No último dia 7 de julho, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cruzou uma linha perigosa nas relações internacionais. Em sua rede social oficial, declarou que o ex-presidente Jair Bolsonaro “não é culpado de nada” e exigiu que as autoridades brasileiras “deixem Bolsonaro em paz”, numa clara referência ao julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal sobre a tentativa de golpe de Estado no Brasil. A manifestação, vinda de um chefe de Estado em exercício, não pode ser tratada como mera opinião. É uma grave interferência externa e um desrespeito explícito à soberania brasileira.
Trump não falou como cidadão comum, mas como líder da maior potência do planeta, com todo o peso institucional e simbólico que seu cargo representa. Ao atacar o Supremo Tribunal Federal e tentar deslegitimar um julgamento conduzido com base em provas, ele não apenas ofende a independência dos Poderes brasileiros, ele desafia o próprio Estado Democrático de Direito garantido pela Constituição de 1988.
Nosso ordenamento jurídico é claro, o artigo 4º da Constituição estabelece como fundamento da política externa brasileira o respeito à soberania, à autodeterminação dos povos e à não intervenção. Esses princípios não são protocolares, são cláusulas essenciais da convivência internacional. A declaração de Trump viola todos eles.
O julgamento de Jair Bolsonaro não é perseguição política, é consequência jurídica de atos concretos que ameaçaram a ordem democrática, com envolvimento de civis e militares em uma tentativa orquestrada de ruptura institucional. Defender Bolsonaro como vítima de “caça às bruxas” é manipular a verdade, distorcer os fatos e transformar um réu em mártir, uma tática típica dos regimes autoritários que Trump e Bolsonaro flertam há tempos.
Ao agir assim, Trump não está apenas protegendo um aliado, está defendendo a si mesmo. A retórica que compartilha com Bolsonaro contra a imprensa, contra os tribunais, contra as instituições, revela uma aliança transnacional entre líderes populistas autoritários que tentam deslegitimar as democracias por dentro. A crítica ao STF brasileiro também é um recado aos eleitores americanos: se a Justiça tenta responsabilizá-lo, é porque o sistema é corrupto.
A escalada unilateral de Donald Trump, representa um dos mais agressivos ataques já vistos à soberania brasileira em tempos democráticos. Hoje, 09 de julho de 2025, em carta oficial endereçada ao presidente Lula e publicada em rede social, Trump anunciou, de forma arbitrária e intimidatória, a imposição de tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros, como represália ao julgamento de Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal.
Na mesma carta, atacou abertamente o STF, acusando-o de censura, abuso de autoridade e perseguição política, em uma demonstração clara de ignorância, prepotência e desprezo pelo sistema jurídico brasileiro. Mais do que uma ingerência, trata-se de um gesto autoritário típico de quem desconhece, ou despreza, os fundamentos do Direito Internacional, a autodeterminação dos povos e a independência entre os Poderes.
Trump não apenas ultrapassa os limites diplomáticos aceitáveis; ele os destrói deliberadamente. Sua carta é recheada de aberrações jurídicas e políticas, como a ameaça de acionar a Seção 301, uma ferramenta comercial americana criada para lidar com concorrência desleal, agora distorcida para justificar retaliação política contra um país soberano. Essa atitude mostra total desrespeito à Constituição brasileira, que garante um Judiciário autônomo e responsável por zelar pela ordem democrática e desconsidera que o julgamento de Bolsonaro se dá dentro das normas do devido processo legal. Trump age como imperador de uma potência mundial e não como o presidente de uma república democrática. Seu recado não é só ao Brasil é ao mundo, ele não reconhece instituições que não se submetem à sua vontade.
Essa visão é tóxica e representa uma ameaça direta às democracias do mundo. O governo brasileiro reagiu corretamente: a Advocacia-Geral da União afirmou que o país não aceitará tutelas estrangeiras, e o presidente Lula foi enfático ao declarar que “o Brasil é um país soberano, com instituições sólidas, e não aceitará ingerência de ninguém.” Mas isso não basta. O Ministério das Relações Exteriores deve se manifestar publicamente de forma firme e diplomática, o Congresso Nacional precisa expressar seu repúdio institucional e o Supremo Tribunal Federal deve reafirmar sua autoridade e independência, demonstrando que a Justiça brasileira não se curva a pressões externas, nem mesmo quando partem da Casa Branca.
O Brasil tem memória, já viveu o arbítrio, a censura e o exílio. A democracia brasileira foi conquistada com muito custo e está sendo posta à prova. Justamente agora, quando enfrenta os resquícios de um golpe malogrado, não pode tolerar que um presidente estrangeiro tente ditar as regras do nosso processo legal. Soberania não se negocia e nem se tarifa.
Bernardo Ariston é graduado em Direito, Jornalista e Radialista. Comentarista Político da Rádio Litoral Fm, colunista no Jornal de Sábado e no Cidade de Niterói. Político brasileiro. Em 2002 foi eleito deputado federal pelo estado do Rio e reeleito em 2006.
Bernardo Ariston é graduado em Direito, Jornalista e Radialista. Comentarista Político da Rádio Litoral Fm, colunista no Jornal de Sábado e no Cidade de Niterói. Político brasileiro. Em 2002 foi eleito deputado federal pelo estado do Rio e reeleito em 2006.