Entrevista

Pedro de Luna: "Sempre quis colocar Niterói no mapa do Rock Nacional"

Entrevista do jornalista Mario Sousa com Pedro Luna

Pedro de Luna | Foto: Zeca Santos
Pedro de Luna | Foto: Zeca Santos

Quem é Pedro de Luna? Nesta entrevista, o jornalista, o escritor, o produtor, desenhista, fala de sua paixão pelo Rock, por biografia, seus 17 livros publicados, que morou em Niterói por 30 anos, produziu vários eventos, entre eles, o Arariboia Rock, que ficou à frente por 10 anos e toda sua trajetória.

Para Luna, desde cedo suas preferências foram muito claras, “por que tudo sempre se misturou, jornalismo, desenho, literatura e música”. Ele lembra do estágio na Fluminense FM durante o curso de Comunicação Social da UFF, em 1993, onde conheceu um mundo de bandas novas, ditas underground. Dali foi trabalhar numa gravadora independente no Rio e criou seu primeiro fanzine.

Ao longo das décadas, produziu shows, campeonatos de skate, empresariou bandas, colaborou com jornais e revistas, cobriu vários festivais de rock pelo país, criou o Jornal do Rock e o movimento Arariboia Rock.

O objetivo, segundo Luna, foi sempre colocar Niterói no mapa do rock nacional, aumentar a autoestima, gerar mais oportunidades para os artistas locais, conhecer novas cenas, e imortalizar boas histórias em livros.

Com 17 livros publicados, muitas biografias. Luna explica este interesse pela biografia. “Depois de tantos anos no jornalismo, senti a necessidade de ir mais a fundo nas pesquisas, e registrar todo esse conhecimento num produto com maior longevidade, como o livro. O fato de começar a escrever também biografias vem desse desejo por algo mais denso e menos raso, além de dar visibilidade a pessoas que ainda não tiveram o reconhecimento devido, imortalizando as suas histórias para a posteridade”, ressalta.

Suas novas publicações são: um novo livro infantil (“O Dragão e a Formiguinha corajosa protegem as águas”) e, biografia sobre os 40 anos da banda pernambucana mundo livre s/a (em minúsculas mesmo).

Pedro Luna faz um resumo de cada obra publicada, lembrando o seu primeiro livro, “Niterói Rock Underground 1990-2010” (2011), como uma autobiografia e da cena alternativa niteroiense. Foram três anos fazendo lançamentos pelo Brasil, além de Buenos Aires, Montevideo, Madri e Lisboa. “Um baita aprendizado que me encorajou a seguir pelo caminho dos livros independentes”, afirma. Depois publicou “Marcatti – Tinta, suor e suco gástrico” (Marsupial Editora, 2014), sobre o quadrinista paulista que até hoje desenha, imprime e vende ele mesmo os seus livros e revistas. A terceira biografia, “Brodagens – Gilber T e as histórias do rap e do rock carioca” (Ilustre Editora, 2016) tem o músico Gilber T como condutor e aprofunda, por exemplo, na cena do Rio, de São Gonçalo e arredores. “O mais bacana foi o combo que fizemos, com o meu livro e o novo CD solo do Gilber, chamado “Contradições”. Então ao invés da máxima “leia o livro e veja o filme” era “leia o livro e escute o disco”, diz.

Em 2017, lancou duas biografias pela Ilustre Editora: “Filipe Salvador: a cultura de Angola no Brasil”, sobre um incrível pintor angolano que fugiu da guerra civil para o Brasil e fez uma carreira de sucesso, e, também “Chico Alencar – caminhos de um aprendiz”, sobre o professor, historiador e deputado federal carioca. No ano seguinte, fiz a primeira e até, então, única biografia de um evento, o festival Porão do Rock, realizado, anualmente, em Brasília, e que eu cobri desde a primeira edição, em 1998. “Histórias do Porão” (Ilustre Editora, 2018) foi lançado quando o evento completou 20 anos. Quase simultaneamente saiu “Planet Hemp: mantenha o respeito” (Belas-Letras Editora, 2018), a minha maior obra até então, com 496 páginas, com a qual viajei pelo Brasil fazendo lançamentos em lugares que eu não conhecia, como Manaus e Belém, além do Festival de Inverno de Garanhuns, no agreste pernambucano. Segundo Luna, foi o livro mais difícil de todos, mas que lhe enche de orgulho.

Em 2019, escreveu o seu segundo livro a quatro mãos, a biografia “Eu sou assim Eu sou Speed” (Ilustre Editora) sobre o MC, baixista e produtor Speed (ou Speed Freaks), que integrou o Planet Hemp no início e foi, por muitos anos, dupla do rapper Black Alien.

Com a pandemia, Luna produziu vários livros infantis pela coleção “Conte uma História”, só voltando às biografias em 2022, com o lançamento de “CHAMP – A incrível história do baixista Champignon do Charlie Brown Jr” (Ilustre Editora, 2022). Nesta obra densa, emocionante e investigativa, dissecou a carreira de 35 anos do Champignon nos mínimos detalhes, um livro de 496 páginas, resultado de dois anos de árdua pesquisa e viabilizado por crowdfunding pela Kickante.

Atualmente, Luna mergulha na história da banda mundo livre S/A, que surgiu em 1984 com três de seis irmãos, que ouviam LPs e frequentavam bailes. Na liderança, o vocalista e estudante de jornalismo Fred 04, fã de Jorge Ben Jor e leitor do jornal O Pasquim, comprado clandestinamente em bancas específicas.

De acordo com Luna, a banda mundo foi a primeira banda contemporânea a misturar rock com samba, além de criar fusões musicais com samba-rock, maracatu, ciranda e até bossa nova, sem falar na inovação de levar o cavaquinho para uma banda de rock!

Além dessa biografia, trabalha como editor. “E, claro, continuo desenhando bastante, mas menos do que gostaria. Fico feliz por inspirar um ou outro, mas ser artista no Brasil não é para amadores. Então, eu tenho que ser versátil e me adaptar o tempo todo”, ressalta.

Pedro de Luna fala do panorama da literatura no País, falta de apoio público e privado e como é injusto um autor que dedique tanto tempo de sua vida, com pesquisa, criação, receber apenas 10% da sua obra, que é a porcentagem padrão paga pelas editoras tradicionais. “Eu invisto mais na venda direta ao leitor, mas se não há incentivo à leitura e a formação de novos leitores, diminui a quantidade de consumidores do que eu faço”, destaca.

Nas três décadas que morou em Niterói, lembra que foi um dos grandes divulgadores da cultura alternativa da cidade, com produção de centenas de shows e trouxe artistas de todo o Brasil e até do exterior para tocar em Nikiti City, criamou em 2005 um Dia Municipal do Rock, ganhou uma medalha de escritor e moções da Câmara de Vereadores, da ALERJ e até da Câmara Legislativa do Distrito Federal. “Ainda assim eu nunca lancei um livro pela Niterói Livros. Não é surreal?”, conclui.