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Hospital Antônio Pedro realiza homenagem em sexagenário do incêndio do Gran Circus

Hospital Antônio Pedro realiza homenagem em sexagenário do incêndio do Gran Circus

Encontro contou com a presença de sobreviventes e profissionais que atuaram no socorro às vítimas da tragédia

Nesta sexta-feira (17), o incêndio do Gran Circus Norte-Americano, que vitimou 503 pessoas e deixou mais de 800 feridas, completa 60 anos. À época, o Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP/Ebserh) estava fechado em definitivo. Por conta do tamanho da tragédia, as portas foram reabertas e, com isso, o hospital foi cedido à Universidade Federal Fluminense (UFF). Para marcar o sexagenário, foi realizado um encontro em homenagem aos que perderam a vida e aos que atuaram no socorro às vítimas em 1961.

– A lembrança não deve ser apagada só porque foi uma tragédia. Uma palavra muito repetida é solidariedade em prol dos necessitados. Foi uma tragédia que acabou levando à reabertura de um hospital que era importante à época, é importante hoje e continuará sendo importante no futuro. E quis a UFF tornar o Hospital Municipal Antônio Pedro em Universitário, prestando um relevante serviço para a comunidade. Não podemos perder a noção do passado, para que possamos viver o presente e pensar o futuro -, comentou o superintendente do HUAP, Tarcisio Rivello.

A organização foi da Superintendência do hospital e da Gerência de Ensino e Pesquisa (GEP), com apoio da UFF. Além de Tarcisio, de profissionais que atuaram no dia da tragédia e de um sobrevivente que estava no circo, também marcaram presença: o reitor da universidade, Antonio Claudio Lucas da Nóbrega; o diretor da Faculdade de Medicina, Adauto Barbosa; o gerente de Ensino e Pesquisa, Beni Olej; e o coordenador geral da residência médica, Wolney Martins. Dentre os convidados, Alcir Vicente Visela Chacar, formando daquele ano, contou um pouco o que viveu:

– Naquele dia, fui acordado pela mesma pessoa que me acordou em 1956 dizendo que passei no vestibular de medicina, mas dessa vez para falar que uma tragédia havia acontecido. Eu não era mais estudante, agora eu seria médico. Saí correndo, cheguei ao Antônio Pedro e a população me jogou para dentro do hospital. Estava um calor terrível, cheiro forte de queimado e muitas crianças no chão. Nos 9 meses seguintes, permaneci no hospital ajudando nos curativos. Não poderíamos deixar de fazer o reconhecimento dessa turma de 1961.

Autor de livro sobre a tragédia compartilha histórias e processo de criação da obra

Um momento marcante do encontro foi quando o autor do livro O Espetáculo Mais Triste da Terra, que conta como foi a tragédia, participou lembrando histórias e falando sobre o processo de criação da obra. O jornalista Mauro Ventura escreveu o livro em 2011 e, dez anos após seu lançamento, em 2021, teve a oportunidade de reimprimi-lo e autografar cópias para os presentes. Segundo Mauro, foi emocionante reencontrar algumas das pessoas que entrevistou e outras que ainda não conhecia:

– Elas fazem parte de uma história que marcou não só os niteroienses, como a mim também. Foi a minha estreia na literatura, e eu acabei conhecendo, através desse livro, algumas das pessoas mais admiráveis que pude ver na vida. Fazer esse livro me custou muito emocionalmente, mas me deixou feliz resgatar essa história. Ele se esgotou em pouco tempo, e, durante todos esses anos, houve uma cobrança das pessoas para que eu reimprimisse. Acho importante a gente relembrar, por mais trágico que tenha sido, para que a gente não repita e possa viver um futuro melhor.

O objetivo do encontro foi, principalmente, relembrar a influência do incêndio no destino do HUAP, além de rememorar o fato histórico e, através dele, refletir sobre o sentimento que aproximou alunos, professores, profissionais e gestores. “Esse encontro foi para celebrar a solidariedade pública da época, rememorando o sentimento que uniu toda a comunidade, além de resgatar essa história para as novas gerações”, explicou Wolney Martins. As palavras foram reforçadas pelo reitor Antonio Claudio Lucas da Nóbrega em seu discurso de encerramento:

– Quero fazer um registro do olhar da universidade para esse momento trágico da história de Niterói. A cidade tem nesse episódio do circo uma marca que nos une e aproxima. Houve um sentimento coletivo de municipalidade. O papel da universidade diante de tragédias, como essa e como a da Covid-19, é no compromisso de formar profissionais e criar soluções de problemas da sociedade. Quero, por fim, agradecer o compartilhamento das histórias, me emocionaram muito.

Para aqueles que têm interesse em comprar o livro, agora reimpresso, O Espetáculo Mais Triste da Terra, de Mauro Ventura, é possível encontra-lo em livrarias físicas e online, além de outros sites de venda de livros.