Nova Música

“Artista não morre, fica encantado”: uma homenagem à Arthur Maia

Um dos maiores contrabaixistas do mundo escolheu Niterói para morar e foi secretário de cultura da cidade

Arquivo Pessoal
Arquivo Pessoal

É sempre muito triste perder pessoas especiais. Só que, quando o tempo vai passando, é preciso reconhecer e valorizar o privilégio que tivemos ao conhecer e dividir momentos únicos com quem já se foi. É o caso de Arthur Maia na minha vida.

Conheci Arthur nos anos 90, quando eu cismei de estudar contrabaixo. Já cheguei a estudar bateria, mas me defini como produtor e não me estabeleci como músico. Mas, em 1994, aos 20 anos, frequentava a casa de Arthur e sua ex-esposa Claudinha, em Itaipu, e tentei aprender a tocar baixo com ele. Imagina! Eu mais via ele tocar e admirava do que tentava aprender.

Com isso surgiram ideias para música – até hoje procuro a fita K7 que tem uma melodia que o Maia fez para uma letra minha – e nossa maior parceria: o bar e casa de shows Nikiti Pub, montado por ele e que eu participei como Assessor de Imprensa e divulgador.

Isso tudo foi muito antes do Arthur – que já viajava o mundo tocando em festivais de jazz com Gilberto Gil, Cama de Gato e outros artistas – se tornar secretário de cultura da cidade.

Ele foi convidado pelo então prefeito Rodrigo Neves para assumir o cargo, que ocupou de 2013 até 2016. Quando entrou para o serviço público, além de ajudar muitos artistas, produtores e músicos locais, Arthur realizou um festival de jazz no Campo de São Bento, apoiou iniciativas através da secretaria e continuou viajando o mundo e fazendo shows no Brasil com os grandes nomes que sempre acompanhou.

Quem não conhece o álbum “Equilibro Distante”, de Renato Russo? Aquele no qual ele canta “Strani Amore”? Pois bem, o baixista daquele álbum é o Arthur. Outra artista que não abandonava os serviços de Maia era a Marisa Monte. São dele a maioria dos contrabaixos tocados no clássico disco dela, “Verde Anil Cor de Rosa e Carvão”, que traz diversos sucessos radiofônicos. Em 1990 gravou seu primeiro disco solo, que ganhou o Prêmio Sharp.

Arthur era um bom compadre de Ed Motta, Mart’nália, compositor parceiro de Djavan, querido de Ivan Lins e Seu Jorge. A lista só aumenta. Luiz Melodia, Márcio Montarroyos, Lulu Santos, Jorge Benjor, Ana Carolina, Caetano Veloso, George Benson, Juarez Moreira, Roberto Carlos, Dominguinhos e Toninho Horta, entre outros.

Também participou das bandas Pulsar, Banda Black Rio e Egotrip – esta com Pedro Gil, também saudoso filho baterista de Gil, afilhado de Gal. Participou do New York Jazz Festival, o Festival de Jazz de Paris, o Montreux Jazz Festival, o Lugano Jazz, o Free Jazz Festival e o Heineken Concerts (Brasil), entre vários outros.

Arthurzinho nos deixou em dezembro de 2018, não sem antes trazer à cidade shows de Ney Matogrosso, Gal Costa, Milton Nascimento, Gilberto Gil e tantos outros que ficaram marcados na nossa história recente. Ariano do dia 9 de abril de 1962, serviu de referência para outros baixistas que fazem história na cidade, como Fábio Lessa (que acompanha Preta Gil).

Como me lembra o Wikipedia, Maia é sobrinho do baixista Luizão Maia – baixista que tocou com Elis Regina – e com ele apreendeu as técnicas do instrumento. Arthur promoveu uma nova releitura do baixo, o utilizando para grandes solos. Arthur Maia iniciou também uma nova reaplicação do baixo fretless (sem trastes), que o tornou frequentemente solicitado por artistas brasileiros e estrangeiros.

Salve Arthurzinho. Seu legado está entre nós e seu ânimo e força de vida foram exemplo para muita gente – principalmente seus filhos. Saravá aí no astral, amigo.