Estrutura submarina que concentra energia e forma cristas de até trinta metros. - Créditos: depositphotos.com / gmf1000i
Estrutura submarina que concentra energia e forma cristas de até trinta metros. - Créditos: depositphotos.com / gmf1000i

Nazaré, em Portugal, tornou-se mundialmente famosa por suas ondas gigantes, algumas ultrapassando trinta metros.

Esse fenômeno impressionante resulta de uma combinação única de geologia submarina, dinâmica oceânica e condições climáticas, tornando a “onda de Nazaré” um ícone do surfe e da força da natureza.

Qual a geografia submarina por trás do fenômeno?

O que é o cânion submarino de Nazaré e por que ele é crucial?

O responsável principal pelas ondas gigantes é o Cânion de Nazaré — um desfiladeiro submarino de proporções colossais, considerado o maior da Europa. Ele possui cerca de duzentos e trinta quilômetros de extensão e atinge profundidades próximas de cinco mil metros.

Quando swells poderosos viajam pelo Atlântico e alcançam a costa de Nazaré, parte da energia segue pelo cânion, por águas profundas, mantendo grande velocidade e pouca perda de energia. Em paralelo, outra parte do swell percorre a plataforma continental mais rasa. Essa diferença de batimetria cria as condições para o que vem a seguir.

Como a mudança abrupta de profundidade amplifica as ondas?

Ao emergir do cânion, as ondas passam de águas profundas para zonas rasas em poucos quilômetros. Esse processo provoca um fenômeno chamado shoaling: a energia da onda é comprimida num volume menor de água, fazendo com que sua altura aumente drasticamente.

Além disso, a refração das ondas — ou seja, a mudança de direção provocada pela variação da profundidade — “foca” a energia das ondas em direção à costa, em especial à região da praia.

Fenômeno natural que transforma swells em ondas gigantes na costa de Nazaré. – Créditos: depositphotos.com / alessan

A dinâmica dos swells e a interferência de ondas

De onde vem a energia que gera essas ondas gigantes?

As ondas impressionantes de Nazaré nascem a milhares de quilômetros de distância — em tempestades e frentes atmosféricas que varrem o Atlântico Norte, especialmente nos meses de outono e inverno. Esses sistemas geram swells longos e poderosos, com períodos elevados (tempo entre uma crista e outra), ideais para viajar grandes distâncias sem dissipar muita energia.

Quando esses swells chegam à costa portuguesa — vindos de W‑NW ou NW — encontram o cânion submarino, dando início ao efeito transformador que culmina nas ondas gigantes.

O que é interferência construtiva e como ela cria ondas monstruosas?

Um dos segredos das ondas de Nazaré está no encontro entre duas massas de água em velocidades e trajetórias diferentes: a parte que passou sobre o cânion e outra que seguiu pela plataforma continental rasa. Quando essas duas “frentes” de onda se cruzam perto da costa, há uma fusão de energia — a chamada interferência construtiva — que resulta em cristas gigantescas.

Em outras palavras: o oceano entrega a energia; o cânion canaliza e mantém; a costa comprime e amplifica. O resultado é a formação das ondas extremas pelas quais Nazaré é conhecida.

Por que Nazaré continua fascinando o mundo?

O que torna as ondas de Nazaré tão altas não é culpa de um único fator — mas de uma combinação rara de geologia submarina, oceanografia e clima. O Cânion de Nazaré canaliza swells energéticos vindos do Atlântico, mantém sua força, e a abrupta subida da plataforma costeira transforma essa energia em ondas gigantescas. A interferência construtiva e as condições atmosféricas completam a receita.

Nazaré é um exemplo vivo de como a natureza pode concentrar energia numa faixa de costa e produzi-la de forma tão dramática que ultrapassa os limites do imaginável. A próxima vez que você vir imagens dessas ondas — ou talvez pense em visitar — lembre-se: não é sorte. É ciência, geografia e oceano conspirando para criar uma das maiores atrações naturais do planeta.