Niterói - Na última quinta-feira, 27 de março, o Instituto GayLussac, em Niterói, abriu as portas do teatro para receber pais e responsáveis de alunos a fim de dialogarem sobre a série que é sucesso na Netflix: Adolescência. A obra traz à tona problemas da contemporaneidade, revelando como o ambiente virtual, especialmente sem supervisão, pode ser nocivo nessa faixa etária e o desafio da parentalidade na era digital.
No encontro, as famílias tiveram a oportunidade de assistir trechos da série e refletirem junto com professores, com a equipe de psicologia e com a direção geral da escola.
Com o uso massivo e cada vez mais precoce das redes sociais, o distanciamento entre pais e filhos é cada vez maior. A psicóloga, Paloma Sá Carvalho, explicou que os adolescentes estão inseridos no fenômeno ‘geração do quarto’. O termo foi criado pelo educador Hugo Monteiro e é utilizado para identificar jovens que passam muito tempo isolados, sem trocas e interação com a família. Eles têm muita dificuldade em demonstrar o que sentem e um potencial para praticarem alguma violência, seja contra si ou contra outros.
Um estudo pioneiro no Brasil, realizado pelo IBGE e pela UFMG, revelou que 13,2% dos jovens já sofreram cyberbullying. As pesquisas também apontam que esses números vêm crescendo a cada ano e que as meninas são as principais vítimas.
A diretora geral do GayLussac, Luiza Sassi, chamou a atenção para o avanço dos grupos masculinistas que propagam discursos de ódio contra as mulheres. Movimentos como ‘RedPill’ e ‘Incel’ tem ganhado cada vez mais força na internet e os jovens acabam incorporando na vida real os vocabulários que observam nas redes.
Durante o debate, os responsáveis relataram que assim como na série, observam um enfraquecimento das relações com seus filhos e que também se sentem atrasados, sem conseguir acompanhar as novas linguagens utilizadas pelos filhos e os avanços das redes.
A escola fez um alerta aos pais sobre como crianças e adolescentes, mesmo dentro de casa, estão expostos a perigos, que são maiores que os de antigamente.
O professor de Direitos Humanos e Salvaguarda, Matheus Guarino, explicou que os adolescentes se sentem seguros pelo anonimato das redes e que têm a fiel ilusão de que a internet é ‘terra de ninguém’. No entanto, as redes sociais são espaços públicos e não privados, mesmo apagando mensagens, fotos, quando uma informação cai na rede, dificilmente é possível apagá-la definitivamente. Os jovens precisam entender que seus atos têm consequências.
Nesse cenário, o tripé “família, escola e sociedade” tem o dever de educar e orientar as crianças e adolescentes. A psicóloga e Líder de Salvaguarda do Instituto GayLussac, Jaqueline Eckstein, ressaltou, ainda, a importância da escuta qualificada e do tempo de qualidade entre pais e filhos. Segundo ela, os pais precisam querer ouvir os filhos de forma genuína, sem julgamentos.
A escola também tem papel fundamental frente a essas questões. O GayLussac, é vanguarda em algumas iniciativas e procura, cada vez mais, se atualizar frente aos novos desafios. O Instituto possui um conjunto de Políticas de Salvaguarda, zelando pela proteção dos alunos, além de ter adotado desde 2003 a política de proibição do uso de celulares nas salas de aula – em 2021 essa ação se estendeu aos recreios e intervalos.