Carnaval 2025

Viradouro busca o bicampeonato no Carnaval 2025

A Unidos do Viradouro busca o bicampeonato no Carnaval 2025 com um enredo cultural impactante sobre Malunguinho.

© Tânia Rêgo/Agência Brasil
© Tânia Rêgo/Agência Brasil

Rio de Janeiro - Em busca do bicampeonato no Carnaval do Rio 2025, a escola de Niterói, Unidos do Viradouro, aposta em um enredo de forte impacto cultural e espiritual. “Malunguinho: O Mensageiro de Três Mundos” será o fio condutor do desfile da escola, trazendo à tona a história de um dos maiores líderes quilombolas do Brasil, uma figura de resistência e religiosidade que transita entre três mundos: o dos indígenas, o dos quilombolas e o espiritual.

O carnavalesco Tarcísio Zanon, responsável pelo enredo, revelou que a escolha do tema surgiu a partir de uma pesquisa iniciada durante a pandemia, quando passou a se aprofundar na cultura do Catimbó e da Jurema Sagrada, elementos essenciais para a narrativa do desfile.

Um enredo de reparação cultural

De acordo com Zanon, a escolha de Malunguinho como tema do desfile não é apenas uma homenagem, mas também uma tentativa de trazer visibilidade a um personagem pouco conhecido pelo grande público, mesmo entre pernambucanos, onde sua história é mais enraizada.

“Estamos falando de reparação cultural. Malunguinho foi um dos maiores líderes quilombolas do Brasil, mas sua história ainda é desconhecida por muitos. Ele liderava um quilombo itinerante, que se estendia de Pernambuco até a Paraíba, usando táticas indígenas para sobreviver e escapar de seus perseguidores. É um personagem que vive na oralidade popular, nos cânticos do Catimbó, e agora queremos elevá-lo ao panteão dos grandes heróis nacionais”, explica o carnavalesco.

Carnavalesco Tarcísio Zanon e Alessandra Reis, diretora de Ateliê, preparam desfile em que a Viradouro tentará o bicampeonato – Tânia Rêgo/Agência Brasil

Além de sua luta enquanto líder quilombola, Malunguinho também se tornou uma entidade espiritual, reverenciada em diversas tradições afro-indígenas. No desfile, a Viradouro apresentará a jornada do personagem em três estágios: primeiro como João Batista, líder rebelde que enfrentou os senhores de engenho; depois como caboclo curandeiro, aprendendo os segredos das ervas com os indígenas; e, por fim, como Exu Trunqueiro, a entidade espiritual que abre caminhos e protege seus fiéis.

Mistério e sinais espirituais na escolha do enredo

A escolha de Malunguinho como tema do desfile veio acompanhada de uma série de coincidências místicas, segundo Tarcísio Zanon. Após a conquista do título de 2024, a equipe da escola celebrava em um sítio em Jacarepaguá quando, de repente, uma densa fumaça tomou conta do local.

“Meu pai de santo disse que era um sinal. Eu me lembrei da minha pesquisa e do significado da palavra Catimbó, que significa ‘fumaça de mato’. Foi aí que soube que o enredo deveria ser sobre a Jurema e Malunguinho”, revelou Zanon.

Além do embasamento histórico, a escola está conduzindo um intenso trabalho espiritual para garantir que o desfile faça jus à grandiosidade do tema. A diretora de ateliê, Alessandra Reis, revelou que no barracão há um espaço dedicado à presença de Malunguinho.

“Lá em Recife, aprendemos com um juremeiro como cuidar da entidade. No barracão, ele escolheu ficar na esquerda, e é lá que ele está sendo reverenciado diariamente. Isso tem trazido um ambiente de muito respeito e comprometimento ao nosso trabalho”, conta Alessandra.

Detalhe de carro alegórico da Viradouro, que contará a história de Malunguinho, um líder quilombola ainda pouco conhecido – Tânia Rêgo/Agência Brasil

A importância cultural e educativa do desfile

Para o carnavalesco, além do impacto visual e sonoro, o enredo tem um papel educativo. Assim como Fernando Pamplona, nos anos 60, inseriu personagens históricos como Zumbi dos Palmares e Chica da Silva no imaginário popular, a Viradouro pretende fazer o mesmo com Malunguinho.

“O samba e o desfile têm a capacidade de tirar o público do lugar-comum e apresentar novas histórias. Nossa missão é transformar a escola de samba em um espaço de aprendizado e reconhecimento da cultura afro-brasileira”, destaca Zanon.

Para fortalecer essa abordagem, a equipe de carnaval produziu um glossário musical, com pontos cantados em homenagem a Malunguinho, disponíveis em plataformas de streaming. Muitos desses cantos foram ensinados por senhoras que guardam a tradição oral do Catimbó.

Caminho aberto para o bicampeonato?

Com um enredo poderoso e uma equipe comprometida, a Viradouro chega forte para o Carnaval 2025. A expectativa de Zanon é alta:

“A chave já está na mão de Malunguinho. Estamos cercados de história, de pesquisa e de espiritualidade. A Viradouro está pronta para mais um grande desfile e, quem sabe, trazer o bicampeonato para Niterói.”