
Niterói guarda histórias em cada esquina, e muitas delas estão gravadas nas placas de suas ruas. Uma das mais conhecidas e movimentadas da Zona Sul da cidade, a Rua Gavião Peixoto, é hoje símbolo de comércio, convivência e urbanização. Mas você sabe quem foi o homem que deu nome a esse endereço histórico?
Nesta série especial sobre os personagens que inspiram os nomes das ruas de Niterói, começamos com Bernardo Avelino Gavião Peixoto — um político, jurista e visionário que ajudou a transformar a antiga Vila Real da Praia Grande em uma cidade com visão de futuro.

A origem: quem foi Bernardo Avelino Gavião Peixoto
Nascido em 10 de novembro de 1829, em São Paulo, Bernardo Avelino Gavião Peixoto formou-se em Direito pela tradicional Faculdade de Direito de São Paulo, em 1849. Filho de Bernardo José Pinto Gavião Peixoto e Ana de Andrade Vasconcelos Gavião, seguiu carreira pública e jurídica, destacando-se desde cedo por sua habilidade administrativa e pensamento progressista.
Casado com Josefa Ribeiro da Silva, teve seis filhos: Josefina, Ana Rita, Maria da Glória, Rita, Bernardo e Antônio.
Durante sua trajetória política, Gavião Peixoto foi deputado geral por três legislaturas e, em 1882, recebeu de Dom Pedro II a nomeação como presidente da Província do Rio de Janeiro — cargo equivalente ao de governador na época.
A Província do Rio e o papel de Niterói
Quando Gavião Peixoto assumiu a presidência da Província, o Rio de Janeiro ainda era capital do Império, e Niterói (então recém-elevada de vila à categoria de cidade) já se consolidava como centro político e administrativo da província fluminense.
A antiga Capitania do Rio de Janeiro, transformada em província em 1821 e depois em estado em 1891, tinha em Niterói sua sede do poder provincial. Foi nesse contexto que Gavião Peixoto exerceu papel crucial na modernização urbana e institucional da cidade.
Sob sua gestão, entre 1882 e 1883, ele impulsionou uma série de obras públicas, reformas estruturais e projetos visionários que moldariam o futuro de Niterói.
Gavião Peixoto: o homem que sonhou a ponte Rio–Niterói
Um dos maiores legados de Gavião Peixoto foi ter sido um dos primeiros a idealizar uma ligação física entre Rio e Niterói, um sonho que só seria concretizado quase um século depois, com a inauguração da Ponte Presidente Costa e Silva, em 1974.
Para ele, conectar as duas margens da Baía de Guanabara significava integrar as economias, culturas e o desenvolvimento urbano das maiores cidades fluminenses. Sua visão à frente do tempo o colocou entre os pioneiros do planejamento metropolitano.
Cenário urbano de Niterói
Durante seu governo, Gavião Peixoto promoveu obras que marcaram profundamente o território niteroiense.
Entre suas principais realizações estão:
- O aterro do Campo de São Bento, que na época era um grande brejo tomado por mosquitos e doenças. Com sua intervenção, o local se transformou em um dos principais parques urbanos da cidade, até hoje símbolo de convivência e lazer.
- A reforma do Jardim do Ingá, atual Praça César Tinoco, que recebeu melhorias estruturais e paisagísticas.
- Planos de urbanização e arruamento que modernizaram o traçado urbano da cidade, organizando ruas, praças e novos bairros.
Ao deixar o cargo, em outubro de 1883, Gavião Peixoto entregou ao seu sucessor um relatório de 42 páginas, conhecido como “Exposição da Administração Provincial”, detalhando as obras, os investimentos e os avanços obtidos nos 19 meses de sua gestão — um documento histórico que ilustra sua dedicação e transparência.
A Rua Gavião Peixoto: símbolo da modernidade e da vida urbana
A atual Rua Gavião Peixoto, antes chamada Rua do Sousa, foi implantada ainda no século XIX, durante o Plano de Arruamento de 1840–1841, um dos primeiros projetos urbanísticos de Niterói.
Desde então, o logradouro tornou-se um dos mais importantes polos comerciais da cidade, concentrando lojas, consultórios, bancos, cafeterias e escritórios.
Ali também se localizam instituições marcantes como a Mitra Arquidiocesana de Niterói e a Igreja Anglicana, compondo um cenário de diversidade religiosa e cultural.
Além da força econômica, a rua é também símbolo da história viva da cidade, pois reflete a transição de uma Niterói provinciana para uma cidade moderna, pulsante e conectada — exatamente como sonhava Gavião Peixoto.
Legado e reconhecimento
Bernardo Avelino Gavião Peixoto faleceu em 14 de março de 1912, aos 82 anos, em Santos (SP). Mais de um século depois, seu nome segue eternizado na paisagem urbana e na memória de Niterói.
Ao batizar uma das principais avenidas da Zona Sul, a cidade presta homenagem a um homem que foi, acima de tudo, um construtor de pontes — entre o passado imperial e o futuro republicano.
Curiosidade histórica
Poucos sabem, mas na região onde hoje passa a Rua Gavião Peixoto existia, no século XVII, uma pequena ermida dedicada a São João Batista de Icaraí, próxima às atuais ruas Mariz e Barros, Paulo Gustavo (antiga Moreira César) e Otávio Carneiro.
O nome “Icaraí”, de origem indígena, significa “água santa” — o que reforça ainda mais a tradição e a importância histórica dessa parte da cidade.