O tempo chuvoso não prejudicou ontem (20) as comemorações do Dia da Consciência Negra em torno do monumento a Zumbi dos Palmares, na Avenida Presidente Vargas, no centro do Rio de Janeiro. Desde as primeiras horas da manhã, ao som de instrumentos de percussão e de berimbaus, grupos praticavam capoeira diante da estátua do herói da resistência negra contra a escravidão, antes da solenidade que teve como ponto alto a apresentacão do afoxé Filhos de Gandhi, com suas indumentárias nas cores azul e branco.
“A chuva para nós não é um problema, é sinal de renovação, de purificação e, principalmente, de alimentação. A chuva nos empodera e fortalece”, disse o presidente do Conselho Estadual dos Direitos dos Negros (Cedine), Luiz Eduardo Negrogun. A chuva dispensou a tradicional lavagem do monumento, inaugurado em 20 de novembro de 1986 pelo então governador Leonel Brizola com a presença, na época, de líderes negros como o escritor, artista plástico e senador Abdias do Nascimento (1914-2011).
Neste Dia da Consciência Negra, o Cedine lançou o negrômetro, que consiste em um aplicativo e em painéis que serão espalhados pela cidade para conscientizar a população sobre o número de negros assassinados no país.
Racismo cresce e está mais forte, diz Negrogun
“O que estamos vendo recrudescer é o racismo cada vez mais forte. Quando você vê a cada 23 minutos um jovem negro assassinado no país, você vê que isso é uma política deliberada de extermínio. Isto é um racismo estrutural, objetivo e radical”, afirmou Negrogun.
Ele frisou a importância de que as atitudes racistas sejam denunciadas pela população negra. “Há muitas pessoas que sofrem o racismo e, por questões diversas, se calam. Elas não podem se calar. Temos que denunciar e combater, de uma forma agressiva e irreversível, o racismo”.
De acordo com Cláudio Henrique Barack Obama dos Anjos, que está à frente da criação do negrômetro, o primeiro painel deverá ser instalado na Avenida Marechal Floriano, no centro do Rio.
“O objetivo é causar um impacto de forma real. A sociedade não consegue entender a complexidade do que representa o assassinato de jovens negros. O projeto é para despertar a atenção”, disse.
Também no Dia da Consciência Negra, a Secretaria Estadual de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos vai divulgar a partir de hoje, nas redes sociais, vídeos e imagens para serem compartilhadas mostrando o preconceito racial sofrido no dia a dia por negros e negras, ao ouvirem frases como “Nossa, seu cabelo é macio, achei que era duro” ou “Você tem os traços finos e delicados”.
Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), órgão do governo do Estado do Rio, em média 97 casos de racismo são registrados por mês no estado.
O Dia da Consciência Negra está sendo comemorado ainda com atividades em equipamentos da prefeitura carioca, como o Parque de Madureira, a Lona Cultural João Bosco, em Vista Alegre, e a Arena Carioca Dicró, na Penha Circular, todos na zona norte, e no Centro Cultural Professora Dyla Sylvia de Sá, em Jacarepaguá, na zona oeste da cidade.
Feriado em todo o Estado do Rio
Feriado em todo o estado, a data é festejada também em municípios do interior, principalmente, os que são destinos turísticos e recebem muitos visitantes no fim de semana prolongado. Na Região dos Lagos, o município de Araruama realiza hoje na Casa de Cultura mostra de pintura com o tema “Negritude” e debates sobre escravidão, cultura e religião afrodescendente.
Na região serrana, Teresópolis realiza o evento Tons Afro, na sede do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, e, em Petrópolis, é promovida a quinta edição da Festa da Cultura Afro Brasileira, no Palácio de Cristal. No sul do estado, termina hoje, em Volta Redonda, a Semana do Povo Preto, que começou no dia 15 e contou com apresentações de arte, debates e gastronomia.
Na Baixada Fluminense, São João de Meriti realiza o Festival Literário Internacional da Diáspora Africana (Flidam), enquanto Duque de Caxias sedia a Semana de Tradições e Artes Negra Contemporânea.
Ebc