
A Coordenação dos Programas de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da UFRJ iniciou oficialmente, na última terça-feira (4), os estudos técnicos para a futura implantação da Linha 3 do Metrô do Rio de Janeiro.
A proposta prevê a ligação entre os municípios de São Gonçalo, Niterói, Itaboraí e o Centro do Rio, com financiamento inicial de R$ 26 milhões, oriundos de emendas parlamentares federais. O valor será repassado em três parcelas — e a primeira já foi recebida.
O prazo para conclusão do estudo é de 30 meses. A iniciativa parte de uma solicitação do governo federal e foi confirmada por reportagem do jornal O Globo.
Traçado estratégico e impacto social em estudo
Segundo a Coppe, o objetivo central é fornecer uma base sólida para decisões técnicas e estratégicas sobre o traçado, viabilidade econômica e os impactos sociais da nova linha. A proposta também faz parte da agenda dos prefeitos Eduardo Paes (Rio de Janeiro) e Rodrigo Neves (Niterói), que defendem o projeto como uma das condições para sediar os Jogos Pan-Americanos de 2031.
O estudo é coordenado pelo professor Rômulo Orrico, do Programa de Engenharia de Transportes (PET). Ele ressaltou que o projeto analisará oito versões anteriores do traçado, incluindo uma proposta de 1960 elaborada na gestão de Negrão de Lima (ex-governador da Guanabara).
“Não estamos presos a traçados antigos. Vamos analisar todos, mas o foco é entregar as melhores análises técnicas para que os gestores decidam”, afirmou Orrico.
Desafios: falta de dados e dinâmica urbana
Entre os principais desafios apontados pelo coordenador estão o apagão de dados de mobilidade urbana e as transformações geográficas da Região Metropolitana. Ele citou, por exemplo, como Duque de Caxias deixou de ser cidade-dormitório e ganhou protagonismo regional.
Orrico destacou ainda a relevância da ligação Niterói–São Gonçalo, considerada pelo IBGE como a segunda maior conexão intermunicipal do Brasil em volume de deslocamentos, ficando atrás apenas do eixo São Paulo–Guarulhos.
“Estamos diante de uma cidade complexa. Niterói não é um subúrbio do Rio, e São Gonçalo exige um olhar técnico atento. Precisamos de um estudo robusto”, completou.
Histórico: promessas e atrasos desde 1968
O projeto da Linha 3 do Metrô é discutido há mais de cinco décadas. Em 1968, a primeira versão foi proposta pelo governo estadual. Em 2000, um estudo do BNDES comprovou a viabilidade de um túnel subterrâneo ligando o Centro do Rio (Estação Carioca) a Guaxindiba, em São Gonçalo, com capacidade estimada para 750 mil passageiros/dia.
Já em 2010, o Tribunal de Contas da União (TCU) identificou irregularidades nos estudos topográficos e geológicos do lote 2 (entre Niterói e Guaxindiba), que custaram R$ 62,5 milhões. A obra foi suspensa por uso indevido de verbas federais.
Em 2013, o governo federal chegou a anunciar recursos para um sistema de monotrilho com 14 estações, com previsão de conclusão em 2016. O custo total projetado em 2015 era de US$ 2,57 bilhões, incluindo um túnel subaquático sob a Baía de Guanabara, entre a Estação Carioca (Centro do Rio) e a Estação Arariboia (Niterói), avançando até Guaxindiba, totalizando 21 km de extensão.
Experiência técnica e inovação
Entre os projetos notáveis do PET/Coppe liderados por Orrico estão:
- A sincronização automática de semáforos no Rio (anos 1990)
- O desenvolvimento de uma planta-piloto de hidrogênio verde (2023)
- Os estudos para o metrô de Salvador
O coordenador evitou comentar sobre custos ou itinerários neste estágio:
“É muito cedo para estimar valores. O trabalho técnico está apenas começando.”