Antigo DOPS
Foto: Acervo Iphan

O prédio que marcou a história política do Rio de Janeiro acaba de ganhar proteção federal. O Iphan aprovou o tombamento do edifício da antiga Repartição Central de Polícia, conhecido como antigo DOPS, um reconhecimento ligado à memória, à democracia e às violações de direitos humanos.

Tombamento do antigo DOPS é aprovado pelo Iphan

O Conselho Consultivo do Iphan aprovou, na quarta-feira (26/11), o tombamento do edifício da Antiga Repartição Central de Polícia, no Centro do Rio de Janeiro, durante a 111ª Reunião Ordinária do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural.

Com a decisão, o imóvel será inscrito nos Livros do Tombo Histórico e das Belas Artes. O instituto destaca que a medida reforça a preservação de lugares de memória e de locais onde ocorreram violações de direitos humanos.

Rua da Relação, 40: do tombamento provisório ao reconhecimento definitivo

Antes da aprovação final, o Iphan já havia publicado o tombamento provisório do edifício no Diário Oficial da União, em 30 de outubro. O prédio fica na Rua da Relação, nº 40, no Centro do Rio.

Por que o prédio virou Patrimônio Cultural Brasileiro

A decisão reconhece o edifício por seu valor histórico e artístico e também por sua relação direta com as lutas sociais e políticas em defesa da democracia e da liberdade.

Arquitetura eclética e a “modernização” do Estado na Primeira República

Inaugurado em novembro de 1910, o prédio foi projetado pelo arquiteto Heitor de Mello, representante do ecletismo no Rio, e surgiu no contexto das reformas urbanas associadas ao prefeito Pereira Passos. À época, era conhecido como Palácio da Polícia.

Lugar de memória: repressão, prisões e tortura

Ao longo do século 20, o edifício abrigou diferentes órgãos policiais, incluindo o DOPS-RJ (criado no Estado Novo e mantido na ditadura militar), período em que o local se tornou símbolo de repressão política, com registros de prisões, interrogatórios e torturas.

A Agência Brasil aponta que este é o primeiro bem reconhecido pelo Iphan como lugar de “memória traumática” e relata que movimentos sociais e o MPF defendem que o prédio seja transformado em memorial às vítima.

O acervo Nosso Sagrado também passou por ali

O edifício abrigou o acervo Nosso Sagrado, com objetos de religiões de matriz africana confiscados em ações policiais contra terreiros no Rio entre 1890 e 1946 — coleção que já foi tombada pelo Iphan.

O que muda agora

Com o tombamento federal, a proteção passa a valer como regra de preservação do prédio e de sua memória. Entre os efeitos citados está que o imóvel:

  • entra oficialmente no conjunto de bens protegidos pelo Iphan (Tombo Histórico e Belas Artes);
  • deve seguir diretrizes de preservação, com expectativa (defendida por movimentos sociais e MPF) de virar um memorial às vítimas;
  • reforça a política de reconhecimento de espaços ligados a violações de direitos humanos e à história democrática do país.