Estátua de Araiboia | Divulgação
Estátua de Araiboia | Divulgação

A COP-30, que reuniu mais de 150 países em Belém do Pará, apesar das críticas pessimistas e de não ter sido concluída e não ter a unanimidade sobre o principal tema “a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis”, colocou o Brasil no protagonismo da luta ambiental e chamou atenção para o mundo e a realidade da Amazônia, com seus potenciais, seus povos ribeirinhos e da floresta, e a destruição cada vez mais presente da flora, da fauna, das águas, da terra e de todas as suas riquezas.

E, sem dúvida, pela primeira vez, em um acontecimento internacional, os povos da floresta, de várias tribos, das ribeirinhas, mesmo fora dos rituais das arenas de autoridades, mostraram sua existência, suas lutas, suas reivindicações e a “matança” da Amazônia.

As denúncias dos excluídos, dos povos originários, ficaram registradas nos seus rituais e nos documentos oficiais, contra as invasões das terras indígenas demarcadas, o contrabando de minérios, da fauna, da flora, a poluição dos rios, a matança da floresta pelas queimadas e assassinatos.

Com todas as contradições, problemas pontuais, a COP-30 não deixou de ser um marco, um símbolo de possíveis mudanças práticas para a sobrevivência dos seres vivos e da natureza, na qual estamos incluídos.

No entanto, a história se entrelaça nos seus ciclos. Lá na Amazônia, aqueles que restaram dos povos originários continuam lutando pela sobrevivência, pela vida e pelo respeito…

Aqui, em Niterói, há quatro séculos, temos a Praça Martim Afonso de Sousa, hoje conhecida como Praça Arariboia, localizada em frente à Estação das Barcas. Além da praça, ali próximo existe a estátua de Arariboia, uma homenagem ao cacique temiminó, um aliado dos portugueses contra invasores franceses, com apoio da tribo Tupinambás.

Na época, a briga por territórios com a participação de tribos era comum. Arariboia, pelo seu heroísmo, e após se converter, recebeu o nome cristão de Martim Afonso de Sousa, foi condecorado e recebeu um vasto pedaço de terra que, de acordo com historiadores, veio a tornar-se a cidade de Niterói.

Embora Arariboia, através da sua estátua, esteja presente no Centro da cidade, próximo às barcas, o que causa espanto, e até curiosidade, é que ele parece invisível, um ilustre desconhecido pelos habitantes da cidade que ajudou a fundar. Por que não valorizar a ancestralidade indígena da cidade de Niterói? Por que não exaltar essa origem com os demais potenciais da cidade, num entrelace entre passado, presente e futuro? Por que será que Arariboia nunca é lembrado? Nem na COP-30 foi citado, ou foi?

Niterói é a única cidade fundada por um indígena no país, mas as novas gerações pouco conhecem essa história. Contraditoriamente, todo ano é celebrada uma Missa na Igreja de São Lourenço dos Índios, local símbolo da criação da cidade. Nesta igreja, está o túmulo de Arariboia, nome dado ao cacique pelos jesuítas.

Mario Sousa

Mário Sousa é jornalista e analista político

Mário Sousa é jornalista e analista político