Niterói - Pesquisadores do Núcleo de Pesquisas Arqueológicas Indígenas (NuPAI), da Uerj, realizaram importantes descobertas no Complexo Arqueológico Lagoa de Itaipu, em Niterói, evidenciando ocupações humanas que remontam a até 8 mil anos. As escavações, iniciadas em 2022 e concluídas em dezembro de 2024, trouxeram novos insights sobre a história dos povos que habitaram a região, fortalecendo o entendimento sobre a temporalidade e conexão entre os sítios arqueológicos locais.
Exploração e significado
De acordo com o professor Anderson Marques Garcia, coordenador do NuPAI, o objetivo principal é ampliar o conhecimento sobre os povos originários da Região Oceânica de Niterói e fomentar a educação patrimonial. O Complexo Arqueológico Lagoa de Itaipu, considerado o mais antigo do estado do Rio de Janeiro, está dividido em cinco áreas principais: Duna Grande, Duna Pequena, Sambaqui de Camboinhas, Restinga e Jacuné.
As evidências sugerem que a Lagoa de Itaipu foi o centro da vida social desses antigos habitantes. “Costumávamos acreditar que alguns desses locais seriam sítios mais recentes, e outros seriam mais antigos. Agora percebemos que, mesmo nos locais que pareciam mais recentes, encontramos artefatos com datas antigas, e, nos locais que pareciam mais antigos, também verificamos artefatos com datas recentes, evidenciando que a ocupação se deu em todo o entorno da lagoa ao longo do tempo”, comenta Garcia.
Achados arqueológicos
Os pesquisadores escavaram profundidades de até um metro e encontraram artefatos significativos, como ferramentas de quartzo usadas para cortar alimentos, conchas de bivalves, dentes de tubarão e ossos de arraias e peixes, indicando hábitos alimentares da época. Um dos achados mais raros foi uma mão de mó, que se encaixa perfeitamente em um almofariz descoberto na década de 1960. “É uma descoberta única no Brasil”, celebra Garcia.
A comunidade local e o Museu de Arqueologia de Itaipu têm desempenhado um papel crucial na preservação do local. O projeto conta com uma equipe multidisciplinar de especialistas da Uerj, UFF, Fiocruz e UFRJ, incluindo profissionais de áreas como zooarqueologia, geoarqueologia e análise de ossos humanos.
“Minha especialidade é a tecnologia lítica, ou seja, o estudo de artefatos de pedra lascada e polida. Temos dois laboratórios no Departamento de Arqueologia da Uerj, onde realizamos a higienização dos materiais e análises tecnológicas usando lupas. Além disso, contamos com parcerias externas, como laboratórios de Geologia e Física, para análises mais específicas. Um dos principais parceiros é o laboratório da UFF. Essa diversidade institucional e de conhecimentos tem sido essencial para o avanço do projeto”, ressalta Garcia.
Educação e tecnologia
Além das escavações, o projeto prioriza o diálogo com a sociedade, promovendo visitas escolares, publicações acessíveis e exposições virtuais. Uma iniciativa em andamento é a digitalização 3D de artefatos, que permitirá ao público interagir com as descobertas por meio do site do Museu de Itaipu.
Os trabalhos também têm sido um laboratório para os alunos de graduação em Arqueologia da Uerj, que aprendem técnicas de identificação de artefatos e documentação.
Próximos passos
Em 2025, as escavações devem continuar com o uso de tecnologias avançadas, como escavadeiras articuladas, para explorar áreas subsuperficiais ao norte da lagoa e nas ilhas próximas: Ilha da Menina, Ilha da Mãe e Ilha do Pai. “Em 2025, planejamos continuar o trabalho de campo, utilizando escavadeiras articuladas para investigar áreas subsuperficiais, em pontos ao norte da lagoa, e também as ilhas, na busca por mais evidências de ocupação”, conclui Garcia.