COLUNA LEONARDO RIVERA

Quando se vai uma Nana Caymmi

Divulgação
Divulgação

Para nós, sensíveis à música, é uma perda gigante quando cada grande nome se vai. Mal engoli as perdas do maravilhoso Edy Star (parceiro de Raul Seixas e Gilberto Gil, um baiano meio Marc Bolan, do T-Rex, só que dos trópicos) e do meu querido companheiro-referência de luta Luiz Antônio Mello, recebo a triste noticia da passagem de Nana Caymmi. É muito triste, precisamos de muita resiliência e agradecimento ao legado.

Considerada uma das grandes vozes do país, intérprete de sucessos como “Resposta ao Tempo”, “Não se Esqueça de Mim” e “Suave Veneno”, a Nana Caymmi nasceu em 29 de abril de 1941, filha do compositor Dorival Caymmi com a cantora Stella Maris. Seu pai Dorival é o homem por trás das obras “O que é que a Baiana Tem”, “Maracangalha” e “Saudade de Itapoã” – e dispensa comentários. A voz de Nana era intensa, sua interpretação era inconfundível e sua presença, única. Teve imenso sucesso e prestígio na MPB construída ao longo de mais de sessenta anos.

Nana começou sua carreira ao participar da faixa “Acalanto” do pai em um dueto. Dorival compôs a música como uma canção de ninar para ela. Em 1960, foi apresentadora do programa “A Canção de Nana”, da extinta TV Tupi. Seu primeiro álbum é de 1965, de nome “Nana”, e seguiram-se 30 álbuns de estúdio e três projetos em DVD. Em 1966 a Nana venceu a fase nacional da primeira edição do Festival Internacional da Canção com a obra “Saveiros”, assinada pelo irmão Dori Caymmi em parceria com Nelson Motta. Junto com Dori, Nana chegou a fazer turnês. Fez aparições em programas de televisão com outras celebridades da época, como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Toquinho e Maria Bethânia. Namorou os cantores João Donato e Claudio Nucci. Sua importância foi reconhecida em 1976, quando ela recebeu o Troféu Villa-Lobos de Melhor Cantora do Ano, pela Associação Brasileira de Produtores de Disco. Foi indicada a quatro Grammys Latinos. Ganhou em sua primeira indicação, em 2004, pelo álbum “Para Caymmi, de Nana, Dori e Danilo”, na categoria de Melhor Álbum de Samba/Pagode. Era chegada em polêmicas, chegou a apoiar a extrema direita e criticar o ex-marido Gilberto Gil e ex-companheiros de carreira da época dos Festivais.

Nana Caymmi não era de levar desaforo das gravadoras para casa. Em várias ocasiões, enfrentou executivos e produtores que queriam fazê-la gravar discos dentro de formatos de marketing, talhados para o sucesso comercial líquido e imediato. “A primeira coisa que as gravadoras fazem é mandar um produtor desavisado conversar comigo. Aí eu toco ele a tiro”, disparou ela em entrevista.

Eu, um mero produtor iniciante da Polygram, tinha acabado de ganhar a minha sala no final de 1997, e um dia fui almoçar com a galera da empresa. Ao chegar na minha sala, após o almoço, lá estava ela: Nana Caymmi fazendo ligações telefônicas, sentada na minha mesa, com os pés pra cima. E quem vai falar alguma coisa? Era a Nana Caymmi! Aproveitei e perguntei se ela queria um cafezinho. Nunca vou esquecer essa cena – uma das poucas interações que tive com ela, quando fazia parte do elenco desta extinta gravadora, hoje incorporada ao grupo Universal Music.

Danilo Caymmi, seu irmão, disse que “O Brasil perde uma grande cantora, uma das maiores intérpretes que o Brasil já viu”.

Que vá com Deus e que seu legado inspire novos compositores, músicos e intérpretes.

Leonardo Rivera

Atuante no jornalismo fluminense desde a adolescência, Leonardo Rivera teve passagens por jornais de sua cidade, Niterói – como os saudosos LIG e Opinião, além do diário A Tribuna. Tornou-se diretor artístico da área musical no final dos anos 90, tendo trabalhado na Universal Music com grandes nomes da nossa música, e em seguida criou um selo para novos talentos. Também se tornou escritor, ao lançar a biografia sobre Seu Jorge (2015) e participar da equipe da autobiografia de Luiz Fernando Guimarães (2022). Segue dirigindo o selo musical, colaborando com biografias e veículos de comunicação.

Atuante no jornalismo fluminense desde a adolescência, Leonardo Rivera teve passagens por jornais de sua cidade, Niterói – como os saudosos LIG e Opinião, além do diário A Tribuna. Tornou-se diretor artístico da área musical no final dos anos 90, tendo trabalhado na Universal Music com grandes nomes da nossa música, e em seguida criou um selo para novos talentos. Também se tornou escritor, ao lançar a biografia sobre Seu Jorge (2015) e participar da equipe da autobiografia de Luiz Fernando Guimarães (2022). Segue dirigindo o selo musical, colaborando com biografias e veículos de comunicação.