Política

Do tiro de canhão ao disparo de festim

Por Bernardo Ariston com a colaboração de André Sant’ana.

Imagem produzida por IA | Colunista
Imagem produzida por IA | Colunista

Quando Donald Trump anunciou uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros o som ecoou como um tiro de canhão. O gesto parecia mais do que um ato econômico, era uma declaração de poder, um recado ao Brasil e, por consequência, ao mundo, contudo, em questão de horas após a divulgação do decreto, a imagem do impacto devastador começou a se desfazer. A exclusão de quase 700 produtos estratégicos da lista tarifária, entre eles aeronaves, fertilizantes, celulose, suco de laranja e metais, revelou que a suposta sanção total tinha limites claros e que o que parecia um canhonaço real era, na verdade, um disparo de festim.

Por trás da retórica agressiva estava uma verdade incômoda, os Estados Unidos não podiam arriscar desabastecer cadeias produtivas vitais nem provocar represálias brasileiras em setores críticos. O decreto nasceu para parecer um ataque devastador, mas foi calibrado para não ferir onde realmente doeria. O “tarifaço” de Trump se tornou símbolo de uma disputa maior que vai muito além do Brasil passando a ser o reflexo de um mundo em que o multilateralismo comercial ameaça a hegemonia americana e o reflexo de um presidente disposto a usar a força como teatro para manter seu país no centro do tabuleiro.

Nunca havíamos vivido um cenário como este. A ascensão de blocos como BRICS, a expansão das rotas comerciais entre Ásia, África e América Latina e a integração econômica entre países emergentes criaram uma teia que desafia décadas de domínio

americano. Trump percebe isso e reage, o decreto contra o Brasil não foi só um ato econômico, é parte de uma escalada, uma tentativa de reafirmar a centralidade dos EUA diante de um mundo que já não aceita mais ordens unilaterais. O risco é claro, pois, ao usar o comércio como arma política, essa disputa pode abalar o equilíbrio global e até corroer pilares da própria democracia, transformando acordos em trincheiras e alianças em campos de batalha econômica.

O Brasil, peça-chave desse jogo, respondeu com firmeza inédita. Lula classificou a medida como “chantagem inaceitável”, acionou a OMC, aprovou a Lei de Reciprocidade Comercial e deixou claro que o Judiciário brasileiro não seria alvo de pressões externas. A resposta não apenas defendeu a economia, mas também reafirmou algo maior: a soberania política e institucional de um país que entende seu papel no novo tabuleiro mundial. O gesto brasileiro foi observado com atenção em Pequim, Bruxelas e até em Washington, não era apenas um contra-ataque, era um recado de que o Brasil não se curvaria diante de pressões travestidas de política comercial.

Dentro dos Estados Unidos, a reação expôs ainda mais a natureza do decreto. O lobby agrícola e industrial comemorou as exclusões da lista tarifária, reforçando que Trump não podia sacrificar setores vitais apenas para sustentar um gesto político. Diplomatas classificaram a medida como “meio recuo embutido no próprio ataque”, e analistas passaram a ver o tarifaço não como política econômica coerente, mas como um movimento tático com objetivos internos e externos, ligado tanto à base bolsonarista quanto à necessidade de projetar força contra Lula.

O episódio ficará marcado não pela tarifa de 50%, mas pelo que ela revelou. O “tiro de canhão” virou eco oco de festim e expôs um momento histórico em que os EUA enfrentam, talvez pela primeira vez, um mundo que desafia abertamente sua hegemonia econômica. Trump reage com estrondo, mas o próprio gesto denuncia o medo de perder o centro. O Brasil resistiu, sustentou sua posição e lembrou ao mundo que soberania não se mede pelo volume do grito, mas pela firmeza com que um país defende seu lugar à mesa global.

E se há uma lição nesse episódio, ela é simples: o equilíbrio e o diálogo são mais poderosos do que qualquer tarifa. O comércio mundial não pode virar arma de guerra política sem que todos, inclusive as democracias, saiam feridos. O Brasil mostrou isso e ao mostrar, fez mais do que se defender, ajudou a colocar limites num jogo perigoso que, se não for contido, pode redesenhar a geopolítica e corroer a democracia que conhecemos.

Viva o Brasil.

Bernardo Ariston

Bernardo Ariston é graduado em Direito, Jornalista e Radialista. Comentarista Político da Rádio Litoral Fm, colunista no Jornal de Sábado e no Cidade de Niterói. Político brasileiro. Em 2002 foi eleito deputado federal pelo estado do Rio e reeleito em 2006.

Bernardo Ariston é graduado em Direito, Jornalista e Radialista. Comentarista Político da Rádio Litoral Fm, colunista no Jornal de Sábado e no Cidade de Niterói. Político brasileiro. Em 2002 foi eleito deputado federal pelo estado do Rio e reeleito em 2006.