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A memória de uma cidade

Dr. Antônio Jorge Abunahman (1957/58) | Associação Médica Fluminense
Dr. Antônio Jorge Abunahman (1957/58) | Associação Médica Fluminense

Começamos hoje a usar esse espaço para, especificamente, falar sobre as personalidades que marcaram, por longos anos, suas participações na vida niteroiense, quer na medicina, no direito, na educação, nas artes e na política. De início, vamos trazer à baila figuras exponenciais da medicina que mostraram, nos seus tempos, como eram humanistas e competentes. Como salvaram vidas, como trouxeram ao mundo niteroienses em larga escala, como levaram tantos a voltarem a enxergar e como tantos debilitados para caminhar voltaram a ter vida normal, tudo pelo talento profissional desses abnegados médicos que homenagearemos aqui.

Neste mês de novembro vamos focar nas figuras carismáticas dos Drs. Antônio Jorge Abunahman, Altamiro Vianna, Henri Curi e Carlos Tortelly Rodrigues Costa. O Dr. Antônio Abunahman nasceu em 1913 em São Gonçalo e passou toda sua infância em Cachoeiras de Macacu, pois, filho de imigrantes libaneses, seu pai sustentava sua enorme família de esposa e treze filhos com o comércio que tinha como atividade. Sua opção pela medicina foi influenciada pela única referência médica com que contou na infância, Almir Madeira, que era professor de pediatria em Niterói.

Durante o período em que frequentou a Faculdade Fluminense de Medicina (1931-1937) foi monitor de tisiologia em vários hospitais, quando percebia que os doentes, na sua maioria, eram terminais e, aí, abraçou a causa.

Passou a transformar a espera da morte em esperança de vida. No Brasil dos anos 1930 a tuberculose tinha se tornado uma doença que não escolhia a classe social: atingia toda a população. O tuberculoso era socialmente um estigmatizado.

O Dr. Abunahman era um homem severo por fora e humanista por dentro. Enfrentou a resistência da tuberculose, como tisiologista, naqueles tempos difíceis da ditadura de Vargas e, após a morte prematura de Noel Rosa, um estudante de medicina que morreu em 1937 da doença e que era o maior compositor popular brasileiro.

Nada, absolutamente nada, demoveu o Dr. Antônio Abunahman para desistir de seu intento. Foi em frente com garra e sua juventude mesmo sabedor dos riscos que corria com uma doença contagiosa. Tornou-se o médico preferido da população, livrou muitos da doença, salvou vidas. Seu fichário chegou a conter 140 mil clientes de Niterói, do Rio de Janeiro e até do interior do Estado. Era tão querido que muitos de seus alunos, depois de formados, encaminhavam pacientes para seu consultório.

Apesar de uma vida profissional muito intensa, dedicou-se também à causa associativa. Foi presidente da Associação Médica Fluminense (AMF) e de outros órgãos da classe.

O trabalho desempenhado com seriedade, persistência e humanismo, avaliou a conduta do profissional e tornou-se tão conceituosa a família Abunahman que, em 1962, por ocasião das eleições municipais em que as candidaturas de Prefeito e Vice eram desvinculadas, surgiu entre os dez pretendentes ao cargo de vice a figura de Emilio Abunahman, um dedicado funcionário da Secretária de Administração do Estado.

Conclusão, Emilio, o irmão, foi eleito e, no ano seguinte, com o afastamento do titular Sylvio Picanço pelos militares, foi guindado como Chefe do Executivo Municipal. Assumiu e foi mantido no cargo até 1970 e ao sair não se viu ninguém fazer qualquer comentário negativo a sua administração. Os Abunahmans viraram lenda na cidade.

As virtudes do Dr. Antônio Abunahman só tiveram o seu valor reconhecido porque foram praticadas abertamente no dia a dia em seu consultório, nas associações que fazia parte ou por onde circulava. Foi um ser humano útil, deu sentido à existência e contribuição para que o mundo melhore um pouco mais. Com a escolha que fez e os riscos que passou a ter, foi obrigado a se reinventar todos os dias. Combateu o efeito e foi eficiente, combateu a causa e foi eficaz.

A PERSEVERAÇA NÃO É SÓ UMA VIRTUDE NA VIDA DAQUELES QUE SÃO VENCEDORES, MAS É TAMBÉM UM HÁBITO.