Mostra Mekukradjá Obikàrà: com os pés em dois mundos”, traz experiências imersivas, depoimentos inéditos e acervo composto por obras da nova geração do povo Mebêngôkre-Kayapó
A constante transformação da cultura do povo Mebêngôkre-Kayapó – habitante de seis terras indígenas no sul do Pará e no norte do Mato Grosso – é tema da exposição “Mekukradjá Obikàrà: com os pés em dois mundos”, que ocupa o mezanino do Museu de Arte Contemporânea – MAC Niterói em outubro e novembro. Com experiências imersivas, depoimentos inéditos e um acervo composto por obras produzidas pela nova geração do povo Mebêngôkre-Kayapó, a mostra abre dia 28 de outubro e segue até 26 de novembro.
O Diretor Geral do MAC, Victor De Wolf, lembra que a exposição é a primeira sobre arte indígena a ocupar as galerias do centro cultural mais importante de Niterói.
“É um enorme prazer e orgulho abrirmos ao público a primeira exposição de arte indígena de nosso país, na história do MAC Niterói, dentro das comemorações dos 450 anos da cidade fundada pelo cacique Araribóia. Esse é um momento ímpar da nossa história, em que Niterói busca a Nitherôhi das águas escondidas, o contemporâneo visita sua origem e o MAC busca na Pedra de Itapuca, que fez Tupã, a pedido de Jacy, eternizar o amor proibido de Jurema e Cauby, a sua inspiração”, considera De Wolf.
“Mekukradjá Obikàrà”, o conceito que inspirou e nomeia a mostra, pode ser traduzido para o português como “cultura impura”, resultado da mistura entre a modernidade e tradições Kayapó. Para retratar essa história, membros do Coletivo Audiovisual Beture, responsável pela curadoria da exposição, percorreram aldeias Kayapó para produzir materiais que desconstroem estereótipos sobre a população indígena e fortalecem a cultura da comunidade através de um olhar voltado para o futuro mas que respeite e honre o passado.
Um grupo de cineastas Kayapó viajou por algumas aldeias para produzir materiais que vão se unir com retratos e vídeos do acervo do Coletivo. Eles se juntam com uma grande tela pintada por 15 mulheres Kayapó durante o Acampamento Terra Livre (ATL) de 2023, fotografias e arquivos históricos.
A arquitetura circular do MAC remete às aldeias Kayapó construídas em círculo com a ngá (casa dos homens) no centro e permitirá que o público se transporte ao local de origem dos indígenas e se sinta parte da comunidade. Os espaços contendo fotos, vídeos, obras de artesanato e peças históricas representam diferentes aspectos da cultura e das tradições Kayapó. Por meio das instalações, os visitantes poderão conhecer lideranças Kayapó, adornos usados nas festas e rituais até chegarem ao último espaço, dedicado à modernização das tradições.
Uma programação especial com a presença do cacique Raoni, liderança Kayapó mundialmente reconhecida, está prevista para o dia de abertura. Danças e cantos tradicionais serão apresentados por indígenas Kayapó que viajarão para acompanhar esse momento. Além disso, haverá feira de artesanato, oficina de pintura corporal, mostra de filmes do Coletivo Beture e roda de conversa com Alberto Guarani também estão na agenda do dia (programação completa abaixo).
A Exposição “Mekukradjá Obikàrà: com os pés em dois mundos” é realizada pelo Tradição e Futuro na Amazônia (TFA), projeto patrocinado pelo Programa Petrobras Socioambiental e gerido pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO). A Conservação Internacional Brasil e as organizações representativas parceiras do projeto, os institutos Kabu e Raoni e a Associação Floresta Protegida apoiam a iniciativa.
O Coletivo Beture – O Coletivo Beture é um movimento dos Mekarõ opodjwyj – cineastas e comunicadores indígenas Mẽbêngôkre-Kayapó. A denominação vem de uma formiga, encontrada no território Kayapó, que tem como característica uma mordida bastante potente, a cabeça vermelha e a bunda preta, mesmas cores usadas pelos indígenas desta etnia quando se pintam para a guerra.
Surgido em 2015, o Beture tem contribuído para organizar e estruturar um movimento da juventude que vem surgindo em muitas comunidades. A juventude Mẽbêngôkre-Kayapó deseja registrar a vida e a cultura de seu povo por meio de tecnologias audiovisuais e diversas mídias. Hoje o coletivo desempenha um papel fundamental na conquista de reconhecimento cultural assim como na visibilidade das estruturas políticas. Desde então, formações audiovisuais têm sido realizadas com o objetivo de potencializar as produções do coletivo e ofertar aos cineastas mais conhecimento sobre as técnicas de captação de imagens, de roteirização e edição.
O trabalho dos Mekarõ opodjwyj também tem o objetivo duplo de construir um caminho profissionalizante para garantir uma fonte alternativa de renda para o povo Mẽbêngôkre-Kayapó, assim como gerar a possibilidade de jovens lideranças de participar em mobilizações políticas e trocas de conhecimento com outros povos. O audiovisual passou então a ser um instrumento dos mais potentes para o fortalecimento cultural: os Mẽbêngôkre-Kayapó deixam de ser apenas objeto de estudo para fazer seus próprios registros sobre a vida, atividades cerimoniais e cotidianas.
O Beture tem uma produção de cerca de 30 filmes por ano, que geralmente tratam sobre: metoro – festas de nominação, eventos políticos, e alguns filmes de ficção que representam narrativas oriundas da mitologia Mẽbêngôkre-Kayapó, geralmente transmitida oralmente pelos velhos. Os filmes circulam bastante nas comunidades e são muito bem recebidos nas aldeias Mẽbêngôkre-Kayapó. Esses filmes também circulam amplamente atingindo outros públicos a nível regional, nacional e internacional.
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Programação completa do evento de abertura, dia 28 de outubro:
- 10h – Abertura do Museu e entrada simbólica dos indígenas na exposição com canto de dança
- 10h30 – Início da feira de artesanato e oficina de pintura corporal
- 11h – Mostra de filmes do Coletivo Beture e roda de conversa com Alberto Guarani
- 12h a 14h – Pausa para almoço
- 16h – Metoro (festa) no pátio do MAC 17h30 – Visita guiada pela exposição 18h30 – Apresentação Matsi
- 18h a 20h – Mapping (projeção) da arte Kayapó na fachada do prédio
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Exposição “Mekukradjá Obikàrà: com os pés em dois mundos” Temporada: de 28 de outubro a 26 de novembro
- Local: Mezanino do Museu de Arte Contemporânea – MAC Niterói Endereço: Mirante da Boa Viagem, s/nº – Boa Viagem, Niterói – RJ Horário de funcionamento: Terça a Domingo, 10h às 18h Classificação Indicativa: 14 anos.
- Valor do ingresso: R$16,00 (inteira) e R$8,00 (meia)
- Gratuidades: Crianças menores de 7 anos; estudantes da rede pública (fundamental e médio); moradores e naturais de Niterói; servidoras/es públicos municipais de Niterói; pessoas com deficiência; visitante que chegar ao museu de bicicleta. Às quartas-feiras a visitação é gratuita para todo mundo!
- Meia-entrada: Pessoas com mais de 60 anos; estudantes de escolas particulares e universidades; ID Jovem: pessoas de baixa renda com idade entre 15 e 29 anos que estejam inscritas no CadÚnico; professoras/es.
Local de venda dos ingressos: Sympla e Bilheteria do MAC