
A recente sessão da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), marcada pelo embate entre o presidente Rodrigo Bacellar e o deputado Rosenverg Reis, ultrapassou os limites de um conflito pontual. O episódio escancarou uma disputa mais profunda entre modelos distintos de liderança, visões divergentes sobre gestão pública e, sobretudo, um reposicionamento em curso no tabuleiro político fluminense.
No centro da controvérsia está o secretário estadual de Transportes, Washington Reis, figura com trajetória consolidada e base popular robusta na Baixada Fluminense. Ex-prefeito de Duque de Caxias, ex-deputado federal, e atual dirigente de uma das pastas mais sensíveis do governo estadual, Reis tem adotado um estilo direto, operacional e, para muitos, ousado. A recente decisão de reduzir as tarifas de trens e metrô, sem amarras burocráticas ou hesitação política, foi emblemática. Tocou diretamente na vida de quem depende do transporte público para sobreviver e provocou reações.
A Alerj reagiu com um requerimento de convocação, aprovado por ampla maioria, mas o debate que se seguiu revelou mais do que preocupação institucional: mostrou o incômodo diante do protagonismo crescente de Reis. A frase disparada por Bacellar — “não me confunda com Cláudio Castro” — escancarou uma cisão interna entre forças que até aqui dividiam o mesmo campo. Não foi apenas um desentendimento; foi uma ruptura simbólica.
Em política, gestos importam. E o gesto de Washington Reis, ao mexer na estrutura de preços do transporte público, foi interpretado por muitos como um lance pré-eleitoral. Mas não há crime algum nisso, ao contrário, trata-se do exercício legítimo de um projeto político que aposta na ação concreta e no diálogo com a base popular.
Reis tem demonstrado habilidade em construir pontes, inclusive com lideranças estratégicas como o prefeito do Rio, Eduardo Paes, com quem compartilha uma visão moderna de gestão pública e sensibilidade social. A hipótese de uma aliança entre esses dois nomes, ainda que não oficialmente declarada, paira como uma possibilidade natural diante do vácuo de lideranças capazes de unificar o Estado em torno de pautas reais.
Enquanto alguns parlamentares reagem com agressividade, talvez pela ameaça que sentem diante de uma nova liderança em ascensão, a população assiste com clareza ao que está em jogo: quem fala em nome do povo é quem fala em nome do poder.
Rodrigo Bacellar, presidente da Alerj, tem seus mérito, é articulado, tem força institucional e consolidou uma base sólida no Legislativo, mas ao reagir com dureza à iniciativa de Reis, pode ter contribuído, ainda que involuntariamente, para elevar seu antagonista à condição de protagonista.
O que está em disputa no Rio não é apenas uma convocação de secretário, mas um modelo de futuro. De um lado, a política que se ancora no regimento e na liturgia do cargo e do outro, uma política que aposta na entrega e na conexão com as ruas.
Washington Reis parece disposto a conduzir essa travessia e se, ao longo desse processo, encontrar em Eduardo Paes um parceiro com visão semelhante de Estado, não será surpresa se essa união se transformar em uma força política relevante nas eleições de 2026.
Neste momento, mais do que julgar intenções, cabe observar os movimentos e há algo que a história sempre ensina: os líderes que saem do confronto de cabeça erguida e com o povo ao lado costumam ser os que chegam mais longe.

Bernardo Ariston é graduado em Direito, Jornalista e Radialista. Comentarista Político da Rádio Litoral Fm, colunista no Jornal de Sábado e no Cidade de Niterói. Político brasileiro. Em 2002 foi eleito deputado federal pelo estado do Rio e reeleito em 2006.
Bernardo Ariston é graduado em Direito, Jornalista e Radialista. Comentarista Político da Rádio Litoral Fm, colunista no Jornal de Sábado e no Cidade de Niterói. Político brasileiro. Em 2002 foi eleito deputado federal pelo estado do Rio e reeleito em 2006.