A jornada de trabalho 6×1, aquela em que o trabalhador labora seis dias consecutivos para ter apenas um de descanso, é uma prática ainda comum no Brasil, especialmente no comércio, nos serviços e em setores terceirizados. Apesar de ser legalizada pela CLT, esse regime revela-se profundamente desgastante, contribuindo para a precarização da vida do trabalhador e para a manutenção de relações laborais injustas.
Trabalhar seis dias seguidos com apenas um de repouso é insuficiente para a recuperação física e psicológica do trabalhador. Estudos mostram que jornadas exaustivas aumentam o risco de estresse, ansiedade, depressão e doenças ocupacionais, como lesões por esforço repetitivo (LER) e problemas cardiovasculares. O corpo e a mente necessitam de tempo para descanso, lazer e convívio social, algo que a 6×1 dificulta severamente.
Esgotamento físico e mental, dificuldade em conciliar vida pessoal e profissional, prejuízos à vida social e familiar e maior exposição a acidentes de trabalho são, hoje, parte da rotina de enorme parte da massa de trabalhadores do país. A rigor, estamos diante do vilipêndio do direito fundamental a uma vida digna. A saúde dos trabalhadores está em colapso. Afastamentos por transtornos como ansiedade e depressão cresceram quase 70% entre 2023 e 2024, segundo levantamento da Fiocruz.
Embora a CLT permita a 6×1, muitas empresas abusam desse modelo para maximizar produtividade a qualquer custo, ignorando o bem-estar do funcionário (o lucro acima da vida). Em setores como o comércio, onde os empregados frequentemente cumprem horas extras sem remuneração justa, a 6×1 torna-se um instrumento de exploração, especialmente em empregos mal remunerados e sem benefícios.
Um único dia de folga é insuficiente para dedicar-se a família, estudos, cuidados pessoais ou atividades de lazer. Essa rotina exaustiva perpetua um ciclo de alienação, em que o trabalhador vive apenas para sustentar o emprego, sem tempo para desenvolver outras dimensões da vida. Em países desenvolvidos, a tendência é a redução da jornada (como a semana de 4 dias), enquanto o Brasil ainda mantém modelos arcaicos como a 6×1.
Um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) nos mostra exemplos de países que já caminham no sentido oposto, com menos horas e mais tempo livre, como, por exemplo, a França (35 horas semanais de trabalho), a Alemanha (35 horas, com debate para reduzir a 28), a Bélgica (38 horas) e a Espanha (37,5 horas).
Mais além, países como Islândia e Suécia testaram a semana de 4 dias e comprovaram que houve aumento da produtividade, melhoria na saúde mental dos trabalhadores e redução de faltas e turnover (taxa de rotatividade de trabalhadores) nas empresas.
No Brasil, a reforma trabalhista de 2017 ampliou a precarização, facilitando acordos individuais que podem sobrepor a legislação. Muitas vezes, os trabalhadores aceitam a 6×1 por medo do desemprego, sem real poder de negociação. A fiscalização é frágil, e empresas frequentemente burlam direitos, como intervalos intrajornada e pagamento de adicionais e horas extras.
Não há dúvidas de que a jornada 6×1 é um retrocesso social que beneficia apenas o empregador, em detrimento da saúde e dignidade do trabalhador. É preciso repensar esse modelo, buscando alternativas que equilibrem produtividade e qualidade de vida, como a redução da jornada sem corte salarial. Enquanto o Brasil não avançar em direitos trabalhistas com firmeza, práticas como a 6×1 continuarão sendo um símbolo de desigualdade e exploração.
Nesse sentido, é urgente apoiar a PEC 08/2025, de autoria da Deputada Federal Erika Hilton, que prevê o fim da escala 6×1. A atual conjuntura é propícia para o aglutinamento da sociedade em torno da pauta que, logicamente, apesar de escancarar a luta de classes (ante a resistência do empresariado) é comum e benéfica a absolutamente todos os trabalhadores e trabalhadoras, independente do espectro político-ideológico onde se posicionem.
Uma importante forma de apoio, por exemplo, é a participação no plebiscito popular organizado por diversas organizações da sociedade civil. Há urnas físicas espalhadas por diversos pontos do país e a população também pode se manifestar através da Internet, votando pelo fim da escala 6×1.
Ou seja, o velho provérbio grego “a união faz a força”, da fábula de Esopo (O Feixe de Varas), nunca fez tanto sentido quanto atualmente, afinal “unidos, somos fortes e difíceis de derrotar, mas, divididos, somos facilmente vencidos”.