
Niterói - A Prefeitura de Niterói vai criar o Centro de Avaliação e Inclusão Social (Cais), um espaço inédito no município voltado ao atendimento de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A iniciativa busca oferecer acolhimento, diagnóstico e tratamento com o apoio de uma equipe multidisciplinar e uma rede integrada de saúde, educação e assistência social.
Inicialmente, o Cais deverá atender cerca de 1.300 crianças e adolescentes autistas, e será localizado no Centro de Niterói.
Projeto intersetorial para acolher famílias atípicas
A proposta foi apresentada na quinta-feira (24) pelo prefeito Rodrigo Neves a representantes de instituições e famílias atípicas. O prefeito anunciou que a medida será formalizada como um projeto de lei a ser encaminhado à Câmara Municipal de Niterói no início de agosto.
“Nosso objetivo é transformar Niterói em referência em inclusão, atendimento e acolhimento dessas famílias. Conseguimos estruturar esse programa que, agora, será encaminhado como projeto de lei para a Câmara Municipal. Estamos propondo a criação do Centro de Avaliação e Inclusão Social das crianças atípicas. Esse será um porto seguro para as famílias e para as crianças, com ações articuladas nas áreas de saúde, educação, assistência social e transporte, incluindo a ampliação do serviço de transporte. Com esse novo projeto de lei, vamos garantir segurança jurídica e efetividade para implantar o melhor programa de acolhimento e desenvolvimento de crianças com transtornos do espectro do Estado do Rio de Janeiro”, afirmou o prefeito.
Atendimento especializado e gratuito
O Cais contará com consultórios, salas terapêuticas e espaços lúdicos. A equipe será formada por neuropediatras, psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, assistentes sociais, entre outros profissionais. Também haverá integração com a rede pública já existente, como os Módulos do Médico de Família, Policlínicas Regionais e o Capsi Monteiro Lobato.
“Nosso objetivo é criar um programa e uma rede integrados em um centro de referência, para que possamos não apenas fazer o acolhimento inicial, mas desenvolver um trabalho terapêutico e assistencial em consonância com as secretarias de Educação e de Assistência, para que as pessoas com autismo sejam incluídas plenamente na sociedade, em qualquer nível – tanto na escolaridade quanto em formação e convivência”, explica a secretária municipal de Saúde, Ilza Fellows.
Avaliação individual e plano terapêutico
Cada criança atendida passará por uma avaliação multidisciplinar, que dará origem a um plano terapêutico individualizado, considerando seu grau de autismo e suas necessidades. O objetivo é promover o desenvolvimento de habilidades e facilitar a inclusão plena na sociedade, desde a escolarização até a formação profissional.
Fundadora do Espaço Céu, Virgínia Vasquez trabalha há 33 anos com autismo e mantém há 18 anos uma clínica privada para pessoas neurodivergentes.
“Nós não podemos mais deixar as nossas crianças sem um tratamento adequado. E nós temos a realidade de hoje, que é realmente uma questão de saúde pública. Então, precisamos olhar com muito cuidado, amor, carinho e com muito comprometimento, baseado na ciência, para um trabalho com essas pessoas divergentes, para que elas possam ser efetivamente implementadas na sociedade”, disse.
Cordão de girassol, cultura e contraturno escolar
Entre as ações previstas pelo programa, destacam-se:
- Distribuição do cordão de girassol e carteira de identificação;
- Atividades culturais e esportivas no contraturno escolar;
- Ampliação do transporte adaptado para autistas;
- Parcerias com instituições do terceiro setor já atuantes na cidade.
Famílias comemoram avanço histórico
O anúncio foi celebrado por representantes de coletivos como a Casa Atípica e a página Pais Além do Espectro. A mobilização de mães, pais e profissionais que convivem com o autismo em Niterói foi essencial para que a proposta ganhasse forma.
“É um sonho, na verdade, de todas as famílias atípicas. A gente torce demais para ver acontecer esse projeto intersetorial, que vai além da educação, da saúde, visando as famílias atípicas, as nossas crianças autistas e dando suporte com muitos desafios. Mas é um pontapé para uma nova história e para a nossa cidade realmente virar referência de uma cidade inclusiva. A gente torce muito e estamos juntos para que isso dê certo”, frisou Lilian.
Responsáveis pela página nas redes sociais “Pais Além do Espectro”, o casal Lilian Carvalho e Paulo Roberto Carvalhosa participou do encontro ao lado da filha Alice.
Niterói como referência em políticas públicas para o autismo
O município já possui a Lei Municipal 3.636, que assegura direitos às pessoas com TEA, além de seguir a legislação federal. O novo projeto do Centro Cais reforça o objetivo de fazer de Niterói uma cidade modelo em inclusão social e atendimento humanizado.
Capsi Monteiro Lobato: base para a nova rede
O atual Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (Capsi), no bairro Santa Rosa, é referência no atendimento de jovens com sofrimentos psíquicos e já realiza cerca de 2.000 atendimentos por mês — sendo um terço de autistas. A nova estrutura do Cais ampliará essa capacidade, com mais recursos e integração entre as políticas públicas.
Próximos passos
Em agosto, será enviada à Câmara a Mensagem Executiva com o projeto de lei estabelecendo as diretrizes e encargos do novo centro. A expectativa da prefeitura é iniciar os atendimentos o quanto antes, após aprovação e contratação da equipe especializada.