Cultura

Sonia Gomes e Jaime Lauriano abrem exposições, no MAC Niterói

Sonia Gomes e Jaime Lauriano abrem exposições, no MAC Niterói

O Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC) abre duas novas exposições, no dia 11 de agosto, sábado, às 14h. São elas: “A vida renasce, sempre”, primeira individual em um museu da artista brasileira Sonia Gomes; e “Brinquedo de furar moletom”, de Jaime Lauriano, onde o artista utiliza ferro das balas usadas pela polícia militar do Rio de Janeiro para fazer as suas miniaturas. A curadoria é de Pablo León de la Barra e Raphael Fonseca.

Sobre as exposições:

– “A Vida renasce, sempre” – a mostra, que ocupará o Salão Principal do museu, vai apresentar ao público cerca de 40 trabalhos, realizados nos últimos 20 anos por Sonia Gomes – indicada ao Prêmio pipa em 2012 e 2016. Desenhos sobre papel, tecido e madeira, intervenções em livros, objetos domésticos e de trabalho, assim como exemplos das diferentes séries de trabalho que a artista desenvolveu ao longo da sua carreira, como os panos, torções e pendentes estarão entre as obras selecionadas para a exposição no MAC Niterói. Suas esculturas são construídas a partir de tecidos e outros objetos encontrados, torcidos, amarrados e manipulados até se transformarem em tramas espaciais complexas. Tem como procedimento a desconstrução das técnicas de manufatura de tecidos, eliminando qualquer finalidade de uso desses materiais. Suas obras remetem, pelas cores, estamparias e até técnicas empregadas, a um universo íntimo ligado à memória familiar e à identidade racial e cultural da artista, além de estarem relacionadas à sua cidade natal, Caetanópolis, importante centro mineiro de indústria têxtil. Entre o popular e o erudito, o mundo da artista mineira liga o espectador a uma poderosa tradição brasileira, que transforma materiais instáveis e difíceis em arte permanente e contemporânea na trama extremamente inventiva de suas colagens e construções. Única brasileira na mostra principal da 56ª Bienal de Veneza, em 2015, Sonia Gomes expôs pela primeira vez aos 46 anos. Depois, não parou mais. Aos 70 anos, trabalha todos os dias. Uma grande oportunidade de o público conhecer o trabalho desta grande artista, que através do tecido e de sua obra, também escreve, estrutura, dá forma e reivindica as vozes e presenças das minorias silenciadas, em especial àquela das mulheres negras no Brasil.

 

– “Brinquedo de furar moletom” – a mostra pensa – assim como as exposições anteriores desenvolvidas na varanda do MAC Niterói – no lugar preciso que o museu ocupa: sua vista privilegiada para a Baía de Guanabara. Tendo em mente suas pesquisas sobre mapas coloniais e sobre a história da violência no Brasil, o artista Jaime Lauriano propõe, por meio de tijolos portugueses, uma espécie de barricada/torre de observação da paisagem. Acima desse longo muro que ocupa três galerias do espaço, miniaturas de transportes relacionados ao militarismo, à defesa e à violência. Três caravelas, um tanque de guerra, um avião de guerra e 27 miniaturas de carros da polícia militar pousam sobre os tijolos como se estivesse a defender o espaço interno do museu. As miniaturas desses carros representam as vinte e sete capitais do Brasil e tiveram seus modelos extraídos de modelos de automóveis comumente utilizados pela instituição: o caveirão (Rio de Janeiro), a base móvel da Polícia Militar de São Paulo e quatro modelos populares (Palio, Gol, Fiat Uno e pick-up). As miniaturas são feitas do ferro das balas usadas pela polícia militar do Rio de Janeiro. O título da exposição foi retirado da música ‘Vida loka parte 1’, do célebre grupo paulistano de rap Racionais MCs. Do álbum ‘Nada como um dia após o outro dia’, de 2002, se trata de um verso que joga justamente com um dos elementos essenciais da proposta de Lauriano: os limites entre violência e infância, entre miniaturas de brinquedos e munição militar. Onde começa um e termina o outro? E, mais do que isso, como essa frase e as imagens criadas pelo artista, através de sua abertura de significados, serão lidas pelo público?

Sobre os artistas:

Sonia Gomes: (Caetanópolis, 1948), vive e trabalha em São Paulo. Seus trabalhos também foram inclusos em mostras coletivas institucionais como 56ª Biennale di Venezia, Veneza, Italia (2015); Entangled, Turner Contemporary, Margate, RU (2017); Revival, The National Museum of Women in the Arts, Washington, EUA (2017); Art & Textiles – Fabric as Material and Concept in Modern Art, Kunstmuseum Wolfsburg, Alemanha (2013); Out of Fashion. Textile in International Contemporary Art, Kunsten – Museum of Modern Art Aalborg, Dinamarca (2013). Orfã aos 4 anos da mãe e negra, o afeto está presente na arte dela – seja através de um objeto usado que ganha um novo significado, seja por meio de caixas de ‘coisas’ descartáveis que deixam no ateliê da artista. Foi professora de escola primária e se formou em direito. Em 1980, mudou-se para Belo Horizonte. Tendo um talento intuitivo para desenhar e tecer, em 1995, aos 47 anos, começou a cursar arte na escola Guignard onde foi estimulada a desenvolver uma narrativa própria. Nove anos depois, aos 56 anos, teve sua primeira exposição individual em uma galeria de arte. Em 2017, muda-se para São Paulo onde atualmente vive e trabalha. Apesar de entrar no mundo da arte já adulta, Sonia Gomes alcançou reconhecimento por desenvolver uma linguagem artística única no Brasil, que dialoga com a arte popular e a arte contemporânea a partir da construção de obras orgânicas feitas com restos de tecidos costurados, amarrados e trançados para dar vida e transformar-se em seu próprio trabalho. Neste sentido, o trabalho da artista apresenta novas possibilidades de vida a partir das sobras o daquilo que era considerado inútil. Após a primeira exposição em 1994, a artista cursou livremente disciplinas na Escola Guignard, UEMG e na UFMG e participa ativamente, desde então, de mostras solo e coletivas como as do Sesc Belenzinho em São Paulo e a X Bienal Nacional de Santos. Teve três obras compradas pelo baixista da banda irlandesa U2, Andy Clayton, que se encantou com o trabalho da artista.

Jaime Lauriano(São Paulo, 1985) vive e trabalha em São Paulo. Graduou-se pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, no ano de 2010. Entre suas exposições mais recentes, destacam-se as individuais: Assentamento, Galeria Lema, São Paulo, Brasil, 2017; Nessa terra, em se plantando, tudo dá, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil, 2015; Autorretrato em Branco sobre Preto, Galeria leme, São Paulo, Brasil, 2015; Impedimento, Centro Cultural São Paulo, São Paulo, Brasil, 2014; e as coletivas: Histórias Afro-Atlânticas, MASP e Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil, 2018; Agora somos todxs negrxs?, Associação Cultural Videobrasil, São Paulo, Brasil, 2017; Levantes, SESC Pinheiros, São Paulo, Brasil, 2017; Totemonumento, Galeria Leme, São Paulo, Brasil, 2016; 10TH Bamako Encouters, Museu Nacional, Bamako, Mali, 2015; Empresa Colonial, Caixa Cultural, São Paulo, Brasil, 2015; Tatu: futebol, adversidade e cultura da caatinga, Museu de Arte do Rio (MAR), Rio de Janeiro, Brasil, 2014; Taipa-Tapume, Galeria Leme, São Paulo, Brasil, 2014; Espaços Independentes: A Alma É O Segredo Do Negócio, Funarte, São Paulo, Brasil, 2013; possui trabalhos nas coleções públicas da Pinacoteca do Estado de São Paulo, e do MAR – Museu de Arte do Rio. Com trabalhos marcados por um exercício de síntese entre o conteúdo de suas pesquisas e estratégias de formalização, Jaime Lauriano nos convoca a examinar as estruturas de poder contidas na produção da História. Em peças audiovisuais, objetos e textos críticos, Lauriano evidencia como as violentas relações mantidas entre instituições de poder e controle do Estado – como polícias, presídios, embaixadas, fronteiras – e sujeitos moldam os processos de subjetivação da sociedade. Assim, sua produção busca trazer à superfície traumas históricos relegados ao passado, aos arquivos confinados, em uma proposta de revisão e reelaboração coletiva da História.

 

Serviço:

Abertura das exposições: “A vida renasce, sempre”, de Sonia Gomes, e “Brinquedo de furar moletom”, de Jaime Lauriano

Curadoria de Pablo Leon de La Barra e Raphael Fonseca

Dia 11 de agosto de 2018, sábado, das 14h às 16h

Local: MAC Niterói

Mirante da Boa Viagem, sem número

Em cartaz até 25 de novembro de 2018

Visitação: de terça a domingo, das 10h às 18h

A bilheteria fecha 15 minutos antes

Ingressos: R$ 10 (inteira). Estudantes, professores e pessoas acima de 60 anos pagam meia (R$ 5).  Entrada gratuita para estudantes da rede pública (ensino médio), crianças de até 7 anos, portadores de necessidades especiais, moradores ou nascidos em Niterói (com apresentação do comprovante de residência) e visitantes de bicicleta. Na quarta-feira, a entrada é gratuita para todos.

Informações: (21) 2620-2400