Cultura

Niterói amplia em 33% investimento em pontos de cultura

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Foto: Alex Ramos
Aporte da prefeitura salta de R$ 900 mil para R$ 1,2 milhões e Secretaria das Culturas prepara aumento do número de projetos que receberão investimento

Niterói é diversa, com expressões artísticas construídas em diferentes territórios que, juntas, compõem a cultura da cidade. E a expectativa do setor, tanto para quem faz quanto consome arte, é de crescimento no próximo ano. A prefeitura, por meio da Secretaria das Culturas, vai injetar R$ 1,2 milhões para apoiar pontos com atividades artísticas espalhadas pela cidade. A quantia é 33% maior do que o investimento realizado no ano passado (R$ 900 mil). Atualmente, 12 pontos de cultura recebem financiamento da prefeitura e este número vai crescer nos próximos meses.

O prefeito Axel Grael explica que a ampliação do investimento nos pontos de cultura em Niterói se soma a um conjunto de outras políticas com foco na valorização do setor. “A cultura além de ser um direito e ser uma atividade de expressão individual ou coletiva, tem uma cadeia produtiva que movimenta a economia de uma forma muito potente. Niterói, no ano passado, investiu mais de R$ 60 milhões em cultura. Estamos recuperando a Casa Norival de Freitas, estamos fazendo a obra da Ilha da Boa Viagem e elaborando o projeto para a obra do Cine Icaraí, mais um espaço importante para a cultura da nossa cidade. Fizemos a desapropriação do imóvel e estamos trabalhando para implantar o primeiro centro cultural da Zona Norte. Na Região Oceânica teremos o espaço Ecocultural no Parque Orla de Piratininga. Em Niterói, no ano passado, nós investimos uma média de R$ 84 por habitante em cultura. Comparado com o Estado, que investiu R$ 24, podemos ter uma dimensão do investimento feito na cultura em Niterói”, destaca.

O investimento nos pontos de cultura é uma ação que integra um conjunto de metas da Secretaria Municipal das Culturas para fortalecer o acesso à produção e consumo dos fazeres artísticos na cidade. Para participar do edital de seleção e receber o financiamento, as organizações da sociedade civil devem possuir CPNJ, realizar há pelo menos dois anos ações culturais comprovadas por fotos, vídeos e portfólio, além de cumprir os requisitos do edital que será lançado a partir de setembro. A secretária das Culturas de Niterói, Júlia Pacheco, diz que a manutenção do financiamento dos atuais 12 pontos de cultura (lista completa no fim da matéria), acontecerá automaticamente mediante a avaliação da prestação de contas das organizações sociais. Como acontecerá a ampliação da rede é uma decisão que será feita coletivamente com agentes do setor.

“Apoiamos atualmente 10 pontos de cultura e dois pontões. A democratização do acesso, a valorização das trabalhadoras e trabalhadores da cultura e a participação social e a transparência, são as premissas da nossa gestão. A ampliação da Rede Municipal de Cultura Viva prevê a formação de um Grupo de Estudos, composto por sociedade civil e governo, para construir uma proposta de financiamento a partir da renovação de apoio prevista na Lei Cultura Viva. Todas as ações se articulam com a campanha Quero muito + cultura Niterói, um movimento do fórum municipal de pontos de cultura de Niterói que reconhece os investimentos municipais, especialmente durante a pandemia onde Niterói foi o único município a investir em cultura de forma ampla e transparente. Vamos juntos fazer essa discussão, se usaremos a ampliação da verba para financiar mais cinco pontos de cultura, ou dois novos pontões, por exemplo. Seguiremos o caminho para atingir cada vez mais lugares e pessoas”, adianta Júlia Pacheco.

Diversidade e Inclusão

O aumento da verba destinada ao financiamento dos pontos de cultura também vai assegurar a continuação do apoio aos que já fazem parte da rede, como a Sociedade Fluminense de Fotografia (SFF). Antonio Machado, o Toninho, diretor da instituição, diz que o apoio é fundamental para a manutenção e ampliação das atividades na sede da SFF, no Centro.

“Fazemos parte da rede de pontos de cultura há oito anos já e isso tem sido fundamental para nós nesse período. Ponto de cultura dizem que nós sempre fomos, mas fazer parte da rede de pontos de cultura da prefeitura nos permite dar mais visibilidade para as atividades que desenvolvemos aqui. Ocupamos os espaços com aulas, oficinas e exposições. Não deixa a coisa ansiosa e também nos integra com os outros pontos de cultura da cidade, o que para nós é muito interessante”, considera Toninho.

Dentre as atividades desenvolvidas pela SFF com o financiamento do município está a oficina de fotografia para estudantes com síndrome de down. O curso tem 20 aulas, sempre às segundas-feiras e quartas-feiras, e participam 20 alunos. Ator e modelo, Vinicius Pereira incluiu a oficina de fotografia da SFF na sua rotina de aulas de teatro, música, dança e futsal. A mãe do jovem de 24 anos, a profissional autônoma Josilane Pereira, conta que o interesse do filho pela fotografia aumenta a cada aula.

“Ele começou completamente desprendido, meio desfocado, e, de repente, começou a curtir muito. Ele agora tem bastante interesse por fotografia e mostra uma intimidade muito maior ao manusear a câmera. Até as fotos que ele faz com o celular melhoraram muito. Eu percebo que ele está curtindo cada vez mais, porque fica animado no dia de vir para aula e, depois que vai para casa, continua interessado em coisas ligadas a fotografia”, diz Josilane.

Moradora de Itaipú, Maria Fernanda Fróes, de 19 anos, também participa do curso de fotografia para estudantes com síndrome de down. A policial civil Beatriz Fróes, mãe de Maria Fernanda, diz que o método desenvolvido pela SFF, focado nas necessidades dos alunos, contribui para a adaptação da estudante.

“O que eles estão fazendo aqui é algo bem especial, porque é uma aula de fotografia adaptada para eles. Ao invés de muito conteúdo teórico, eles estão partindo com um conteúdo mais prático, dinâmico, o que tem cada vez estimulado mais ela a participar. A gente vê que é um curso com uma didática específica, elaborado para que eles possam assimilar da melhor forma. Dá para ver que há uma preocupação com isso, o que para mim é surpreendente, já que nunca passou pela minha cabeça, acho que nem pela Maria Fernanda, que ela pudesse fotografar. E ela está super interessada e conseguindo fazer fotos cada vez melhores”, comemora a mãe.

Cultura para todos

O reconhecimento de Niterói como referência em políticas culturais, em especial as políticas voltadas para ações de base comunitária, resultou na articulação de 22 países para realização do Primeiro Encontro Latinoamericano de Comunicação Popular da Cultura Viva Comunitária, que será realizado na cidade em outubro de 2023. O encontro é fruto da parceria entre o governo municipal e a sociedade civil. O evento será produzido por um grupo formado por diferentes setores da cultura da cidade, envolvendo a Secretaria Municipal das Culturas, a Coordenadoria Geral de Eventos e a Fundação de Artes de Niterói. Além de fortalecer o debate latinoamericano de cultura viva de base comunitária, o encontro promete ainda movimentar a economia da cidade. Virão a Niterói representantes de 22 países que integram 44 movimentos da rede Cultura Viva Latinoamericana para a troca de experiências com os pontos de cultura da Cidade.

Em outra frente de trabalho, a Secretaria Municipal das Culturas lança dois editais que somados vão injetar R$ 5,5 milhões no setor em Niterói. No último dia 14, foi lançado um edital de fomento direto de R$ 2,5 milhões para apoiar projetos de montagem e realização de espetáculos, shows ou exposições; circulação de atrações do tipo já concebidas; manutenção de grupos, coletivos ou companhias; produtos artísticos e culturais; além de residências artísticas e festivais. A chamada pública “Fomentão 2023” é uma ação das ações que integra o programa “Cultura é um Direito”.

Na próxima quarta-feira (21) será o lançamento do edital de fomento indireto, através de incentivo fiscal, que vai disponibilizar R$ 3 milhões para projetos culturais. O principal objetivo das propostas é reconhecer, fomentar, valorizar a diversidade, pluralidade e a singularidade das produções artísticas da cidade.

Pontos de cultura apoiados atualmente pela prefeitura:

  • BemTV (Pontão)
  • Campus Avançado (Pontão)
  • Arte da Possibilidade – Gingas
  • Associação para o desenvolvimento comunitário do Preventório
  • Bloco Afro Cultural Olodumaré
  • Centro de Estudos Afro Brasileiro Ironides Rodrigues
  • Espaço Alternativo livre recreativo cultural Quilombo do Candongueiro e “Cordão Agoniza Mas Não Morre”
  • Grêmio Recreativo Cultural Bloco Carnavalesco Data Vênia Doutor
  • Grêmio Recreativo e Cultural Garra de Ouro
  • Instituto Mestrissimo Zezeu Capoeira Estilo Livre
  • Reciclarte
  • Sociedade Fluminense de Fotografia (SFF)