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Tradição do gurufim embala despedida de Arlindo Cruz no Rio

Velório de Arlindo Cruz tem gurufim no Império Serrano até domingo. Samba, tradição afro-brasileira e emoção marcam a despedida do ícone.

Arlindo Cruz | Divulgação
Arlindo Cruz | Divulgação

O mundo do samba se despede de um dos seus maiores nomes. O corpo de Arlindo Cruz, cantor, compositor e ícone do samba, está sendo velado desde as 18h deste sábado (9) na quadra do Império Serrano, em Madureira, Zona Norte do Rio.

O velório segue no formato gurufim — tradição afro-brasileira que mistura música, confraternização e despedida — e ficará aberto ao público até 10h deste domingo (10). O sepultamento está marcado para 11h, no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, Zona Oeste.

A Prefeitura do Rio decretou luto oficial de três dias e anunciou que o futuro Parque Piedade levará o nome do sambista.

Reprodução

O que é o gurufim?

De origem africana, a palavra “gurufim” vem do quimbundo, idioma falado em Angola, e significa adeus ou despedida.
No Brasil, especialmente no Rio, passou a designar velórios festivos, muitas vezes realizados em casa, com música, comida, bebida e encontros que atravessavam a noite até o enterro.

No candomblé e na umbanda, o termo tem sentido ritualístico, ligado ao encaminhamento da alma. Entre sambistas, o gurufim é um momento de celebração da vida e homenagem ao falecido.

Arlindo Cruz eternizou o termo em seu samba “Meu Gurufim”, que brinca com a ideia de observar quem choraria ou festejaria em sua despedida.

© Tânia Rêgo/Agência Brasil

Meu Gurufim
Arlindo Cruz

Eu vou fingir que morri
Pra ver quem vai chorar por mim
E quem vai ficar gargalhando no meu gurufim
Quem vai beber minha cachaça
E tomar do meu café
E quem vai ficar paquerando a minha mulher

Quando o caixão chegar
Eu me levanto da mesa
E vou logo apagar
As quatro velas acesas
E vou dizer pra minha mãe
Não chora
Amigo a gente vê é nessa hora


Legado e história no samba

Com mais de 700 músicas compostas, Arlindo Cruz construiu sua trajetória no Cacique de Ramos, tocando cavaquinho e participando de rodas com mestres como Zeca Pagodinho e Almir Guineto.

Pelo Império Serrano, compôs 12 sambas-enredo e foi homenageado em 2023 com um enredo especial.
Nas redes sociais, a escola declarou:

“O Império Serrano lamenta, com imenso pesar e profunda dor, o falecimento de Arlindo Cruz, aos 66 anos, um dos maiores nomes da história do samba e filho ilustre da nossa coroa imperial.”

O Cacique de Ramos também se manifestou, destacando que a trajetória de Arlindo “permanece inscrita na história do samba e na memória da instituição”.


Últimos anos e falecimento

Arlindo Cruz morreu nesta sexta-feira (8), aos 66 anos, por falência múltipla dos órgãos. Ele estava internado desde abril no Hospital Barra D’Or, na Zona Oeste do Rio.

Desde 2017, o sambista convivia com sequelas de um AVC hemorrágico e passou por várias internações.


Programação da despedida

  • Velório: até 10h deste domingo (10), na quadra do Império Serrano, aberto ao público.
  • Cerimônia restrita: para familiares e amigos, antes do sepultamento.
  • Sepultamento: 11h, no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap.