Rio de Janeiro - O Opel Kadett 1968, que por mais de 20 anos ficou esquecido em uma garagem de São Paulo, ganhou uma nova vida e se tornou um ícone do cinema mundial. O modelo, que foi restaurado e usado no filme “Ainda Estou Aqui”, teve um papel de destaque na produção brasileira que venceu o Oscar de Melhor Filme Internacional. Agora, o carro está em exposição no Dream Car Museum, em São Roque (SP), até o dia 17 de março, antes de ser leiloado no dia 22.
Uma jornada do esquecimento à glória
O veículo, que hoje se destaca com sua pintura vermelha marcante, nem sempre teve essa aparência. Originalmente, o Kadett era amarelo com teto preto de vinil. Após passar anos parado, sofrendo com ferrugem e umidade, foi adquirido por um colecionador gaúcho, que restaurou completamente o carro. A transformação foi tão impressionante que rendeu ao veículo um prêmio na Expoclassic, o maior evento de carros antigos em área coberta do Brasil, realizado em Novo Hamburgo (RS).
O carro, que se acredita ter sido importado ainda zero-quilômetro da Alemanha para o Brasil, foi encontrado pelo colecionador Ricardo Antônio Amoedo, conhecido como Ricardo Jacó, na década de 1990. Ele adquiriu o veículo de um barbeiro em São Paulo por R$ 1,5 mil. Porém, após utilizá-lo por um tempo, o deixou esquecido na garagem.
Em 2015, um colecionador do Rio Grande do Sul resgatou o Kadett e, três meses depois, ele foi comprado pelo médico Alexandre Gireli Colcete, vice-presidente financeiro do Veteran Car Club Novo Hamburgo. O carro passou por uma restauração completa, incluindo nova pintura e mecânica revisada, mas mantendo o interior original em excelente estado.
O Kadett no cinema
O Kadett Opel 1968 entrou para o mundo do cinema em 2023, quando foi escolhido para integrar a produção do filme “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles. O carro foi selecionado pelo empresário Fábio Costa Martins, dono da empresa Veículos de Cena, especializada no aluguel de automóveis para produções de TV e cinema.
O modelo precisava ser vermelho, exigência da produção do filme. Em apenas cinco dias, o carro foi desmontado, pintado e montado novamente. Além da mudança estética, foram feitas melhorias para reduzir ruídos, atendendo ao alto padrão de exigência do diretor.
As gravações começaram em junho de 2023, no Rio de Janeiro, e o veículo permaneceu à disposição da equipe por sete meses. O Kadett aparece em várias cenas importantes, incluindo o momento emblemático em que Rubens Paiva (Selton Mello) sai para dirigir pela última vez. Ele também foi conduzido pela atriz Fernanda Torres, que interpreta Eunice Paiva.
Após o fim das filmagens, foi necessária uma sessão extra para gravação de sons essenciais, como o ligar do motor e o fechamento das portas, usados na edição do longa-metragem.
Exposição e leilão
Atualmente, o Kadett Opel ocupa uma posição de destaque no Dream Car Museum, na ilha central rotativa, permitindo que os visitantes o fotografem e filmem. O espaço ainda conta com réplicas de quatro Batmóveis e tributos a filmes como “Carros” e “Speed Racer”.
No entanto, o carro permanecerá no museu apenas até o dia 17 de março. No dia 22, ele será leiloado, e a expectativa é que seu valor ultrapasse R$ 300 mil, superando até mesmo esportivos de luxo.
Para um carro que passou décadas esquecido, seu destino se transformou completamente: de um modelo condenado à ferrugem para uma estrela do cinema e do colecionismo.