Por Eduardo Vilela
Prof. Da Faculdade de Turismo e Hotelaria da UFF
Em 1974 Jorge Ben lançava com produção de Paulinho Tapajós o LP, em Vinil, claro, “A tábua de Esmeralda”, cuja faixa de abertura chama-se “Os Alquimistas estão chegando os Alquimistas”. Vivia o grande e magistral Jorge Ben uma fase mística. Diz a lenda que o artista teve contato com a alquimia ainda moço, na época em que trabalhava como despachante no centro do Rio de Janeiro. O seu interesse na época era frequentar as casas de Ourives para entender como se processava a produção de ouro. Diz a letra: Eles são discretos e silenciosos / Moram bem longe dos homens / Escolhem com carinho / A hora e o tempo / Do seu precioso trabalho / São pacientes, assíduos e perseverantes / Executam / Segundo as regras herméticas / Desde a trituração a fixação / A destilação e a coagulação… / De temperamento sórdido / De temperamento sórdido. A sonoridade do disco exerce uma forte influência sobre a obra de diversos músicos brasileiros nos anos 1970 e ajuda a impulsionar o cenário do samba-rock e do samba-soul da época.
De 1974 para 2021, transcorridos 47 anos, muitas coisas aconteceram nesse mundo, entre as quais, o início de uma silenciosa revolução, a Digital. Já em 1989, na prestigiosa MIT, Tim Bernes Lee, físico inglês, apresentava ao mundo o World Wide Web, o WWW que digitamos para acessar os sites na internet. Já consolidada a 3ª Revolução Industrial, assumimos a sociedade em Rede e partimos para a massificação da internet, as mídias sociais. Surgem os grandes buscadores, o Google, novas formas de se relacionar, o Facebook, a Kodak fecha, mas o Instagram abre um espaço incrível, de tal magnitude, que viramos todos fotógrafos. Os projetos em 3D avançam, a realidade virtual, as novas formas de produzir e comercializar, o e-commerce. Estamos na era dos serviços e entre estes, o turismo ganha espaço e se consolida como um dos maiores fenômenos contemporâneos do mundo capitalista.
Os Alquimistas saem de cena, chegam os Nômades Digitais. Continuam discretos e silenciosos, mas adoram ficar perto dos homens, das mulheres, enfim, o calor das pessoas, o sorriso. Cada vez mais escolhem com carinho a hora e o tempo do seu precioso trabalho, continuam pacientes, assíduos e cada vez mais perseverantes. O temperamento já não é sórdido, mas alegre, descontraído, embora muitas vezes solitário. Já não buscam os centros de informação turística na Praça Arariboia, estes estão em suas mãos, QR Codes, precisam de conexão. Percebem a energia do local, o visual incrível, a vista do Rio, a beleza escandalosa da cidade, exatamente como na busca feita algum tempo atrás.
Sem dúvida, vou ficar, um Airbnb logo ali no gragoatá, maravilha. Entre um click e outro, os lugares aparecem também para trabalhar, descobre o Reserva, a cidade sai da tela, entra na real. E vai ficando. Icaraí, São Francisco, Jurujuba, Itacoatiara, o MAC, uau. Até quando, francamente, não se sabe. E vai ficando, trabalhando, se divertindo, entrando pela cidade, a pé, caminhando, de ônibus de bicicleta. E da forma que chegou, sem buscar a trituração, a fixação, partiu. Sempre em busca de uma outra, mas Niterói ficou na mente, gravado, que lugar incrível. Ai galera, fiquem bem, em paz, saudades, vou voltar.