Jourdan Amóra | Reprodução
Jourdan Amóra | Reprodução

Jourdan Amóra era mais que um mentor, professor e amigo. Era humano em máxima potência. Muito firme nas suas posições, jamais abandonou o jornalismo raiz e a ética da profissão por qualquer acordo político – o que fez dele o empreendedor da comunicação mais diferenciado que tive o prazer de conhecer.

São tantas as histórias que temos juntos que, nesse momento de ausência e dor, não consigo acessar na memória. Desde meu pai indo conferir com ele se queria mesmo contratar um moleque metido a besta aos 15 anos, para escrever sobre cultura (era meu sonho), até recentemente, quando bebemos uma cervejinha na Cantareira após a partida de sua querida Eva, mãe de Dandan e Gustavo. E também sua fiel escudeira no jornal A Tribuna. Apesar de desnorteado com a perda, preferiu ir com amigos no Bar do Renato do que ir pra casa e não encontrar Dona Eva.

Foi aí que, então, apareceu no bar uma bonita e jovem universitária da UFF, adivinhem de que? Jornalismo! Ela queria combinar com o Renato de exibir um audiovisual ali no telão do bar para a sua turma, e debater depois. Um trabalho extra classe. Foi então que nós, na mesa do Jourdan, apresentamos a ela aquele velho caudilho da Imprensa Profissional como o dono de A Tribuna. A mocinha, que me foge o nome agora, ficou feliz com o privilégio de conhecê-lo. E ele, emocionado de poder falar algumas histórias para ela que, muito educada, ouviu atentamente o Jourdan. Quando ela se foi do bar, ele virou pra mim, pro Luiz Carlos de Carvalho e pra Márcia, dizendo: “Foi uma enviada de Dona Eva”, entre risos e lágrimas.

Nada vai mudar a importância deste grande homem na minha vida. Nada. Daqui até o meu fim, será Jourdan meu porto seguro no jornalismo, aquele que me ensinou a ler o Diário Oficial pra achar notícias; que me moldou para nunca esquecer que nosso compromisso é com o leitor, não é com o dinheiro, políticos ou o poder – mas que iríamos viver envolvidos com isso tudo para sempre quando optamos pelo verdadeiro jornalismo, sem fake news ou nariz de cera. Também com ele aprendi sobre colunismo, mudei de editoria para escrever sobre cidade, esportes e até política.

Quando queria fechar uma capa e estava em dúvida, por volta das 17h, chegava pra mim e falava assim:

— “Vamos comigo ali”

E eu falava:

— “Aonde, Seu Jourdan?”

E ele nada falava. Apenas me colocava no carro dele, muitas vezes iríamos beber uma cerveja ali mesmo na Ponta D’Areia, outras vezes parávamos no Chalé em Icaraí, e ele ainda gostava de me deixar em casa de carro, prestativo e carinhoso de um jeito firme, que não aceita não como resposta. Sempre contando suas histórias inspiradoras de vida. Me pedindo para escolher com ele, entre duas ou três matérias, qual deveria ser a manchete. Logo eu, que estava aprendendo e ele era o mestre. Como eu iria ajudar a escolher a capa?

E eu não queria que ele ainda fosse me levar em casa, queria que ele fosse logo pra casa pra não ficar saracoteando pelo trânsito da cidade.

Fora isso, os arquivos de foto de A Tribuna, quando eu trabalhei lá ele adorava me mostrar as fotos raras, tanto quanto as edições históricas do jornal. Incontáveis foram as vezes que tive o privilégio de ir ao seu churrasco de aniversário, já tradicional, em sua casa em Araruama. Quando queria lhe dar um presente, lhe oferecia uma cachacinha pra coleção. Acho que era o presente que ele mais gostava de ganhar. As vezes cismava de me mandar representar o jornal em cerimônias da Academia Fluminense de Letras (AFL) e me pedia pra cobrir sempre qualquer atividade da Livraria Ideal, do Carlos Mônaco. Me apresentou Luis Antônio Pimentel, que também foi meu amigo até seu último suspiro, aos 104 anos. São muitas histórias, que só vou conseguir lembrar com o tempo e comentar por aí, como ele fazia, para manter viva a memória, a trajetória e toda essa dedicação ao formar jornalistas. Quase nunca me chamou de Leonardo, só de Rivera. E, curiosamente, assim como meu pai falava, dizia:

— Você nasceu pra trabalhar no rádio, fala pra cacete, parece que engoliu uma agulha de vitrola.

Eu morria de rir e agradecia. Agridoce, com o coração muito puro, este era e sempre será meu amigo Jourdan Amóra. Agora a missão é de quem fica: honrar eternamente este indiscutível ser humano. Obrigado por tudo e pra sempre, Jourdan. Você é nosso!

Leonardo Rivera

Atuante no jornalismo fluminense desde a adolescência, Leonardo Rivera teve passagens por jornais de sua cidade, Niterói – como os saudosos LIG e Opinião, além do diário A Tribuna. Tornou-se diretor artístico da área musical no final dos anos 90, tendo trabalhado na Universal Music com grandes nomes da nossa música, e em seguida criou um selo para novos talentos. Também se tornou escritor, ao lançar a biografia sobre Seu Jorge (2015) e participar da equipe da autobiografia de Luiz Fernando Guimarães (2022). Segue dirigindo o selo musical, colaborando com biografias e veículos de comunicação.

Atuante no jornalismo fluminense desde a adolescência, Leonardo Rivera teve passagens por jornais de sua cidade, Niterói – como os saudosos LIG e Opinião, além do diário A Tribuna. Tornou-se diretor artístico da área musical no final dos anos 90, tendo trabalhado na Universal Music com grandes nomes da nossa música, e em seguida criou um selo para novos talentos. Também se tornou escritor, ao lançar a biografia sobre Seu Jorge (2015) e participar da equipe da autobiografia de Luiz Fernando Guimarães (2022). Segue dirigindo o selo musical, colaborando com biografias e veículos de comunicação.