Direito

Precisamos falar sobre Paulo Gustavo e as Fake News - Por Bruna Cupolillo Vaz

Precisamos falar sobre Paulo Gustavo e as Fake News - Por Bruna Cupolillo Vaz

O ator Paulo Gustavo ficou internado em estado grave por causa da covid-19. Por ser uma pessoa querida, havia forte expectativa quanto à sua melhora, contudo, infelizmente, veio a óbito. O problema é que durante o período de internação surgiram falsas notícias sobre a sua morte, espalhadas pelas redes sociais.

A internet ao mesmo tempo que é valiosa, é perigosa. Valiosa porque podemos, de forma instantânea, obter informações. Perigosa porque nem tudo é verdade, e parece que nos últimos anos, devido à facilidade ao acesso, notícias muitas vezes infundadas passaram a ser mais repassadas. A mentira, apesar de ser negativa, traz consigo a dualidade de beneficiar ou prejudicar alguém.

Em 1994 funcionários da “Escola Base” foram acusadas de abusar sexualmente de crianças. O caso repercutiu muito na imprensa, e pouco tempo depois foi arquivado por falta de provas. Durante esse período integrantes da escola, inclusive os proprietários, sofreram ameaças, assim como o local foi depredado.

Em 2014 uma mulher foi espancada até a morte no Guarujá após um boato local sobre sequestro e bruxaria com crianças. Algumas pessoas associaram a moça à suposta sequestradora, e quando a encontraram tiraram sem pena, com chutes, socos e pauladas, a sua vida. Detalhe: carregava uma Bíblia e voltava da igreja quando foi atacada. Morreu e deixou duas filhas, uma delas com um ano de idade.

Até que ponto cabe a nós, leitores, compartilharmos uma notícia, no calor da emoção, e sem pensar se ela é verdadeira? Será que paramos para pensar nas consequências de um simples envio de manchete que, sequer, verificamos a fonte?

Muitas vezes uma comoção popular nasce de uma mentira. Para quem repassa a informação, a vida continua, mas será que a reputação dos proprietários da escola caiu no esquecimento? Será que valeu a pena para uma jovem mãe perder a vida porque um boato foi espalhado?

Da mesma forma vale a reflexão: o quão atormentada ficou a família do Paulo Gustavo ao receber inúmeras e constantes informações de que ele havia morrido enquanto ainda lutava contra a doença? Já não bastavam viver sob a expectativa de uma melhora, ler ou ouvir notícias o tempo todo sobre a sua morte foi cruel e doloroso.

A intenção ao compartilhar uma notícia pode ser ótima, seja ela qual for, mas as pessoas esquecem que nem tudo é verdade, que a internet, apesar de ser uma fonte inesgotável de informações, não é 100% confiável, e que uma mentira bem divulgada pode acabar com uma reputação ou causar um abalo psicológico irreparável.

“Fake News” não são crimes, mas serão se houver calúnia, injúria ou difamação. Você pode chamar alguém de assassino, mesmo que a pessoa não tenha matado ninguém. Você, além de espalhar uma inverdade, estará cometendo o crime de calúnia.

A questão não é deixar de compartilhar, e sim ter responsabilidade, respeito e bom senso. Ter essa prudência pode evitar muitos desgastes sociais e mentais. Busque fontes confiáveis, e caso fique em dúvida, reflita: “o que eu vou ganhar e o que eu posso causar espalhando uma notícia que eu nem sei se é verdade?”

Bruna Cupolillo Vaz é Advogada e Delegada da Comissão OAB Jovem Niterói