
A quadra da comunidade do Inferninho, localizada no bairro de Piratininga, na Região Oceânica de Niterói, ganhou novos significados, cores e narrativas ao se transformar em uma galeria de arte a céu aberto. A mudança é resultado de uma intervenção urbana coletiva que reafirma o graffiti como ferramenta de transformação social, valorizando o espaço público e fortalecendo os vínculos comunitários.
A ação faz parte do projeto Soul da Tribo Ocupa Inferninho e reuniu os grafiteiros Siri do Muro, Gugie, Acme e Airá, responsáveis por criar painéis integrados que dialogam com a identidade cultural da comunidade e com as histórias de quem vive no território.

Arte como homenagem e memória coletiva
Além da proposta estética, a intervenção também carrega um forte valor simbólico e afetivo. Os murais prestam homenagem a Messi, como era conhecido um jovem morador da comunidade que faleceu em um acidente neste ano. A memória dele passa a ocupar o espaço de forma permanente, transformando dor em expressão artística e pertencimento.
“Me sensibilizei com a possibilidade de homenagear uma pessoa querida pela comunidade como o Messi. Por isso, pintei um menino deitado sobre uma bola de futebol, eternizando a história dele e de tantos outros meninos que sonham em ser jogadores”, explica o grafiteiro Acme.
Murais conectados e representatividade
Os painéis foram pensados de forma integrada, criando uma narrativa visual que se completa ao longo da quadra. A proposta também trouxe representatividade feminina e elementos simbólicos que ampliam o significado da homenagem.
“O painel foi pensado como uma história bonita que ficasse para revitalizar a quadra. Pintei uma juíza que apita ao olhar para o menino dormindo sobre a bola, como um despertar simbólico, eternizando a presença dele ali. O objetivo também foi criar um elo entre os murais da comunidade”, conta a artista Airá.
Graffiti como ocupação positiva do espaço público
Mais do que arte, o projeto propõe uma ocupação positiva do território, aproximando cultura, cotidiano e identidade local. Os murais transformam a quadra em um ponto de encontro, convivência e orgulho para os moradores.
A iniciativa integra o projeto Campus Avançado, idealizado pela Gira Produções, com assessoria de produção da Realize Cultura, e conta com fomento do Governo Federal, por meio do Ministério da Cultura e da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural.
Transformação que nasce do território
Para Thaís Pereira, produtora cultural, idealizadora do projeto e curadora do Soul da Tribo, a intervenção mostra o poder da arte urbana quando nasce do diálogo com a comunidade.
“A proposta foi mostrar que o graffiti pode transformar a relação das pessoas com o espaço onde vivem, criando pontos de conexão que dialogam com a cultura local e fortalecem o sentimento de pertencimento”, destaca.
Ao colorir os muros da quadra, o Soul da Tribo Ocupa Inferninho deixa um legado que vai além da estética: promove memória, afeto, representatividade e transformação social, reforçando o papel da arte urbana como instrumento de cuidado com a cidade e com as pessoas.