgador, etc) e, para nossa geração, esse gerenciamento é novo. Tenho o Felipe, meu filho, que me ajuda nas redes e plataformas”, disse Sabino à coluna.

O Felipe Ferreira de fato representa a nova geração da música em Niterói – atuando em diversas frentes, como o pai dele falou acima. Toca bateria, produz, é artista e cantor também – vem aí com single da carreira solo em breve – e ativista por melhores espaços na música da cidade. Tem contribuído bastante, após assimilar por osmose a energia e talento do próprio pai.

“Desde que me entendo por gente, eu já ficava até tarde no estúdio que meu pai montou em casa vendo todo processo de produção. Vi grandes artistas e músicos gravando. Também presenciei muitos encontros de compositores e muitas obras que depois seriam sucesso nas rádios e TVs sendo criadas, ali, literalmente no quintal da minha casa. Era um ambiente muito frutífero e livre. Essa coisa me fisgou de um modo que me influenciou para toda a vida. Depois disso fui buscar o meu caminho e todas as minhas amizades de colégio eram com pessoas que tocavam e queriam criar. Quando meu pai me viu tocando profissionalmente nas festas aos 16 anos, ele não teve dúvida e me chamou para a estrada. A partir daí o meu olhar sobre o trabalho tomou um outro rumo. A exigência subiu a um nível muito alto e que até hoje é assim. Hoje, com mais experiência, dialogamos mais perto. Naquela época, ele teve muita paciência e visão. Já sabia do meu potencial e da minha seriedade com a profissão”, contou Felipe.

A EVOLUÇÃO ATRAVÉS DAS GERAÇÕES

“Os artistas de hoje, no futuro, vão entender a importância de estar numa playlist grande do Spotify. E, com o tempo, isso também vai mudar”, ensinou Sabino. “O jovem artista que está surgindo agora não deve se deixar seduzir pela inteligência artificial. Ele deve continuar a criar, tocar, aprender e desenvolver no seu instrumento. Senão não trazemos as lágrimas, o suor e o sorriso das pessoas. Fica sem calor humano”, disse Sabino – que completa 43 anos de carreira no próximo mês. Nas suas redes criou um quadro chamado Cristal do Tempo e, após gravar Marcio Greyk, virá com uma reinterpretação de Claudia Telles.

“Além do meu pai, minhas referências também são Dalto, Arthur Maia, Biafra, Cláudio Infante, compositores como Chico Roque e Cacá Moraes, das novas gerações eu fui muito influenciado pela sonoridade do Kid Mumu, da banda Nayah. O Yuri Corbal me trouxe uma visão de atitude no palco, Iolme Lugon, João Muniz – que é um excelente músico e compositor – além do pessoal do rap, como a galera do Oriente, que ganhou um mercado na raça e talento, e crescemos juntos no movimento: nós com rock, eles com rap. Atualmente o pessoal da Almar faz uma música popular com conteúdo. É bacana ver! E, por último, uma figura muito importante na minha estrada, o saudoso Gabu (Gabriel Buarque), que me influenciou com sua visão para as artes visuais, para a moda é para o senso estético de um todo. Suas letras populares e melodias simples me movem”, reflete o jovem Felipe Ferreira.

“O streaming é uma mídia importante, porém ainda não viável e enganosa. Vejo os artistas que se prendem aos parâmetros dos números caindo num limbo profundo de frustração, pois a música tem a validade da comunicação de uma verdade. E o lugar onde isso se solidifica é o palco. Em Juiz de Fora, por exemplo – que é uma cidade do tamanho de Niterói e não tem a importância política de Niterói por estar longe de um grande centro – existe um movimento grande de artistas que trabalham sem grandes mídias, com apoio da gestão pública e geração de possibilidades para vários nichos”, exemplifica Felipe.

“Os artistas mais novos também precisam entender que o movimento, para ser sustentável e durável, deve ser sempre da vida real para a virtual, não dá virtual para a vida real e, depois disso, uma alimenta a outra. O fundamental é criar movimentos! Criar formatos de carreira onde os artistas se juntem, ajudem e estejam cobrando iniciativas tanto do privado quanto do poder público. Niterói é referência na arte, principalmente na música! A união sempre faz a força”, conclui Felipe – que foi vencedor do Reality Geleia do Rock, do Multishow.

Bons sons a todos! E até a nossa próxima coluna!