Renascença Clube
Foto: Divulgação / Prefeitura do Rio

Um dos corações da cultura afro-brasileira no Rio voltou a bater mais forte. No Dia da Consciência Negra, o Renascença Clube foi oficialmente reinaugurado, depois de um amplo ciclo de reforma e revitalização. Localizado em Andaraí, na Zona Norte, o espaço volta a ser referência de resistência, convivência e celebração da negritude carioca, agora mais moderno, acessível e preparado para receber novas gerações.

Renascença Clube é reinaugurado no Dia da Consciência Negra

Um importante símbolo da cultura afro-brasileira voltou a pulsar com ainda mais força no Dia da Consciência Negra. O Renascença Clube, histórico local de resistência, convivência e celebração da negritude carioca, localizado em Andaraí, na Zona Norte, estava em reforma desde o início de 2024 e, nesta quinta-feira (20), foi oficialmente reinaugurado, com um espaço completamente revitalizado.

De acordo com a Prefeitura do Rio, a revitalização foi executada pela Rio-Urbe, em uma área de cerca de 2,1 mil m², com investimento próximo de R$ 4 milhões para modernizar a estrutura, adequar a acessibilidade e requalificar instalações elétricas e hidrossanitárias.

História e papel do Renascença Clube na negritude carioca

Fundado em 1951, o Renascença Clube nasceu no Méier, também na Zona Norte, criado por um grupo de negros de classe média que eram impedidos de frequentar clubes tradicionais da elite branca. A ideia era simples e revolucionária: um espaço seguro para que famílias negras pudessem se reunir, se divertir e construir uma vida social livre de discriminação racial.

Poucos anos depois, a sede foi transferida para Andaraí, onde permanece até hoje, consolidando-se como um dos principais redutos da cultura afro-brasileira e do samba de raiz no Rio de Janeiro.

Ao longo das décadas, o “Rena” se tornou palco de:

  • bailes black e bailes de soul e samba;
  • rodas históricas com nomes como Martinho da Vila, Dona Ivone Lara, Elza Soares, Nei Lopes e Candeia;
  • concursos de beleza negra e eventos ligados ao Movimento Negro;

Reconhecido como um verdadeiro “quilombo urbano” e ponto de memória da cultura negra carioca, o clube é hoje listado como espaço de referência da história cultural negra no município e abriga um acervo com documentos, fotos, vídeos e pesquisas sobre essa trajetória.

Reforma moderniza o espaço e fortalece a memória negra

Intervenções estruturais e novos ambientes

A reforma do Renascença Clube foi pensada para combinar preservação histórica e modernização. Segundo a Prefeitura e a Rio-Urbe, as principais intervenções incluíram:

  • ampliação da portaria e criação de novo guichê de bilheteria;
  • construção de um segundo pavimento para abrigar secretaria e copa;
  • instalação de uma nova fachada com painéis metálicos e climatização da área administrativa;
  • substituição completa do piso externo por concreto armado e porcelanato, com sistema de drenagem refeito;
  • modernização da quadra esportiva coberta, com piso de concreto nivelado a laser, nova pintura e demarcações, reforma da cobertura e instalação de exaustores eólicos;
  • transformação dos antigos sanitários em vestiários modernos e acessíveis;
  • atualização das instalações elétricas e hidráulicas, com iluminação em LED e novos quadros de distribuição.

Além disso, o contrato de obras foi ampliado ao longo de 2025 para incluir novas salas em segundo e terceiro pavimentos, elevando o investimento total para cerca de R$ 3,8 milhões, conforme registros no Diário Oficial citados pela imprensa.

Centro de Memória Sebastiana Arruda

Um dos pontos centrais da revitalização é o Centro de Memória Dra. Sebastiana Arruda, responsável por registrar os mais de 70 anos de história do clube. O espaço ganhou:

  • nova sala multiuso para exposições, palestras e atividades formativas;
  • banheiros acessíveis;
  • elevador, facilitando o acesso de pessoas com mobilidade reduzida;
  • ampliação da área dedicada a acervo, com foco em memória, ancestralidade e educação antirracista.

O acervo reúne documentos, fotografias, livros, teses e registros de diferentes fases do clube: dos bailes de sociedade negra e concursos de beleza às lutas contra o racismo, projetos de economia criativa afro-brasileira e ações de formação.

Acessibilidade e conforto para o público

A reforma também priorizou acessibilidade e conforto. Entre as melhorias estão:

  • novos vestiários acessíveis;
  • adequações de circulação interna e níveis de piso;
  • climatização em áreas administrativas;
  • modernização da infraestrutura elétrica e hidráulica, aumentando a segurança para grandes eventos;
  • iluminação em LED, com menor consumo e melhor qualidade de luz.

Com isso, o Renascença Clube se prepara para receber desde rodas de samba e feijoadas até cursos, oficinas, eventos para a terceira idade e ações de capacitação em empreendedorismo e cultura afro-brasileira.

Programação no mês da Consciência Negra

Tradicionalmente, o mês da Consciência Negra é um dos mais simbólicos para o Renascença Clube, que costuma abrir suas portas para uma agenda intensa de atividades. Em 20 de novembro, data da reinauguração, a casa recebeu uma programação especial, com samba, feijoada e homenagens, reforçando o caráter de encontro e celebração da cultura preta.

Ao longo do período, o clube organiza eventos como rodas de samba temáticas, encontros de coletivos negros, debates sobre antirracismo, atividades com entrada gratuita e ações voltadas para a comunidade do entorno, mantendo vivo o papel de espaço de memória, resistência e convivência.

Importância simbólica para a cidade e para o movimento negro

Mais do que um clube social, o Renascença é um patrimônio cultural da cidade do Rio e um marco da história da população negra na capital. Foi ali que gerações se encontraram para construir redes de apoio, organização política, lazer e afirmação identitária em um contexto de racismo estrutural.

A revitalização entregues pela Prefeitura reforça esse papel: ao devolver o espaço modernizado e acessível, o poder público contribui para que o Renascença Clube siga como lugar de samba, memória, formação política, arte e educação antirracista, dialogando com a cidade e com as novas gerações.