Cão atento em casa aguardando o tutor, representando a percepção do tempo baseada em rotina, memória e estímulos do ambiente.
Mesmo sem relógio, os cães organizam o dia usando rotina, cheiros e memória, o que explica por que eles parecem “saber” a hora certa de tudo - Créditos: depositphotos.com / AllaSerebrina

Entre os animais de estimação mais comuns, o cão se destaca pela forma como reage a horários e rotinas. Muitos tutores relatam que o animal parece “saber” quando alguém vai chegar ou quando é hora de passear. Isso levanta a pergunta: como os cães percebem o tempo sem usar relógios ou calendários, mas ainda assim mostrando tanta previsibilidade?

Como os cães percebem o tempo no cotidiano

A percepção de tempo nos cães está ligada principalmente a processos biológicos, à memória e ao ambiente. O organismo segue ritmos circadianos, que regulam sono, fome e disposição em ciclos de cerca de 24 horas, ajudando o corpo a se antecipar a certos eventos do dia.

Quando a refeição é oferecida sempre em horários parecidos, o corpo do animal passa a se preparar antes, com aumento de expectativa, salivação e agitação. A repetição cria uma associação entre a sensação física e o momento do dia, funcionando como um relógio interno guiado pela rotina e pelos estímulos ao redor.

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Como a memória ajuda o cão a organizar o tempo

Além dos ritmos biológicos, os cães usam a memória associativa para organizar sequências de eventos. Eles ligam o som do despertador, a movimentação na casa, o barulho da porta e, depois, o passeio, formando cadeias previsíveis do dia a dia.

O cão não entende “são 7h da manhã”, mas aprende que, após certos sons e ações, costuma acontecer algo específico. Assim, organiza o tempo em blocos de rotina, antecipando o que virá em seguida, o que explica por que muitos cães “se adiantam” a passeios e refeições.

Os cães conseguem perceber a duração da ausência do tutor

A ideia de que o cão percebe quanto tempo o tutor ficou fora está ligada à intensidade da reação ao reencontro. Pesquisas indicam que a resposta do animal tende a ser mais intensa após períodos mais longos de ausência, sugerindo que distinguem intervalos curtos de ausências maiores.

O olfato tem papel importante: em casa, cheiros se dissipam aos poucos, e o cão pode associar o enfraquecimento do cheiro do tutor ao tempo decorrido. Para ilustrar como diferentes pistas influenciam essa percepção de duração, destacam-se:

  • Quanto mais longa a ausência, maior costuma ser a excitação em muitos cães.
  • Cheiros, sons de rotina e luz natural funcionam como marcadores temporais.
  • A expectativa pelo retorno pode gerar comportamentos de ansiedade em alguns animais.

Curiosidades sobre a noção de espera e rotina nos cães

Cão observando o ambiente da casa, demonstrando atenção à rotina diária e à espera pelo tutor, associada à memória e aos estímulos do dia
A forma como os cães lidam com a espera revela que a noção de tempo deles é construída pela rotina, pelos cheiros e pelas experiências do cotidiano – Créditos: depositphotos.com / thelivephotos

Uma curiosidade sobre o tempo para os cães é como eles lidam com a espera. Em testes, muitos demonstram maior tolerância quando o intervalo já é conhecido, como o tempo entre passeios ou refeições, ficando mais agitados quando a espera foge do padrão.

O nível de estímulo também altera a sensação de duração: em atividades dinâmicas, como brincadeiras, o tempo parece “passar mais rápido” do ponto de vista comportamental, enquanto ambientes pouco estimulantes tornam cada minuto mais longo, semelhante ao que ocorre com humanos.

  • Cães acostumados a rotinas rígidas costumam antecipar atividades com mais precisão.
  • Ambientes ricos em estímulos podem reduzir sinais de impaciência durante a espera.
  • Mudanças bruscas de horário tendem a causar maior estranhamento comportamental.

Os cães vivem apenas o presente ou também pensam em situações futuras

Embora muitos digam que o cão vive apenas o presente, pesquisas recentes mostram nuances. Estudos com memória episódica sugerem que cães conseguem lembrar de eventos específicos e usar essas lembranças para orientar comportamentos futuros simples.

A antecipação por um passeio programado é um exemplo de como o cão acessa experiências anteriores e as projeta para o momento seguinte. Mesmo assim, o foco principal permanece nos estímulos atuais, como cheiros e sons, e não há evidências de que planejem a longo prazo de forma complexa.

Veja com azmicael como o cachorro percebe o passar do tempo na ausência do tutor:

@azmicael

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♬ 963 Hz – Sound Of Nature & Albert Van Deyk

Como a rotina influencia a noção de tempo do cão

A rotina é um dos principais fatores que moldam como os cães percebem o tempo. Horários relativamente estáveis para alimentação, passeios, descanso e interação social funcionam como um “relógio previsível”, favorecendo comportamentos mais estáveis e maior sensação de segurança.

Algumas práticas diárias ajudam a estruturar essa percepção de forma saudável, facilitando a adaptação a ausências, esperas e mudanças de atividade:

  1. Manter horários aproximados para refeições, passeios e descanso.
  2. Associar comandos e sons específicos a determinadas ações, reforçando a previsibilidade.
  3. Oferecer estímulos mentais e físicos ao longo do dia, evitando sensação prolongada de espera.
  4. Introduzir mudanças de rotina de forma gradual, permitindo a adaptação do organismo do animal.