Nova Música

Niterói precisa conhecer o talento musical de João Ramalho

Não só pelo DNA, cantor e compositor da cidade mostra qualidade em seu primeiro trabalho autoral

João Ramalho/Divulgação
João Ramalho/Divulgação

Quinze anos após atacar em todas as melhores casas noturnas e festas de Niterói e arredores, com sua banda JPG – nome que veio da abreviatura de seus então integrantes João, Phil e Gema – o cantor e compositor João Ramalho lançou recentemente o seu primeiro single autoral. ‘Merci’ é a faixa, que já pode ser encontrada em todos os aplicativos de música – e deu origem ao seu EP digital. O clipe está aqui:

João Collares Ramalho é filho de dois grandes ícones da MPB, Zé Ramalho e Amelinha, mas nunca se valeu disso para impulsionar sua carreira. Nascido em 22 de agosto de 1979 em Fortaleza, onde seus pais moravam na época, o músico quebrou algumas baterias de brinquedo e acabou ganhando de presente uma guitarrinha, com a qual se apresentou nas festas de casa. João estava na barriga da mãe na foto de capa do álbum “Frevo Mulher”. Adorava se mostrar com a guitarrinha aos amigos dos pais – inclusive aos integrantes da Seleção Brasileia de 1982 em um encontro logo após a Copa do Mundo realizada na Espanha. Como se não bastasse a filiação, ele ainda foi batizado pelo cantor e compositor Raimundo Fagner.

Sua maior inspiração, quando criança, era o guitarrista Robertinho de Recife (ainda hoje uma grande influência). Na medida em que foi crescendo – e se mudando para o Rio e, na adolescência, para Niterói – João foi absorvendo uma série de referências que acabaram ajudando na formação do seu gosto musical. Aos 15 anos, ganhou do pai o seu primeiro violão e começou a tocar hits de nomes como Lulu Santos. Voz e violão oficial dos recreios da escola, João Ramalho acabou convidado a fazer shows em barzinhos aos 21. 

Seu som carrega referências, mas não inspira comparações. Com timbre grave, mas nem tanto e com excepcional afinação, João Ramalho caminha de forma independente junto ao pop, misturando gêneros que permearam suas vivências nos palcos e em suas casas. Desde a de Fortaleza, onde nasceu, até a de Niterói, onde mora há anos, passando pelas do seu pai, no Rio e em João Pessoa. 

“Acho que chegou a hora de dar continuidade a esse legado. Antes, parecia não fazer sentido eu querer ser o João Ramalho. Hoje, tenho um conjunto de camadas que me levaram a ter mais confiança para iniciar uma carreira solo”, disse João. “Ser filho deles só me ajudou, mas tem a responsa, né? Meu pai é o cara dos conselhos e minha mãe, a pessoa da fé. Ela sempre torceu por esse momento, porque desde criança eu gostava de aparecer nas festas deles com a minha guitarrinha de brinquedo. Meu pai fala coisas como: ‘Se passar um fio de cabelo de oportunidade, agarra e vai com ele’. Ela é otimista, ele nem tanto. O equilíbrio coloca meu pé no chão”, completou.

Antes de preparar seu primeiro trabalho, tocou com o pai no DVD “Tá Tudo Mudando – Zé Ramalho Canta Bob Dylan”, apresentou-se algumas vezes ao lado de Amelinha e gravou “Noite Preta” e “Beira-Mar” para o projeto “40 Anos Remake Pop Rock” dos álbuns “Zé Ramalho” e “A Peleja do Diabo com o Dono do Céu”. É influenciado por nomes internacionais como Jack Johnson e Ben Harper.

Sobre a faixa ‘Merci’

O nome da música já indica que a inspiração não é daqui. A letra também: “Você não é daqui / Mas vem de um lugar bom”, canta João na primeira estrofe. E de fato a musa é uma atriz franco-brasileira – por isso as referências a Chandon e aos personagens Cyrano e Roxane da peça “Cyrano de Bergerac” – que João conheceu cerca de 15 anos atrás. Ele compôs e engavetou a música, ainda maturando sua persona musical.

“O pai era francês e a mãe, baiana. Na época, ela surfava e era atriz, e optou por morar no Brasil por causa do clima quente. Por isso os versos: ‘Ela vem pelo sol / Sempre quis o verão / Veja bem, ela vem / Bronzeando a pele forasteira’. Chandon é uma licença poética, já que sua cidade tinha outro nome menos conhecido”, conta João.

“Merci” é um pop praiano, com muitas pitadas de reggae, gravado por uma banda de peso: Guilherme Schwab(arranjo, vocal, violão, guitarra, e guitarra slide), Lancaster Lopes (baixo), Renan Martins (bateria), Jonavo(bandolim), Jorge Continentino (sax), Marlon Sette(trombone), Diogo Gomes (trompete) e Ge Fonseca (teclado).  A direção musical é também de dois grandes nomes da nova MPB, o niteroiense Guilherme Schwab e o campo-grandense Jonavo. Schwab ganhou um Grammy quando integrava a banda Suricato e hoje é requisitado por Leo Jaime, Baby do Brasil e muitos outros, além de ter um belo trabalho autoral. Jonavo é cantor, compositor, ex-integrante da banda Folk na Kombi, já fez turnê nos EUA e gravou com nomes como Renato Teixeira.

A Banda JPG

A banda cover niteroiense JPG já completou 14 anos eagora é uma dupla. Continua sua carreira normalmente e a atual formação traz João Ramalho (voz, programação, violão e guitarra) & Eduardo Gema (Cajón).

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