
Rio de Janeiro - Em meio à repercussão da operação mais letal da história do Rio de Janeiro, o governo federal e o governo estadual anunciaram, nesta quarta-feira (29/10), a criação de um Escritório Emergencial de Combate ao Crime Organizado. O anúncio foi feito após reunião entre o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, e o governador Cláudio Castro (PL), no Palácio Guanabara.
“Precisamos de um trabalho coordenado que atinja a espinha dorsal do tráfico sem colocar policiais, crianças e famílias inocentes em risco”, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em publicação nas redes sociais.

Escritório será coordenado por autoridades federais e estaduais
A nova estrutura será coordenada pelo secretário de Segurança Pública do Rio, Victor Santos, e pelo secretário Nacional de Segurança Pública, Mário Sarrubbo, com o objetivo de integrar forças e operações no combate ao crime organizado.
Segundo Lewandowski, o governo federal disponibilizará peritos criminais, médicos legistas, odontólogos e especialistas em DNA e balística, que poderão ser mobilizados pela Força Nacional de Segurança ou por outros estados.
“Estamos enfrentando um problema muito sério, que se espalha por todo o país. Por isso, vamos reunir nossos esforços e investir recursos materiais e humanos para enfrentá-lo da forma mais coordenada possível”, afirmou o ministro.
União destaca diferença entre facções e terrorismo
Durante a coletiva, o ministro da Justiça comentou o uso recorrente da expressão “narcoterroristas” por autoridades locais do Rio e fez questão de distinguir o crime organizado do terrorismo.
“O terrorismo envolve uma motivação ideológica, com atuação política e atentados esporádicos. As facções criminosas são grupos que praticam crimes sistematicamente, previstos no Código Penal. São dois tipos de atuação que não se confundem”, explicou Lewandowski.
O ministro reforçou que o governo federal não pretende misturar os conceitos, pois isso “dificultaria o combate a crimes distintos em motivação e forma de atuação”.
Castro promete integração e menos burocracia nas ações
O governador Cláudio Castro acolheu a proposta e afirmou que a parceria com o governo federal permitirá ações 100% integradas.
“A ideia é que nossas ações sejam 100% integradas a partir de agora, inclusive para vencermos possíveis burocracias. Vamos integrar inteligências, respeitar as competências de cada órgão, mas pensando em derrubar barreiras para fazer segurança pública de verdade”, declarou Castro.
O ministro Lewandowski acrescentou que o novo escritório será um embrião da PEC da Segurança Pública, proposta em discussão no Congresso Nacional que prevê cooperação entre os estados e a União no enfrentamento à criminalidade organizada.
Estrutura contará com inteligência financeira e força-tarefa nacional
O Escritório Emergencial reunirá duas frentes principais de atuação:
- Comitê de Inteligência Financeira e Recuperação de Ativos (Cifra): voltado à descapitalização das organizações criminosas, com rastreamento de fluxos de dinheiro e recuperação de bens;
- Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (Ficco): estrutura de cooperação permanente entre União, estados e órgãos de investigação, criada pelo Ministério da Justiça para atuar em grandes operações.
O ministro reforçou o caráter temporário e emergencial da medida, destacando que o trabalho coordenado entre as instituições é essencial para resultados rápidos.
Reforço da PRF e apoio técnico
Até o fim de 2025, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) aumentará em 50% seu efetivo no Rio de Janeiro, com a chegada de 350 novos agentes. O governo federal também oferecerá apoio técnico permanente em perícia criminal e inteligência, fortalecendo a investigação de lavagem de dinheiro e tráfico de armas.
“Vivemos um federalismo cooperativo. O problema de uma unidade federativa é um problema de todos. O Governo Federal está à disposição para apoiar a população do Rio de Janeiro neste momento de crise”, destacou Lewandowski.
Haddad defende foco no “andar de cima” do crime organizado
Mais cedo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu que o combate ao crime deve priorizar as estruturas financeiras que sustentam as facções.
“Nosso inimigo está em outro lugar. Precisamos concentrar esforços contra quem abastece o crime de recursos. O Estado brasileiro deve agir de forma cooperativa e harmônica contra o crime, e não em antagonismo entre si”, afirmou.