No mundo contemporâneo, a produção artística e cultural tem grande relevância para o desenvolvimento de muitas nações, seja no aspecto econômico, político ou social. Em virtude disso, a Universidade Federal Fluminense (UFF) desenvolve o projeto “Estudo Comparado da Organização das Artes – ECOA”, integrado ao Programa de Desenvolvimento de Projetos Aplicados (PDPA), parceria da Universidade com a Prefeitura de Niterói e a Fundação Euclides da Cunha (FEC). A proposta principal da pesquisa é voltada ao mapeamento de cadeias produtivas da cultura, na intenção de trazer reflexões sobre as relações entre cultura, economia e trabalho, e construir políticas públicas que colaborem na redução dos problemas enfrentados pelos trabalhadores dessa área.
Segundo o reitor Antonio Claudio Lucas da Nóbrega, o projeto revive a importância de incentivar, cuidar e valorizar os artistas e seus trabalhos da maneira mais ampla possível no município. “É importante salientar o interesse da prefeitura de Niterói, através desta parceria, em mapear as condições desses artistas e construir uma rede de trabalho e economia segura”.
A coordenadora do ECOA, professora Marina Bay Frydberg, do Departamento de Artes da UFF, explica que o estudo busca como público os trabalhadores da cultura, sejam artistas, gestores, produtores ou técnicos. Para abarcar o maior número possível de expressões artísticas, o projeto foi dividido em duas grandes áreas: Artes do espetáculo, que inclui carnaval, circo, dança, música e teatro; e Artes visuais, que inclui artesanato, escultura, fotografia, grafite, pintura e afins.
“Dentre as premissas da pesquisa e da metodologia, tentamos entender demandas, dificuldades e impasses do trabalho cultural, atendendo aos diferentes segmentos e sujeitos envolvidos na indústria da cultura de modo amplo, ou seja, sujeitos criadores e também aqueles participantes das fases de produção, divulgação, comercialização e gestão. A partir do mapeamento das condições de trabalho nos setores criativos das ‘Artes do espetáculo’ e das ‘Artes visuais’, pensar as relações entre cultura, economia e trabalho e, a partir disso, auxiliar na construção de políticas públicas para a área da cultura”.
O segmento “Artes do espetáculo” será mapeado no primeiro ano e o segmento “Artes visuais”, no segundo. O terceiro ano do projeto se volta a pensar os impactos gerados na cidade e a formulação de um banco de dados permanente para a captura de dados futuros sobre os referidos segmentos. A metodologia foi desenvolvida para ter uma primeira fase de coleta de dados quantitativos através de formulário online, a ser respondido pelos trabalhadores. A segunda fase é qualitativa, na qual são realizadas entrevistas em profundidade com atores culturais da cidade.
“Estamos finalizando a coleta de dados sobre as Artes do espetáculo e a previsão é de que os dados preliminares sejam divulgados até abril em nosso site e nas redes sociais do projeto. Iniciaremos, então, a etapa que irá coletar informações sobre as Artes visuais. No último ano do projeto, esperamos ter dados suficientes para a indicação de diretrizes para o desenvolvimento de políticas públicas em cultura da cidade de Niterói”, narra Marina.
A graduanda do oitavo período em Produção Cultural, Beatriz Ludolf, destaca que participar da iniciativa é uma experiência enriquecedora para sua vida pessoal e acadêmica. “A aproximação com o campo cultural amplia as perspectivas e possibilidades de trabalho. Temos contato direto com a produção da cultura fora do espaço acadêmico. São outras estratégias de ação e outros caminhos possíveis”. Já Alexandre Lima, do oitavo período do mesmo curso, analisa que, no momento atual, em que parte do cenário político brasileiro não prioriza a cultura, projetos como esse podem construir pontes de diálogos para que o melhor seja feito de forma justa e ideal. “A pesquisa ECOA Niterói busca compreender as diferentes vivências dentro do campo cultural e, a partir disso, criar novas direções que possibilitem avanços positivos”.
A coordenadora do projeto ressalta a relevância dessa parceria entre a UFF, a FEC e a Prefeitura de Niterói para o financiamento da pesquisa acadêmica no município. “Em um período de desmonte da ciência em nível federal, é fundamental poder desenvolver uma pesquisa aplicada, ou seja, que de forma mais objetiva possa incentivar a melhoria da vida das pessoas. Não estamos pensando apenas na cadeia produtiva da cultura, mas também na produção cultural a partir das vivências e das condições de trabalho dos atores do setor. Queremos ter uma visão concreta do que é preciso o artista fazer para produzir cultura em Niterói. A partir disso, o poder público poderá pensar modos de dar mais estrutura para que os trabalhadores possam realizar sua arte de maneira mais adequada, com segurança e financiamento”, conclui Marina.